Prototipagem e tecnologias

Em: 1 de novembro de 2024

Tecnologia se faz com tecnologia. Tautologicamente, não se faz tecnologia sem o uso de tecnologia. Consideramos como tecnologia o encapsulamento de conhecimentos, o que significa que as tecnologias são conhecimentos aplicados, são formas de materialização do conhecimento. A razão dessas considerações é que os conhecimentos são de natureza extrafísicas, não podem ser apreendidos pelos sentidos. A prototipagem, como temos mostrado, é uma sequência de etapas que tem origem justamente na composição mental de uma arquitetura lógica (o conhecimento) que será representado de alguma forma, como nos desenhos técnicos e estruturas diagramáticas, para depois ser materializado fisicamente e que culmina com a prototipagem em suas diversas fases até que o protótipo possa ser considerado aprovado e alçado à posição de tecnologia ou produto final. Em todas as etapas e em cada atividade que as compõem podem ser utilizadas tecnologias. Há tecnologias para a atualização dos conhecimentos no campo mental, para a representação diagramática da tecnologia e assim por diante. Queremos aqui mostrar o uso das tecnologias sob o prisma dos problemas que normalmente aparecem no processo de prototipagem com o auxílio do chamado diagrama de Ishikawa.

A capacidade inventiva humana é limitada porque seus conhecimentos assim o são. Por esse motivo, falhas e erros são muito comuns ao longo de todas as etapas de geração de tecnologias. Essas falhas são decorrentes da falta de habilidade em lidar com determinadas situações inusitadas, imprudência, falta de treinamento específico, tanto de natureza técnica quanto conceitual e inúmeras outras. Em suma, há tecnologias que são utilizadas para amenizar ou eliminar a inabilidade e as consequências das atitudes humanas, como são os casos dos treinamentos (sim, treinar é transferir tecnologia), máquinas e equipamentos.

As máquinas e equipamentos são outro foco de utilização e aplicação tecnológica ao longo das etapas de prototipagem. Impressoras 3D, por exemplo, podem falhar na prototipagem aditiva da mesma forma que uma máquina de corte pode fazê-lo de maneira imprecisa e inadequada. A razão disso é que máquinas e equipamentos perdem suas funcionalidades por diversas razões, como são os casos da falta de manutenção de calibração. Por essas e outras razões há tecnologias passíveis de serem aplicadas para amainar ou eliminar os problemas relativos às máquinas e equipamentos utilizados na geração do protótipo.

Muitas vezes as falhas nos protótipos são decorrentes de alguma causa centrada no material que é utilizado. Entenda-se como material, nesse caso, todo tipo de recurso que vai ser manuseado e transformado em algum produto ou produto intermediário. Por exemplo, a argila é matéria-prima para vários tipos de protótipos, da mesma forma que os dados e informações para a inteligência artificial. Há tecnologias também para auxiliar os cientistas a lidarem com esses problemas.

Os métodos são outro foco muito comum de erros e falhas na prototipagem. Entenda-se como método a todo procedimento ou sequenciamento lógico de etapas aplicado para a geração de uma parte ou de todo o protótipo. Como a confecção dos protótipos representa, muitas vezes, um primeiro procedimento, ainda que previamente racionalizado, é muito comum que eles precisem ser aprimorados para que depois possam ser estabelecidos como procedimentos padrões. Há diversas tecnologias disponíveis que podem auxiliar neste sentido, desde os antigos PERT/CPM até os modernos procedimentos gerados com inteligência artificial.

As medições desempenham dois papéis essenciais no processo de prototipagem. O primeiro é o estabelecimento de padrões quantitativo-qualitativos que orientam as especificidades de cada protótipo em suas diversas fases. O segundo é a comparação entre o que foi estabelecido, o que foi padronizado, o que foi previsto e o que foi efetivamente realizado, produzido, gerado, prototipado. Há tecnologias que auxiliam no gerenciamento de padrões temporais, materiais, processuais, estruturais e assim por diante.

O meio ambiente ou ambiente operacional de prototipagem, assim como o ambiente onde a futura tecnologia vai ser utilizada, também provoca uma série de inadequações. A poluição e a poeira podem descalibrar máquinas e equipamentos muito sensíveis, da mesma forma que o calor, a iluminação e a falta de espaço físico adequados interferem nas pessoas e materiais que elas utilizam. Há tecnologias que conseguem, por exemplo, reduzir a quantidade de poeira no ar (especialmente nos casos provocados por máquinas e equipamentos de prototipagem), assim como equipamentos de proteção ambiental para serem utilizados em diversos tipos de ambientes.

A gestão é outro tipo de causa, infelizmente, muito comum na prototipagem. Geralmente isso é decorrente da suposição de que gerenciar é tomar conta de pessoas ou, no máximo, comandar. As principais causas das falhas gerenciais são decisões inadequadas, falta de liderança, omissões e questões técnicas específicas, como fluxo de caixa, MRP e outros. Há tecnologias gerenciais que eliminam as possibilidades dessas falhas.

A falta de manutenção de máquinas e equipamentos é o oitavo e último tipo de falhas e danos que geralmente acontecem durante as atividades de prototipagem. A manutenção irregular e inadequada também. De uma certa forma, o conhecimento obsoleto das pessoas também representa falta de manutenção. Há tecnologias que permitem tanto a programação quanto a realização automática da manutenção.

O uso das tecnologias no processo de prototipagem é direcionado, quase que exclusivamente, para a confecção do protótipo. É necessário, além disso, que elas sejam incorporadas na prevenção dos danos e falhas, assim como nas suas soluções e reparos. Afinal, quanto maior for a probabilidade de que o processo de geração de tecnologia seja executado sem paradas e interrupções, tanto maior a probabilidade de que o objetivo pretendido seja alcançado efetivamente.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
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