Daniel Nascimento-e-Silva, PhD
Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
Vimos um processo global de prototipagem. Agora vamos conhecer um sequenciamento lógico específico para produtos, tanto nas suas versões físicas quanto extrafísicas ou digitais. Vale dizer, contudo, que o que se chama de extrafísico ou virtual nada mais é do que uma outra dimensão física, de maneira que, como consequência, tudo é físico. O que muda são as naturezas dessas fisicalidades. Uma segunda coisa que se deve ter em conta é que a ciência tradicional usa e toma como referência em seus procedimentos o que é chamado de nomenclaturas. Por exemplo, quando se diz que há um processo global de prototipagem deve-se entender, de maneira implícita, como regra da ciência, que há pelo menos dois processos particulares. A razão disso é que o processo global é a encobertura ou somatória dos procedimentos particulares. Em termos lógicos, portanto, as etapas dos processos específicos, particulares, estão contidas e muitas vezes sintetizadas no processo global. Muitas vezes as terminações são muito parecidas porque são resultantes das práticas de integração e derivação, que já foram explicados e aplicados. As nomenclaturas seguem também uma espécie de classificações dos fenômenos, conceitos, constructos, dimensões e categorias analíticas, muito conhecidas também como taxonomias. Isto posto, vejamos agora o processo de prototipagem de produtos.
Há pelo menos uma etapa neste desafio de prototipagem antes de se começar a construir o protótipo, configurando aquilo que chamamos de pré-prototipagem. Se o produto a ser criado tiver como destino o que a ciência econômica chama de mercado, haverá várias etapas prévias ao processo de prototipagem. Mas todas elas têm o desafio de entregar para as equipes de prototipagem todas as características e parâmetros que o produto precisa incorporar ou apresentar. Essas características configuram os valores a serem agregados ao artefato físico e que precisam ser entregues aos clientes, em conformidade com o que é desejado, para que suas necessidades sejam supridas. É importante saber que é o cliente que determina esses atributos, não o consumidor, que é aquele que vai usar o produto. Naturalmente que quase sempre há diálogos entre o consumidor e o cliente acerca dos valores desejados, mas a palavra final é sempre do cliente porque é eles a contraparte das entregas. Por exemplo, produtos como brinquedos infantis são utilizados por crianças, que são os consumidores, mas quem toma a decisão sobre o que vai ser demandado é sempre um adulto ou responsável. O mesmo acontece em empresas e governos e todo tipo de organização.
As demais etapas são executadas pela equipe de engenharia de produto. O primeiro desafio ou etapa é a confecção de esboços. Como já explicado, esboço é um protótipo completo, primeiro em sua dimensão panorâmica, chamada de conceito do produto, geralmente feito em forma de desenho. Fazem-se vários esboços conceituais e depois escolhem-se os mais satisfatórios para o aprofundamento, que é a colocação das partes, subpartes, componentes e subcomponentes, chamado de esboço executivo porque já se pode visualizar a execução (produção) dos valores a serem entregues aos clientes. O método científico-tecnológico começa com a revisão da literatura tanto para a confecção do projeto conceitual quanto o executivo a partir de questões de pesquisas específicas, como as conceituais, estruturais, processuais, relacionais, funcionais e ambientais.
A segunda etapa de prototipagem é de decisão. Equipes, gestores, parceiros e clientes fazem parte dessa etapa, para que seja escolhido o esboço que mais se aproxima daquilo que os clientes desejam e necessitam. Aqui são levados em consideração a capacidade de produção da organização, os efeitos econômico-financeiros, a fundamentação e atinência legal, os processos logísticos a serem praticados e o marketing mix que manterão e sustentarão a continuidade do suprimento, especialmente a forma de transferência de tecnologia e a temporalidade das atualizações.
A terceira etapa do processo de prototipagem é a materialização do esboço escolhido. Essa etapa nada mais é do que a obediência às diretrizes que levaram à escolha do protótipo que vai ser submetido aos testes e ajustes. Naturalmente que muitas vezes, frequentemente, há aspectos não operacionais dos projetos conceituais e executivos que precisam ser revistos. Existe, portanto, um esquema relacional da materialização do protótipo com a etapa anterior, de decisão, que precisa ser meticulosamente verificada e acompanhada. Não é incomum que essa falta de acompanhamento leve ao malogro do projeto.
A quarta etapa da prototipagem é a realização dos testes. Os testes podem ser divididos entre os relativos aos parâmetros e características da demanda e os relativos ao futuro produto em si. Se o produto tem como parâmetro institucional ser barato em relação aos concorrentes, o custo dos seus componentes precisam ser testados; se tem como parâmetro de demanda gerar resultados mais rápido que o produto líder de mercado, essa rapidez precisa ser testada. Note-se que a cada vez que o protótipo passa em um teste, esse aspecto é considerado pronto, adequado; se é reprovado, novos ajustes precisam ser feitos, configurando a quinta etapa. Ajustes e reajustes precisam ser constantes, até que o protótipo seja aprovado em tudo. Aí ele passa a ser um produto.
A última etapa é ambiental, feita fora da instituição ou organização produtora da tecnologia. Essa etapa tem como desafio colocar o produto à disposição do público-alvo, os clientes, naquilo que é chamado de marketing mix (preço, produto, praça e promoção), o que envolve os processos logísticos. Também devem ser consideradas as naturezas sanitárias, legais, alfandegárias, fiscais, dentre inúmeras outras, dependendo do tipo de produto, onde estão seus clientes e as matérias-primas utilizadas. Acompanham cada etapa os registros e documentações, fundamentais tanto para a patenteação do produto quanto para a prática das suas melhorias contínuas necessárias.