Muito embora se saiba (ou se admita) que o tempo é algo que está colado ao espaço, perfazendo o chamado espaço-tempo, muito pouco se sabe sobre ele na ciência. Paradoxal e tautologicamente, só se sabe que o tempo é… o tempo. Em termos de projetos e inovação tecnológica, contudo, o tempo é, digamos, aprisionado no que se convencionou chamar de cronograma de atividades. O termo cronograma designa uma espécie de tentativa de medição do tempo para que algo ocorra. A produção do cronograma está em consonância com diversas explicações que dizem que o tempo é a distinção de duração de uma sequência de eventos, como se fosse uma flecha que parte do passado em direção ao futuro. As unidades de medidas são variadas, desde os milissegundos ou unidades menores, até os gigaanum (Ga), correspondente a um bilhão de anos. De qualquer forma, qualquer que seja a unidade de medida, o tempo é percebido como sequência contínua de eventos, sucessão de passado em direção ao futuro. Há diversos desdobramentos dessa percepção, chamada de tempo objetivo, como as escalas de duração (tempo curto, médio e longo), tempo livre (no qual se busca o prazer) e tempo de espera (quando a tarefa está pronta para ser executada, mas que aguarda a autorização para tal), dentre vários outros, muito comuns nos esforços de geração de tecnologia. Especificamente em relação à prototipagem, o tempo é ao mesmo tempo determinante e consequência de alguns aspectos fundamentais, que serão mostrados a seguir.
O primeiro é relativo ao escopo do projeto. A ideia de escopo pode ser tomada de duas formas interconectadas: o escopo global e os escopos setoriais. O escopo global diz respeito ao total de tempo que a equipe tem para materializar determinado objetivo, também dito global ou geral. Os escopos setoriais abarcam unidades de tempos menores porque focam a materialização de alvos também de menor monta, os chamados objetivos específicos. Isso mostra, por exemplo, que escopo e objetivo são duas dimensões conectadas e que só têm a possibilidade de se concretizar no futuro, como sucessão contínua de tempo.
O segundo aspecto foca as tarefas como desdobramentos da conexão escopo-objetivo. O esquema lógico que une os objetivos às atividades é de configuração. As atividades são os pequenos passos que precisam ser dados (as pequenas sequências de eventos) para que o futuro desejado possa ser alcançado. Elas representam a lista de coisas que precisam serem feitas para que um objetivo específico seja materializado. A somatória da materialização dos escopos menores leva à concretização do escopo global.
Note que é a sucessão de atividades ao longo do tempo que leva ao alcance dos objetivos específicos. Isso significa que cada atividade precisa ter a sua duração medida para que se possa estabelecer um tempo máximo de realização do objetivo específico do projeto. O esforço de mensuração precisa levar em consideração o tempo mínimo, o tempo médio (ou ideal) e o tempo máximo. Também é fundamental que sejam calculados os leadtimes, que são os tempos de espera entre as atividades. Esse é o terceiro aspecto fundamental na gestão do tempo dos projetos.
Vale destacar que dentre as atividades listadas para cada objetivo específico ou escopo menor do projeto, pode haver tarefas que precisam ser feitas em primeiro lugar e outras que possam exigir urgência e emergência. Isso representa o quarto aspecto a ser considerado, o que exige atenção redobrada dos pesquisadores e habilidade na gestão do tempo.
O quinto aspecto é outra forma de falar acerca das prioridades. O motivo dessa diferença é que há, em todo processo de geração de tecnologias, atividades antecessoras e sucessoras, que tecnicamente são chamadas de clientes e fornecedoras. Neste particular, a lógica que precisa ser aplicada é que a atividade antecessora precisa entregar para a atividade sucessora um subproduto em conformidade com as categorias de qualidade do cliente (sucessora). É quem recebe que dita as normas, que devem ser conhecidas por todos.
O sexto aspecto diz respeito à cronoanálise. Esse aspecto diz respeito ao movimento e sua duração e sua lógica é simples de ser compreendida: entre o final da etapa anterior e o início da etapa posterior, há que haver, quase sempre, alguma forma de movimentação. A razão disso é que a etapa posterior utiliza o que foi produzido na etapa anterior para realizar a sua produção. O que foi produzido precisa ser movimentado. Se o subproduto não for movimentado, são os operadores que se movimentam. Esse tempo precisa ser cronometrado.
O sétimo aspecto é que o cronograma é ao mesmo tempo referencial e normativo. Ele é referencial porque precisa ser levado em consideração para a mensuração da duração da etapa e dos escopos. Isso quer dizer que o tempo todo ele precisa ser observado, olhado, executado. Enquanto norma, precisa ser obedecido, sob pena de não se alcançarem os objetivos pretendidos, nem materializados os escopos do projeto. Essas duas considerações levam à constante necessidade de aprendizagem acerca do tempo e da execução das atividades, para que os cronogramas e as formas de medida do tempo e execução das atividades sejam aperfeiçoados continuamente. Em síntese, referência e normas servem para aprender; se não houver aprendizagem, perdem completamente os seus sentidos de existência.
Um cronograma de projeto não é apenas um quadro para dizer quando começa e quando termina um empreendimento de geração tecnológica. Nele estão inseridas uma série de implicações todas voltadas para o alcance do sucesso da materialização da tecnologia a partir da obediência às especificações de tempo de cada atividade, movimentação e tempo de espera. O tempo não é um imperativo, assim como na ciência. Ele pode ser encurtado ou prolongado, dependendo do aprendizado auferido pela equipe com o seu manuseio.