24 de outubro de 2024

Queimadas e qualidade de vida: como a fumaça impacta negativamente nossa saúde e bem-viver

Em 2024, a Amazônia tem batido recordes de focos de calor e queimadas. Até agosto, a Amazônia registrou mais de 50 mil focos de calor, emitindo adicionais 31 milhões de toneladas de gases do efeito estufa por conta da queimada de mais de 5,4 milhões de hectares. Isto, adicionalmente às dezenas de milhares de animais carbonizados, dezenas de brigadistas e voluntários que perderam a vida, e centenas de milhares de famílias que perderam casas, plantações, territórios e parte de sua ancestralidade.

Como se não bastasse, as queimadas provocam danos sistêmicos e estruturais que não estão visibilizados, mas são sentidos.

A mais evidente é a diminuição na produção de umidade e formação de chuva. Quanto mais se queima a floresta, mais difícil é “formar o tempo” para chover. Brevemente, isto se deve ao aumento de fuligens (particulados) e na diminuição de compostos voláteis orgânicos – estes que são responsáveis pela condensação da umidade (água) em nuvens para a formação de chuvas. Não é coincidência, portanto, que quanto mais quente e mais fumaça, menos chuvas.

Outro dano estruturante é a perda da biodiversidade. Tive um professor na faculdade que dizia: “queimar a floresta é a mesma coisa que queimar muitas bibliotecas”. As florestas detêm informações importantes que ainda não conseguimos entender ou decodificá-las. Portanto, queimá-las é perder a oportunidade de termos a receita para curar doenças, produzir alimentos, respeitar e compreender liturgias e tradições ancestrais.

Apesar de pouco provável, a influência da qualidade do ar e saúde é o efeito mais sensível dos incêndios. Nossos avós e pais com mais de setenta anos, filhas e filhos menores de sete anos e nossos familiares com alguma comorbidade são os que mais sofrem.

Por isso, um dano sistêmico e muito presente é o da saúde individual e do sistema público. A intensidade da fumaça piora nossa condição cardiorrespiratória, dificulta a prática de exercícios físicos, facilita o aparecimento de infecções e inflamações respiratórias e aumenta os custos no Sistema Único de Saúde (SUS).

Nos períodos da estiagem no Amazonas, entre agosto e novembro, geralmente há um aumento nas ocorrências de desconforto respiratório nas unidades de saúde básicas e prontos-socorros. A maioria desses atendimentos são para crianças, idosas ou pessoas com alguma comorbidade. Isto aumenta a pressão no SUS e os custos com atendimentos e tratamentos sobem. Assim, o aumento das queimadas tem relação direta com o aumento dos custos da saúde na Amazônia.

Individualmente, e em nossas casas, a gente sente os danos crônicos e agudos da fumaça e o tempo mais seco. Tosse seca, sangramento do nariz, dificuldade de respiração, fadiga extrema, dores de cabeça, entre outros. Tudo isso por conta das queimadas!

Portanto, os malefícios invisíveis das queimadas estão muito presentes em nossas vidas. E é importante relembrar: grande parte das queimadas e incêndios florestais que estão ocorrendo são ilegais e criminosas. Caso você veja alguma ou tenha informações, ligue para o Corpo de Bombeiros, no número 193, ou acesse o site da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas. É preciso que todas as pessoas se engajem e estejam alertas para diminuirmos a fumaça e melhorarmos nossa qualidade de vida.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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