Daniel Nascimento-e-Silva, PhD
Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
O método científico-tecnológico orienta a construção de protótipos conceituais a partir da revisão da literatura científica. A prototipagem, muito embora esquematicamente apareça na dimensão tecnológica do método, é feita simultaneamente às descobertas da revisão da literatura. Por exemplo, se a intenção for a construção de um sistema de monitoramento, a pergunta de pesquisa conceitual é “O que é um sistema de monitoramento?”, cujos dados, depois de organizados, apresentam as diversas respostas já registradas e catalogadas pela ciência. A dimensão tecnológica começa exatamente pela escolha da(s) resposta(s) mais adequada(s) e conveniente(s) para os cientistas nos seus esforços de construção da tecnologia desejada. Esse processo de escolha é constituído de duas partes. A primeira é relativa ao termo de equivalência encontrado que espelha o artefato a ser construído; a segunda é seleção dos atributos que vão ser incorporados ao termo de equivalência para que se possa ter uma visão panorâmica do conceito. Vejamos isso com mais atenção.
O termo de equivalência é a primeira palavra que começa a definição conceitual. Na definição “Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar recursos para alcançar objetivos organizacionais”, processo é o termo de equivalência, que torna administração equivalente a ele. Neste exemplo, o desafio do cientista é fazer a representação esquemática de um processo como uma sucessão temporal de etapas que culminam com a geração de um determinado resultado quando a última dessas etapas for concluída. Pela própria definição se percebe que planejar, organizar, dirigir e controlar são as etapas desse processo, atributos que precisam também estar presentes no protótipo conceitual. A figura prototipada teria que terminar, ainda com base nesse exemplo, com os objetivos organizacionais, que é o resultado que esse tipo específico de processo gera, que é a figura real da administração.
O que queremos mostrar, com isso tudo, que o protótipo de conceito começa com o termo de equivalência. Por essa razão, vamos especificar alguns termos de equivalência encontrados com muita frequência nas definições conceituais da literatura científica. Processo, como no exemplo do parágrafo anterior, é um desses termos muito comuns. Outro é “conjunto”. Um conjunto é uma reunião de elementos, coisas, objetos, pessoas etc. que têm alguma coisa em comum. Essa coisa em comum é que os tornam elementos do conjunto. É o caso, por exemplo, em que “Logística pode ser definida como o conjunto de atividades de informações, produções e finanças relacionadas com o suprimento de necessidades humanas”. A prototipagem de conjunto é como nas aulas iniciais de matemática, com o diagrama e os elementos do conjunto dentro dele. Neste exemplo, informações, produções e finanças são os componentes do conjunto.
Sistema é outro termo de equivalência bastante encontrado na literatura científica. Sua representação tem que especificar as entradas, o processo de transformação e as saídas, assim como os mecanismos de correções quando o sistema apresentar disfuncionamento. Por que essa representação? Porque se sabe que uma coisa para ser um sistema precisa produzir alguma coisa com o uso de matérias-primas (entradas) através de um esquema de transformação específico. Se ele não funcionar direito, é preciso que haja uma forma de consertá-lo previsto já na etapa de seu planejamento.
Outro termo muito comum é mecanismo. A ideia de mecanismo vem de engrenagem, em que uma peça ou parte se encaixa na outra e assim sucessivamente para fazer com que um todo (o mecanismo global) funcione e produza alguma coisa. O protótipo de mecanismos precisa apresentar, de forma saliente, cada uma das suas peças componentes, suas engrenagens, de maneira que se possa ter um entendimento de como o todo vai funcionar. Mais uma vez é preciso relembrar que o protótipo de conceitos tem o desafio de permitir a compreensão e a visão panorâmica de uma tecnologia que ainda não existe e que se pretende materializar. Nessa composição esquemática, o termo de equivalência representa a totalidade, enquanto os atributos são os seus componentes. Vejamos.
Quando o termo de equivalência for “conjunto”, os atributos são elementos que fazem parte desse conjunto. Esses elementos podem ser representados individualmente, quando forem poucos e a tecnologia for simples, ou como subconjuntos, quando forem expressivos numericamente e a tecnologia for complexa.
Quando o termo de equivalência for “processo”, os atributos a serem mostrados na representação esquemática são as etapas do processo. Novamente, aqui, se o processo for muito complexo, pode ser representado por agrupamentos de etapas. Por exemplo, para se fazer planejamento estratégico há as etapas de definição da razão de existência da organização, seus negócios, públicos-alvos, indicadores operacionais de desempenho e inúmeras outras, que somam mais de 50 passos. Como é um número expressivo para se prototipar, essas quatro primeiras podem ser sintetizadas na etapa de “pensamento estratégico”, que é esse seu nome técnico.
Para a prototipação de “sistema”, como já foi mostrado aqui, é necessário que as entradas estejam representadas, assim como todo o mecanismo ou processo de transformação e as saídas. Note que todo sistema é uma composição de mecanismos ou processo para a realização da transformação de entradas em saídas, assim como para fazer as retificações, quando houver disfuncionalidade.
Fazer prototipagem de conceitos é fazer uma representação visual do que a literatura científica contém. Assim como os cientistas podem optar por um dentre vários termos de equivalência, podem fazer a composição de dois ou mais deles ou até mesmo descartá-los todos por serem considerados inadequados ou inoperantes no que desejam criar. De igual maneira, a completude do protótipo termina com a incorporação neles de suas partes essenciais, chamados atributos, que também são apresentados pela literatura e que podem ser complementados pela própria criação dos inventores.