Quantos ciclos da borracha cabem em um PIM? A resposta depende da perspectiva. Produzíssemos hoje as 42 mil toneladas de borracha do ápice de 1912, teríamos receita de R$ 450 milhões. O faturamento do PIM é quatrocentas vezes maior. Se a Amazônia fosse hoje a única fornecedora global deste insumo, produzindo 14,5 milhões de toneladas, a receita seria cerca de R$ 150 bilhões. Essa é a produção global de borracha natural, o DRC, cotado a R$ 10,5 mil a tonelada, ainda sob domínio dos países da Ásia Equatorial. Se metade de toda a borracha do mundo fosse produzida só no Amazonas, faturaria pouco mais de um terço do PIM atual.
Não se vislumbra fator de redução na demanda global por borracha natural. Desde a descoberta da vulcanização e o crescimento exponencial com o início da produção de automóveis em larga escala, sobrepõem-se novas aplicações, novos vetores de demanda. Os elastômeros sintéticos não alcançam totalmente os atributos de qualidade da borracha natural, que permitem, por exemplo, que o pneu estabilize a forma no processo de vulcanização, que durante o uso seja resistente ao calor, cortes e rasgos, fadiga e histerese.
Pneus de qualidade complementam a borracha sintética com borracha natural. O mesmo com itens hospitalares, calçados e diversos outros artefatos. Muitos usam somente o DRC. Por isso, vale muito a pena pensar no quanto ganharíamos se retomássemos nossa vocação para elastômeros naturais. Estamos aproveitando quase nada. Produzimos cerca de 300 toneladas, o que nos traz receita de cerca de R$ 3,1 milhões. São Paulo é o estado brasileiro com produção relevante de borracha natural: 270 mil toneladas e quase R$ 3 bilhões de receita.
Com o PIM, na verdade, nos transformamos em vetor de demanda por borracha natural. O polo de Duas Rodas, com seus sucessivos recordes de produção, demanda cerca de 4,3 milhões de pneumáticos por ano. 17 mil toneladas. Considerando proporção de 40% borracha natural, percebe-se a demanda do PIM por DRC em cerca de 7 mil toneladas.
Fosse em 1912, daríamos conta com sobra. Mas nos condicionamos a adquirir de São Paulo, transferindo para lá, no mínimo, R$ 74 milhões a cada ano. Ainda que a borracha asiática venha a ser de melhor qualidade ou mais barata, o PPB obriga que no mínimo 60% da borracha natural usada na produção local de pneumáticos seja de origem brasileira.
O Amazonas pode ganhar essa receita e muito mais. Voltar a ser relevante na cadeia global de elastômeros naturais. Para tanto, seria necessário gerenciar a cobertura florestal disseminando as mudas de seringueiras de modo a mitigar os riscos de ocorrência da doença foliar, que impede seu cultivo intensivo. Envolve organizar sistemas agroflorestais em microestações climáticas, disseminar os clones mais resistentes e efetivar acompanhamento fitossanitário inteligente, com pulverização cirúrgica e desfolha programada. Envolve reunir pesquisadores do INPA, Embrapa, da Colômbia e da Guiana Francesa e aplicar com disciplina suas recomendações.
Qual seria o caminho adequado para implementar essa solução? Uma encomenda ao CBA? Quem tem caneta pense e decida. E perceba neste exemplo como a Bioeconomia poderia acrescentar ao PIM, ser demandada pelo PIM e complementar o PIM no PIB amazonense. Mas, substituir o PIM, ao menos no horizonte dos próximos cinquenta anos, seria impossível.
