Por Juarez Baldoino da Costa (*)
O prefeito de Manaus e o governador do Amazonas têm dado declarações divulgadas pela mídia de que a ZFM protege a floresta, o que indica aparentemente desatenção de suas respectivas assessorias por não estarem subsidiando os governantes com dados oficiais.
Os 47.145 km² desmatados na Amazônia nos últimos 8 anos segundo o INPE – Instituto Nacional de Pesquisa Espacial divulgados em 30/11/2022 contrariam o discurso, com destaque para o Amazonas que é o segundo estado que mais desmatou com recordes sucessivos.
Manaus, também contida na estatística, só está conseguindo preservação florestal principalmente em áreas federais, como os aeroportos, as áreas das Forças Armadas e os 600 hectares da UFAM – Universidade Federal do Amazonas. As invasões se sucedem no Tarumã, na Zona Leste e até na Reserva Florestal Adolpho Ducke na Zona Norte, tendo como vetor principal justamente a ZFM, e nas barbas das instituições com função de proteção ambiental.
Ao mesmo tempo o PIM – Polo Industrial de Manaus tem batido recordes também sucessivos de faturamento segundo a Suframa – Superintendência da Zona Franca de Manaus, tendo atingido R$ 159 bilhões em 2021 e R$ 113 bilhões até agosto de 2022, com projeção para R$ 174 bilhões até o final do ano.
Quanto mais ZFM, menos floresta; elas não se conversam.
Não se discute aqui o mérito da criação de empregos pela ZFM, o que é uma outra discussão.
Estes dados oficiais corroboram estudos científicos (nota 1) que não foram contestados e confirmaram que a proteção da floresta pela ZFM é impraticável e inexistente, já que a atividade industrial da ZFM não tem relação com a exploração da floresta, entre outros fatores neles amplamente demonstrados.
As opiniões sobre um cenário hipotético de extinção da ZFM no qual haveria suposta debandada dos trabalhadores de Manaus para o interior causando desmate, foram também amplamente abordadas nestes estudos.
Não se discute aqui o mérito do desmatamento, se é benéfico ou não, e considere-se, em qualquer análise, que as áreas desmatadas geraram renda, o que é também uma outra discussão.
A narrativa política que contraria a ciência e ainda é predominante na mídia de que o PIM protege a floresta se baseia em outros estudos (nota 2) que já foram questionados e superados, e talvez ainda se sustentem pela facilidade de apelo na esteira da agenda mundial sobre o meio ambiente.
Entretanto, se a COP – Conferência do Clima de 2025 for em Manaus, que é a sede da ZFM, e tendo nestes encontros normalmente a participação de representativo público técnico que está atento ao que é publicado cientificamente, o que nem sempre é coberto pela mídia, e se a narrativa política de que a ZFM protege a floresta estiver em evidência, poderá haver constrangimento internacional do Brasil.
Poderá até haver mostra no evento sobre a temática.
Há tempo ainda para buscar a verdade, criando bases confiáveis inclusive para cobrar os dólares prometidos para proteger a floresta, se os quisermos.
A ZFM, diferente da floresta amazônica, não é prioridade internacional, mas para o país, é preciso divulgar os reais fundamentos que a justifiquem sem lançar mão do subterfúgio da proteção da floresta.
(nota 1)
https://ichlufamblog.wordpress.com/2016/12/16/pesquisa-estuda-viabilidade-da-preservacao-da-floresta-com-as-atividades-do-pim/; https://www.instagram.com/amazonia.et.al/; www.scielo.br/j/neco/a/ZCxtXxGQ9Pvd3c7H9Gv4zxR/?lang=pt&format=pdf
(nota 2)
https://www.institutopiatam.org.br/wp- content/uploads/2021/03/livro_pim_discurso_ou_fato.pdf; e
(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.