Daniel Nascimento-e-Silva, PhD
Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
A prototipagem ambiental é um tipo especial de construção de protótipos porque não incide propriamente sobre o protótipo a ser criado ou em processo de criação, mas sobre o ambiente que circunda o processo criativo e o uso da tecnologia. Se alguém dissesse que um protótipo ambiental é tudo o que circunda uma tecnologia, não poderia, de todo, ser acusado de erro. Outro interlocutor poderia raciocinar, também com propriedade, que uma embalagem poderia ser tomada como um protótipo ambiental, uma vez que toda embalagem envolve, no todo ou em parte, alguma coisa. Assim, ao envolver um protótipo – e, no futuro, a tecnologia -, as embalagens se enquadrariam nesse tipo especial de prototipagem. Um terceiro, por sua vez, poderia argumentar que as embalagens e todo material envolvente, por si sós, são produtos distintos e que, por essa razão, carecem de prototipagem específicas e não necessariamente se constituir em protótipos ambientais, o que também pode estar correto. Contudo, o que vai decidir se um protótipo é ou não ambiental é a sua funcionalidade, de maneira que os protótipos ambientais são ao mesmo tempo funcionais e relacionais, como será mostrado aqui.
Muitas tecnologias causam impactos sobre o seu ambiente de operação. São os casos, por exemplo, daquelas que utilizam material radioativo. Muitas vezes a tecnologia é o material, mas manuseado de determinadas maneiras bem específicas, como na destruição de células cancerígenas. Por essa razão, para que a tecnologia possa ser manuseada e operar os resultados dela esperados, é necessário que seja revestida de proteções físicas. Além dessas proteções, o próprio ambiente onde todo o conjunto tecnológico (a tecnologia e seus revestimentos) vai operar precisam apresentar características especiais para a proteção de operadores e usuários. Daí vem a necessidade de se fazer a prototipagem da tecnologia e dos revestimentos e ambientes de operações. A prototipagem dos revestimentos, que é uma forma especial de embalagem, é chamada de protótipo ambiental, da mesma forma que a sala onde o conjunto tecnológico vai operar. Os revestimentos da tecnologia garantem o manuseio do material radioativo e a proteção do operador e usuário, assim como o espaço físico onde ele será instalado. Essas são duas das diversas funcionalidades que a prototipagem ambiental precisa assumir.
Outro aspecto a considerar na prototipagem ambiental são as relações entre a tecnologia e seus revestimentos com operadores, usuários e o próprio espaço físico onde vai ser instalada e operar. A prototipagem relacional, como já vista, é uma espécie de desenho e outra forma de representação dos diversos tipos de impactos que um fenômeno A causa. Por exemplo, a tecnologia radioativa causa impacto nas células cancerígenas (e nas células não cancerígenas ao redor), denotando uma relação de destruição para gerar como benefício a cura de uma doença. Mas a tecnologia também provoca impacto sobre o material que a reveste, de modo que força os operadores a utilizar materiais e equipamentos especiais para operá-la, configurando outro tipo de relação. A prototipagem ambiental, do ponto de vista relacional, tem como finalidade representar esquematicamente exatamente os diferentes impactos que a tecnologia causa nos diversos ambientes que a envolvem e onde vai operar.
Como distinguir as prototipagens ambientais das relacionais? Os protótipos ambientais apresentam a relação causa-efeito na própria tecnologia, internamente. Poderíamos até chamar os protótipos relacionais de protótipos ambientais internos. O que a prototipagem relacional vai marcar são os impactos necessários de uma peça sobre outra ou subcomponente sobre outro para gerar um movimento desejado. Quando uma engrenagem se movimenta e aciona certo dispositivo em uma máquina, o acionamento do dispositivo é o efeito desejado pela causa da movimentação da engrenagem, ambos deliberadamente planejados para tal fim. No caso dos protótipos ambientais o impacto sobre o ambiente de operação é consequência da própria natureza de algum componente ou da própria tecnologia. O primeiro pode ser exemplificado pelos materiais perigosos, enquanto o segundo pode ter como exemplo as hidrelétricas (que são um tipo de tecnologia), que sempre causam impactos ambientais.
Como diferenciar as embalagens dos materiais envolventes que precisam ser prototipados? Regra geral, as embalagens são um tipo de produto e, por essa razão, são prototipáveis. Um saco plástico de um quilo para conter grãos pode ser adquirido para conter material de costura ou líquidos sem colocar em perigo os usuários e nem aquilo que ele vai conter. A contenção de determinados materiais é a finalidade desse saco plástico. Com os materiais envolventes das tecnologias que precisam ser prototipadas como tal isso não é possível. Embora a tecnologia deva ser prototipada separadamente, ela necessita, obrigatoriamente, de pelo menos um material que a envolva para que sejam contidos seus efeitos indesejados. Tome-se o exemplo dos gases. O gás é a tecnologia. Mas os artefatos físicos que o contêm e permitem o seu uso são materiais envolventes que, sem eles, a tecnologia não poderia ser utilizada. Os fatos indesejados, no caso dos gases, é que não seriam utilizáveis sem os materiais envolventes e, no caso de falha de funcionalidade, poderia colocar em perigo os usuários e o próprio local em que viesse a explodir, como acontece muitas vezes com o gás de cozinha.
A prototipagem ambiental é um tipo muito especial porque não está centrada no desenvolvimento de uma tecnologia propriamente dita, mas na representação de todos os impactos indesejados que ela possa causar. Os relatórios de impacto ambiental, por exemplo, são o mais próximo que se pode ter para mostrar a importância desse tipo de prototipagem. Assim como os relatórios de impacto ambiental, a prototipagem mostra esquematicamente todos os possíveis impactos da tecnologia sobre os seus ambientes em graus crescentes de periculosidade.
