Aristóteles Drummond
O presidente Lula vem num preocupante crescer em acertar contas com o passado ligado aos militares, aos conservadores, ao Judiciário, que o condenou em várias instâncias e o manteve preso por mais de um ano, e a Bolsonaro. Agora investe institucionalmente contra os militares ao apresentar projeto que veda a participação deles em eleições. Para ser candidato, o militar que tiver tempo pede reforma; quem não tiver, abandona a carreira. A tradição política em todo mundo tem sido eleger militares, desde os dois primeiros da República, a Hermes da Fonseca e Eurico Dutra, eleitos diretamente, aos candidatos derrotados Brigadeiro Eduardo Gomes, aos marechais Juarez e Lott, e aos cinco eleitos pelo Congresso Nacional depois da Revolução de 64.
Entre parlamentares, há centenas nestes 134 anos de República. Hoje, os militares seriam cerca de 8% dos 590 parlamentares do Brasil. E, antes de 64 também eram presença no Congresso. O Rio teve nos anos cinquenta senadores militares em Caiado de Castro, Gilberto Marinho e Alencastro Guimarães.
Militares são recorrentes nas democracias, com respaldo no voto livre. Portugal teve o Marechal Carmona, eleito, o General Delgado, derrotado, e depois do 25 de Abril, Costa Gomes, António Spínola, Ramalho Eanes. A França teve Petain e De Gaulle; os EUA, Eisenhower, a Argentina, Perón, e até Chávez, da Venezuela e amigo de Lula, era militar e gostava de se apresentar fardado. Agora é demonizar os militares, expulsar os mais ligados a Bolsonaro, que cumpriam ordens em assuntos pessoais do presidente a que serviam e outros que apenas ouviram as tratativas delirantes para anular eleições, mas nada fizeram.
Ao que tudo indica o ex-presidente chegou a sonhar com aventuras golpistas, foi omisso em desestimular os “acampamentos”, conversou sobre o assunto, mas não encontrou acolhida alguma. Logo, os militares foram sim fieis ao resultado das urnas. Ouvir e receber recomendados do Presidente era obrigação até pelo fato do Presidente ser o Comandante em Chefe das Forças Armadas. Mas nada permite supor acolhida aos desvarios do tosco Presidente.
Esta operação revanchista tem fundamento no alto prestígio dos militares na população. Apesar da permanente campanha contra o que chamam de “ditadura”, o período militar é bem avaliado pelos benefícios que trouxe ao povo e ao país, que chegou a ser a oitava economia do mundo naqueles anos.
Temos democracia, mas precisamos de ordem e progresso e na tradição da historia os militares sempre foram relevantes. Cabe lembrar que o Duque de Caxias além de Chefe Militar, foi senador e presidiu o governo mais de uma vez no reinado de D Pedro II. A espada entre nós sempre foi pacificadora, nunca omissa.