(No museu do Vaticano)
*Carmen Novoa Silva
Nenhuma outra invocação a Virgem Maria possui um lugar específico nos Museus do Vaticano a não ser Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Ou seja: A chamada Sala da Imaculada. Papa Pio IX proclamou com a constituição apostólica INEFABILIS DEUS, o dogma da Imaculada Conceição e assim oficializava em nível jurídico uma devoção já teologicamente aceita e universalmente difundida. Costumo falar que nos dias atuais não seria um dogma (algo autoritário e obrigatório em crer). Diria simplesmente uma questão de fé de cada um. A fé, esse beijo da alma, é externada pelos fieis como um ósculo de crença inabalável de que como mãe de Jesus- Deus, feito Homem, era inadmissível que tivesse o selo do pecado original de Adão e Eva. Afinal, o Menino gerado em seu ventre e alimentado com seu sangue durante nove meses, não seria Aquele que a todos redimiria na cruz, como Cordeiro imolado para redenção de todas as culpas da humanidade? Sua Mãe, a Escolhida, tinha que estar isenta dessa mancha do Gênesis.2004-150 ANOS DA PROCLAMAÇÃO DO DOGMA- Em 2004, para celebrar o sesquicentenário do aniversário da proclamação do dogma, a Pontifícia comissão para os bens culturais da Igreja promoveu uma exposição denominada: “UMA MULHER VESTIDA DE SOL”. O evento deu-se em “Braccio di Carlos Magno”, Praça de São Pedro – Vaticano. A exposição mostrava a Imaculada Conceição na obra dos grandes mestres (Leonardo, Boracci, Tiepolo, Annibale, Carracci, Murillo, Pinturicchio, Guercino, El Greco, citando apenas alguns dos grandes artistas que interpretaram em suas obras artísticas “…a mulher bela como a lua, resplandecente como o sol”. É bom especificar que o próprio Vaticano possui a SALA DA IMACULADA, nenhuma outra invocação à Virgem possui uma sala somente sua na Basílica Vaticana. Lá estão em exposição até os dias atuais toda e qualquer obra versando sobre ela, pictóricas, esculturas, documentos, manuscritos, ourivesaria, objetos litúrgicos e devocionais. Exemplificando: “A medalha do Mérito Imaculada Conceição instituída por nossa Arquidiocese de Manaus – Amazonas há dois anos, ali poderia ficar ali exposta para deleite dos praticantes da devoção e a originalidade de uma honraria conferida na Catedral da Capital do Amazonas. Tudo em homenagem a sua Padroeira, Imaculada Conceição, trazida pelos Carmelitas em 1695. Logo foi intitulada Padroeira do Amazonas, da Diocese e depois da Arquidiocese. Escrevo estas impressões sobre a Imaculada Conceição, Senhora da Guarda do Amazonas e de Manaus (Capital), como razão de esperança, apesar das dores do mundo. Como a criança que um dia fui, queria ter a palavra certa, a palavra que corta e a palavra profética a que rompe o contexto sem estatuto ou meios termos; a que é isenta de arbítrios, porque sincera. Queria nestas páginas ter a palavra em carne viva, com aquela limpeza nativa e ausência de malícia que, sem ser infantilismo, revela a verdadeira essência da natureza humana capaz de entusiasmos supremos e de tirar ressurreição das dores, porque feita unicamente em nome da criança que fui. É sabido que os pintores durante séculos “esqueceram” a figura de Judas, que encarna a traição, em seus trabalhos artísticos e quando o pintavam era somente de costas, como uma sombra fugidia, ou como nas igrejas em que sua figura foi raspada das Sagradas Ceias por monges piedosos. Por isso, não quero passar a vida como uma sombra fugidia ou dar as costas às dores do mundo… Não quero ser imagem apagada, inânime sem refletir “obras que são amores”. Queria, sim, que estas palavras se cumprissem realmente e nunca fossem vãs como um beijo de horto. A criança que fui, jamais perdoaria o meu eu-traidor-de-sonhos-e-dons mais queridos…
CARMEN NOVOA SILVA, é Teóloga e membro da Academia Amazonense
de Letras e da Academia Marial do Santuário de Aparecida-SP