18 de outubro de 2024

QUASE 200 ANOS

Foi no dia 25 de julho de 1824 que os primeiros alemães aportaram para colonizar o Sul do Brasil. Há quem diga que o desembarque aconteceu em 18 de julho em Porto Alegre e que a data de 25 foi o início do assentamento em São Leopoldo. Passado todo este tempo, o lapso de uma semana não é tão importante. A primeira leva era de 39 pessoas. 

Por que vieram os alemães? O Brasil, independente desde 7 de setembro de 1822, precisava de reconhecimento internacional. Assim, orquestrado pela princesa Leopoldina, o Brasil enviou adidos diplomáticos para devastada Europa. A promessa era de terras e ferramentas àqueles que quisessem vir ao Brasil em caráter permanente para cultivar a terra. O resultado foi imediato. Um ano e meio depois da independência, chegaram os primeiros agricultores. Rapidamente chegaram mais pessoas atraídas pelo mesmo plano. Foram adentrando para o interior do Estado, estabeleceram vilas, construíram suas estradas, escolheram professores entre eles e fizeram história. Existem milhares de relatos e registros, que podem ser “garimpados” em diversas cidades, tanto no Sul do Brasil, como na Alemanha que relatam as dificuldades e as alegrias das primeiras colonizações.

Os alemães não trouxeram somente a língua para sua nova terra. Trouxeram toda a cultura que engloba culinária, modo de fazer a terra produzir e, principalmente, a perseverança e resiliência deste povo que o Brasil todo passou a admirar. A população da Europa estava desgastada pelas guerras napoleônicas e sem muita perspectiva. Diga-se também que o Novo Mundo, que o cartógrafo alemão Martin Waldseemüller chamara de América, para muitos era totalmente desconhecido. Muitos não tinham nem ideia que distância havia do Alasca à Terra do Fogo. Por outro lado, corriam boatos que os protestantes seriam melhor recebidos que os católicos. Assim, quem não dava muita importância à religião, se registrou como protestante na hora da partida. Como nos revelam os registros em Hamburgo, os navios tinham de registrar o nome, idade, religião, profissão e filiação de quem embarcasse. Esses registros foram digitalizados e estão disponíveis também nos Estados Unidos em sites pagos.

O resultado dessa colonização? Os descendentes destes alemães se espalharam pelo Brasil e, decorridos quase dois séculos, estima-se que cerca de 15 milhões de brasileiros ainda carreguem o sobrenome alemão. Outros o abandonaram nos casamentos mistos. Também estima-se que cerca de 6 milhões de brasileiros ainda falem a língua alemã, numa variação chamada “Hunsriqueano Riograndense”. O nome faz referência ao dialeto da região de Hunsrik (Renânia e Palatinado) de onde veio grande parte destes imigrantes. Contudo é uma língua que adaptou vocábulos em português a uma gama de dialetos alemães. Para constar, esta língua também está viva nos Estados Unidos, na região da Pensilvânia.

Devemos também relatar que muitos alemães vieram ao Espírito Santo, originários da Pomerânea (uma das nações que formou a atual Alemanha). A grande maioria deles era de confissão luterana e começou a chegar a partir de 1859. Registre-se também que durante estes dois séculos muitos continuaram vindo ao Brasil. Quando, em 1920, os Estados Unidos colocaram dificuldades para receber os alemães, a chegada foi em maior número para cá. Assim, o Brasil que nunca colocou dificuldades para receber, de braços abertos, pessoas de todas as nações é o país para onde os germânicos vieram em maior número.

Os italianos, poloneses, japoneses, ucranianos, africanos, árabes, holandeses e povos de outras origens, que se juntaram aos portugueses, também têm uma história rica a contar  neste nosso país que os adotou. Bonito ver que, nestes duzentos anos de independência, todos convivem harmonicamente nesta terra multicultural chamada Brasil. (Luiz Lauschner)

Luiz Lauschner

é empresário

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