O estoque de conhecimentos científicos sobre os fatos e fenômenos do mundo ainda é muito reduzido. Apesar de a cada dia serem produzidos muitos e muitos conhecimentos e tecnologias, o que a ciência consegue explicar é muito pouco diante da infinitude de coisas que a realidade nos mostra que são possíveis de existir. Apesar dessa limitação em quantidade (e em profundidade também), a genialidade humana foi capaz de gerar uma série de tecnologias que mudaram radicalmente o mundo nas últimas três décadas. Na realidade, a grande transformação por que a realidade tem passado tem se acelerado tanto que o que é novidade hoje tende a se tornar obsoleto em pouco tempo. Essas experiências têm mostrado, acima de tudo, que um pouco de conhecimento é capaz de gerar muitas tecnologias. Isso, na prática, significa que a mesma matéria-prima pode ser transformado em diversos produtos. É por essa razão que o método científico-tecnológico exige uma revisão de tudo aquilo que já se sabe sobre os fatos e fenômenos que queremos conhecer, cujos conhecimentos serão manuseados para produzir alguma tecnologia.
O MC-T prevê dois agrupamentos de perguntas de pesquisa para serem respondidas utilizando-se o método científico: questões sobre os assuntos/temas da pesquisa (que chamamos de fatos e fenômenos do mundo) e sobre os possíveis artefatos capazes de encapsular os conhecimentos gerados. A razão para essa preocupação tenha, sempre quando possível, base científica. A restrição do sempre quando possível é que, muitas vezes, não é possível que se tenha acesso a determinados conhecimentos, ainda que eles estejam disponíveis. Quando não estão disponíveis poderemos buscar gerá-los utilizando-se os procedimentos científicos.
As questões de pesquisa respondidas são, portanto, aqueles conhecimentos que já foram gerados e que já estão disponíveis. A disponibilidade tem duas formas de manifestação. A primeira é quando podemos ter acesso diretamente, como os conhecimentos que estão armazenados em bases de dados públicos, como o Google Acadêmico, ou particulares, restritos, como é o caso da Elsevier e Taylor e Francis, que precisa de autorização para tal. A segunda diz respeito àqueles conhecimentos que já foram gerados mas que não estão publicamente disponíveis. Enquadram-se nessa categoria os que são mantidos sob segredo de pesquisa, como é o caso de muitas patentes. Mas estamos enquadrando como disponíveis se os seus detentores puderem disponibilizá-los depois de algum acordo ou negociação. Esta última categoria poderia ser catalogada como disponibilizável.
Esses conhecimentos disponíveis e disponibilizáveis, é altamente importante que se saiba, podem não estar nos formatos de que precisamos. Por exemplo, se quero saber quais são os tipos de repositórios físicos do conhecimento humano, uma resposta possível poderia ser “Os tipos de armazenamentos físicos do conhecimento humano são o cerebral e o epidérmico”. Pode ter acontecido de algum cientista ter respondido a essa questão da forma como formulamos e precisamos da resposta. Mas isso muitas vezes não acontece. É preciso minerar os conhecimentos disponíveis para que a gente mesmo crie e estabeleça as categorias. Note que as respostas estão disponíveis apenas com o seu esforço, organizando-as. Este é o primeiro alerta que se deve ter.
A formulação das perguntas precisa seguir sempre o mesmo roteiro: fazem-se perguntas sobre as dimensões e categorias analíticas daquilo que se quer conhecer. Se os tema for os tipos de armazenamento de conhecimentos, o fenômeno, na verdade, é armazenamento de conhecimentos, divididos, sob a ótica da ciência, em armazenamento e conhecimento. Para usar o MC-T é necessário saber “o que é armazenamento?”, “o que é conhecimento?” e “o que é armazenamento de conhecimento?”, todas questões conceituais. Em seguida vêm as questões estruturais, como “quais são os tipos de armazenamento de conhecimento?”. Depois vêm as questões funcionais “como funciona o tipo A de armazenamento de conhecimento?”, “como funciona o tipo B de armazenamento de conhecimento” e assim sucessivamente, que pode ser sintetizada na grande questão “como funcionam os diferentes tipos de armazenamento de conhecimento?”. E as questões prosseguem com as perguntas relacionais e ambientais, como mostrado anteriormente. Como são conhecimentos disponíveis, todas eles serão coletados da literatura ou de documentos.
É importante salientar, também, que esse mesmo procedimento deve ser feito com relação ao artefato com o qual se pretende encapsular os conhecimentos auferidos da ciência. Também devemos consultar as bases científicas de dados com o objetivo de responder às mesmas categorias de perguntas. A pergunta conceitual vai ajudar a definir o artefato mais adequado para o encapsulamento; a estrutural vai apontar os elementos constituintes do artefato; a funcional vai mostrar como cada elemento ou parte funciona; a relacional vai especificar os diferentes tipos de relacionamento de cada parte com as demais; e a ambiental vai discriminar os impactos que o artefato e suas partes causam no ambiente de operação e são por ele impactados. Por essa razão é muito comum nos grupos e equipes de pesquisa que utilizam o MC-T apresentarem dois agrupamentos interligados de produção literária: um sobre os fenômenos e outro sobre os artefatos.
Infelizmente, grande parte das questões exigidas pelo MC-T não podem ser respondidas com o auxílio da literatura. Contudo, isso é estimulante para o cientista da inovação porque lhe permite gerar resultados primários, contribuindo também para o avanço da ciência naquela área em particular onde pretende gerar tecnologia. Mais do que isso, o método científico-tecnológico reforça a necessidade de domínio do conhecimento científico disponível. Atenção: é conhecimento científico. Não é conhecimento filosófico ou literatura que não tenha o método científico como mediador. Como diz um antigo ditado, ciência se faz com ciência. E acrescentamos: tecnologia também. Em breve mostraremos que esse procedimento também é uma filosofia. A filosofia tão sonhada pelos cientistas, principalmente aquela que diz que é hora de modificar o mundo.