Daniel Nascimento-e-Silva, PhD
Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
A prototipagem processual tem dois sentidos. O primeiro é a ideia de processos enquanto tecnologia, que é um determinado procedimento que gera determinado resultado pretendido. Neste particular, o processo é um sucedâneo de subprocessos de prototipagem, assim como toda tecnologia faz para a materialização física de esquemas lógicos construídos com os conhecimentos científicos auferidos da literatura ou dos testes de arquiteturas teóricas. O segundo sentido é justamente o que será tratado aqui, de sequenciamento lógico de etapas que culminam com a materialização de um determinado aspecto da tecnologia ou de um processo. Parece esquisito, mas é isso mesmo. A razão dessa diferenciação é que, neste segundo sentido, a prototipagem tem o desafio de apresentar com clareza as etapas que serão percorridas para a geração de partes de uma tecnologia ou processo ou as macroetapas do processo de geração da tecnologia ou do processo. Por exemplo, pode-se fazer a prototipagem de cada etapa de construção de um automóvel voador (tecnologia) ou da preparação de um composto para eliminar o veneno de cobras (processo). Mas posso fazer a prototipagem de apenas a construção do motor do automóvel ou da separação do princípio ativo dos outros componentes vegetais para a geração do processo geral do composto.
A prototipagem dos processos com base na prototipagem conceitual. Prototipar processos, portanto, é a primeira etapa da materialização da tecnologia ou do processo. Pode acontecer, também, e isso é muito comum, de ser necessária a prototipagem de processos para materializar uma estrutura. Quando isso acontece, a representação das etapas do processo permite aos cientistas visualizarem cada etapa que devem percorrer para que possam materializar uma parte ou toda a tecnologia pretendida. Se desejo criar um automóvel voador, primeiro se faz o protótipo do conceito e depois a estrutural, onde aparecem todos os principais componentes, assim como protótipos de cada componente, até que se tenha cada protótipo onde apareçam suas peças menores. Mas, como decidir o que fazer primeiro, o que fazer depois e depois? É justamente o resultado dessa decisão que fica a cargo da prototipagem de processos. É nesse protótipo processual que vão aparecer as atividades de cada etapa.
Tome-se o exemplo da construção de uma sequência didática. Imagine que no modelo estrutural apareçam os componentes como “tema”, “recursos didáticos”, “metodologia de execução” e “Estratégia de avaliação”. No protótipo estrutural vai aparecer o processo na primeira linha e essas quatro partes na segunda linha. Mas como saber o que fazer primeiro e em segundo lugar, por exemplo? A prototipagem processual vai apresentar a solução. É provável que constem, por exemplo, etapas que não estão presentes na representação estrutural, como atividades pré-operacionais, como escolha das turmas, preparação das turmas e assim por diante, assim como atividades pós-operacionais, como acompanhamento e monitoramento dos desdobramentos da aprendizagem do processo criado e executado. Isso não quer dizer, contudo, que todo protótipo estrutural careça de um protótipo processual. Isso vai depender, naturalmente, da complexidade da tecnologia ou processo que se pretende materializar. Geralmente, quanto maior a complexidade, maior tende a ser a necessidade de outros tipos de protótipos, o que inclui a prototipagem processual.
Quando o que se pretende construir é um processo, como uma nova forma de se extrair princípios ativos de plantas, a prototipagem processual é o sucedâneo da prototipagem conceitual, vem logo a seguir. Pode ocorrer, nesses casos, o inverso: a partir da determinação das etapas do processo pode-se identificar com mais facilidades os materiais a serem utilizados, os impactos ou entregas de uma etapa para a outra e assim por diante, facilitando a confecção de protótipos estruturais, relacionais e outros. O que queremos mostrar é justamente a dinâmica do processo inventivo e os esforços que precisam ser dispendidos para o alcance do objetivo pretendido. Isso quer dizer que não basta uma representação imagética ou física do protótipo. Muitas vezes, e isso é bastante corriqueiro, é necessário que se façam vários e vários protótipos conceituais até que se tenha o mais próximo do desejado. Em seguida, que se façam vários e vários protótipos processuais ou estruturais, até que se obtenha aquele considerado o mais representativo do conceito aprovado e assim sucessivamente.
Mas no que consiste a prototipagem processual? Basicamente, na representação de cada etapa em sentido cronológico, diacrônico, e o seu sentido finalístico; depois, seu sentido relacional. No nosso exemplo fictício da sequência didática, em “primeira etapa: escolha da turma”, “primeira etapa” é o seu sentido cronológico e “escolha da turma” é o seu sentido finalístico; e em “segunda etapa: preparação da turma”, de forma semelhante, “segunda etapa” é o sentido diacrônico e “preparação da turma” é o finalístico, mas com uma diferença: há um inter-dito entre as duas etapas. Está “escrito” entre a primeira e a segunda etapas que a segunda não pode ser realizada sem que a primeira esteja finalizada. Note que no protótipo não vai aparecer o subproduto da primeira etapa que será entregue e utilizado na segunda. Contudo, com base na representação processual é possível realizar a representação estrutural desse subproduto, que é exatamente a comprovação de que um protótipo muitas vezes exige outro protótipo.
A prototipagem processual é utilizada em muitos e variados processos de inovação. De forma geral, todo tipo de metodologia exige uma representação processual, assim como toda forma de se fazer alguma coisa, que se chama simplesmente de procedimento. A diferença entre metodologias e procedimentos é a exigência de regras que caracterizam as metodologias, enquanto os procedimentos são mais referenciais, instrutivos. Mas todos estão voltados para a geração de algum tipo de resultado que vai ser utilizado para resolver determinado problema.