Daniel Nascimento-e-Silva, PhD
Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
As etapas da prototipagem ambiental variam em quantidade e especificidade, em conformidade com diversos aspectos da tecnologia que se pretenda gerar. A complexidade, por exemplo, é um desses aspectos: quanto mais complexa for a tecnologia, mais etapas tendem a fazer parte do seu processo de geração. Outro é a quantidade de benefícios que a tecnologia promete entregar: quanto mais benefícios, mais etapas tendem a compor o seu processo de geração. E um terceiro são as externalidades, que são os efeitos adversos que a tecnologia pode causar tanto nos seus operadores quanto em outros indivíduos (hominais, animais e vegetais, principalmente) que fazem parte do ambiente em que a tecnologia será desenvolvida ou será localizada. Outros aspectos altamente relevantes podem ser identificados a partir da tecnologia que se pretende criar, de maneira que é possível apenas indicar grandes etapas passíveis de serem aplicadas em todos os tipos de tecnologias que causem algum impacto indesejado ao ambiente ou que, inversamente, estejam suscetíveis a sofrerem impacto semelhante causado pelo ambiente e que comprometa o seu funcionamento.
A aplicação do método científico-tecnológico (MC-T) prevê como primeira etapa da prototipagem ambiental (assim como de todos os outros tipos de protótipos) a elaboração da arquitetura teórica, oriunda dos conhecimentos científicos disponíveis ou gerados especificamente para a tecnologia que se pretenda construir. Na verdade, é a arquitetura teórica que apontará quais são os impactos que o ambiente pode causar sobre a futura tecnologia (e os efeitos nocivos da tecnologia sobre o ambiente), como esses impactos acontecem e o porquê de eles acontecerem. Com base nas respostas a essas três questões de pesquisa (qual é o impacto, como ele acontece e por que ele acontece), elabora-se um mapa de relação do tipo causa-efeito. Se a causa gerar um efeito nocivo, uma coluna deve ser acrescentada ao mapa para indicar a forma mais adequada de anulá-la, assim como os materiais a serem utilizados na composição do protótipo ambiental. Esse procedimento deve ser realizado para todos os tipos de efeitos danosos, tendo-se, ao final, um esquema provisório de anulação dos efeitos ambientais adversos, que será utilizado na prototipagem.
A segunda etapa é a realização de simulação em relação às propostas de anulação dos efeitos nocivos. Muitas vezes os estudos científicos apenas confirmam os efeitos danosos, de maneira que apenas os experimentos podem confirmar a forma como eles acontecem e o que faz com que eles gerem os efeitos indesejados. É essa experimentação e simulação que deve ser feita nessa segunda etapa, de forma que se possa aferir o poder de anulação que têm os materiais e procedimentos listados no mapa de anulação. Alguém poderia afirmar, com razão, que essa etapa seria uma forma extensão das descobertas científicas, já adentrando, inclusive, a experimentação de novos materiais a serem utilizados na prototipagem. O desafio desta segunda etapa é que se tenham os materiais e procedimentos confiáveis e válidos para que se possa elaborar as primeiras versões dos protótipos.
A terceira etapa é a representação diagramática dos protótipos. É preciso relembrar que a representação diagramática é sempre um desenho. Como protótipo, mostra esquematicamente a) os efeitos nocivos, b) como eles acontecem, c) por que acontecem e d) como o artefato que se pretende criar pretende anulá-los. Uma segunda representação precisa dar conta da estrutura analítica do protótipo, contendo a árvore dos componentes e subcomponentes, até a dimensão das peças. Esse segundo protótipo é fundamental para que o processo de produção dos protótipos tridimensionais possa ser realizado e produza o maior número possível de exemplares para que possam ser testados. Isso significa que a representação diagramática precisa ser a mais completa possível, tanto em termos dos materiais a serem utilizados quanto na compreensão dos encaixes das peças e partes e no sequenciamento da montagem ou produção.
A quarta etapa é a transformação das representações esquemáticas em artefatos físicos, que são as primeiras versões do protótipo. Deve sempre ser lembrado que se devem fazer tantas versões quanto forem as possibilidades de incorporação dos efeitos desejados para que se possa aferir quais protótipos devem seguir em frente em busca se converterem em tecnologias. A experiência tem mostrado que uma certa quantidade e variedade de versões é necessária para que alguma delas tenha a probabilidade de alcançar o status de produto ou tecnologia. Como será visto mais adiante, o que vai definir se o protótipo está apto a ser considerado um produto ou tecnologia é sua aprovação em todos os testes a que for submetido.
Uma última etapa do processo de prototipagem ambiental é a aprovação de determinados exemplares que seguirão adiante, nas fases de testes/restes, até que sejam aprovados. Na prática, essa aprovação é decorrente de uma série de procedimentos, alterações e até mesmo eliminação completa da série de protótipos iniciais, nas etapas de testes e retestes, ajustes e reajustes. Aprovar um protótipo, na fase de prototipagem, nada mais é do que se ter aqueles exemplares com mais chances de aprovação nos diversos testes a que terão que ser submetidos até que possam ganhar a posição de produto final, uma vez que um protótipo é considerado um produto em elaboração.
A prototipagem ambiental fecha o rol de protótipos que muitas tecnologias carecem para que possam entregar aos clientes, demandantes, usuários e consumidores os benefícios que promete. O foco desse tipo de prototipagem é, em primeiro lugar, a segurança de que a tecnologia não vai causar externalidades desnecessárias; em segundo lugar, que o ambiente não altere os benefícios da tecnologia e não a danifique. Assim, em síntese, a prototipagem ambiental protege a tecnologia dos efeitos do ambiente e ao mesmo tempo protege o ambiente dos efeitos nocivos que a tecnologia possa vir a causar.