A vida e a atuação pública de José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), conhecido como Barão do Rio Branco, filho do também diplomata e estadista Visconde do Rio Branco, constituem um dos capítulos mais relevantes e fascinantes da história política republicana brasileira.
Desde a infância, Rio Branco demonstrou habilidades notáveis, sendo educado nos círculos aristocráticos do Império. Seguindo os passos de seu pai, destacou-se nos estudos de Direito, História e Geografia, disciplinas que o acompanhariam por toda a vida e que desempenhariam um papel central em sua missão como arquiteto das fronteiras nacionais.
Além de sua carreira diplomática, Rio Branco contribuiu ativamente para diversas publicações de sua época, como a Revista Popular, L’Illustration, A Nação e o Jornal do Brasil. Como intelectual público, sempre demonstrou profundo interesse por diplomacia, guerra e assuntos internacionais, tornando-se natural sua entrada na carreira diplomática.
Sua trajetória na diplomacia teve início com cargos de destaque no corpo diplomático brasileiro. Foi Cônsul-Geral do Brasil em Liverpool, uma das cidades industriais e comerciais mais importantes da Inglaterra, e também atuou em diversas cidades alemãs, aproveitando o avanço da Revolução Industrial no país de Bismarck. Residiu na Alemanha por quase trinta anos, aprofundando seus conhecimentos sobre política e economia internacional.
De volta ao Brasil, Rio Branco participou de dois importantes litígios fronteiriços. O primeiro, em 1900, envolveu Brasil e França em relação aos territórios do Amapá e da Guiana Francesa. A arbitragem internacional conduzida pelo governo da Suíça consolidou a fronteira brasileira no Oiapoque. O segundo caso foi a Questão de Palmas, um conflito territorial com a Argentina envolvendo terras nos atuais estados do Paraná e Santa Catarina. Neste caso, a arbitragem ficou a cargo dos Estados Unidos, que decidiram em favor do Brasil.
Com tais sucessos, Rio Branco tornou-se o nome natural para assumir a chancelaria brasileira, coordenando as ações do corpo diplomático da República. Sua política externa se pautou por cinco grandes objetivos estratégicos:
1. Supremacia compartilhada na América do Sul;
2. Restauração do prestígio internacional do Brasil;
3. Intangibilidade da soberania nacional;
4. Defesa da agroexportação como base da economia;
5. Solução pacífica de questões fronteiriças.
No entanto, foi na resolução da Questão do Acre que o Barão do Rio Branco consolidou sua reputação como um dos maiores diplomatas da história do Brasil. O conflito teve origem na ocupação da região por seringueiros brasileiros, em uma área que a Bolívia tentava arrendar ao Bolivian Syndicate, um consórcio estrangeiro de capital majoritariamente inglês. Em resposta, os colonos brasileiros iniciaram uma revolta visando incorporar o território ao Brasil.
Para resolver a questão, Brasil e Bolívia assinaram o Tratado de Petrópolis, em 1903. Pelo acordo, o Brasil incorporou o Acre mediante uma compensação financeira de dois milhões de libras esterlinas e a cessão de algumas áreas no Mato Grosso. Esta negociação foi um marco na diplomacia brasileira, garantindo a expansão pacífica do território nacional sem recurso a conflitos armados.
O reconhecimento ao legado do Barão do Rio Branco foi imediato e profundo. No dia de sua morte, em 10 de fevereiro de 1912, durante o Carnaval no Rio de Janeiro, o Gazeta de Notícias publicou um necrológio emocionado:
“Morreu ontem o Barão do Rio Branco. Há dias sua vida era uma agonia prolongada pelos recursos da ciência. A cidade, os estados, o país inteiro, as nações vizinhas, a América, o mundo indagavam ansiosos sobre a saúde do grande homem. E o grande homem caíra para não mais se levantar. Fora como um imenso sobro, que, resistindo anos e anos ao vendaval e à intempérie, dominando a vida, de repente estala e cai. Dizer do Barão do Rio Branco uma rápida impressão de dor, de luto, de lágrimas, quando o país inteiro soluça, é bem difícil. E sua obra foi enorme e grandiosa. Ele teve duas vidas: a do jornalista de talento que se fez cônsul e a do cônsul que se transformou no maior dos brasileiros pelo seu desinteressado amor à Pátria e no maior dos diplomatas contemporâneos pelo seu alto espírito e pela alta compreensão da função que exercia. Ele foi o dilatador do Brasil, alargando-o e aumentando-o em terras, graças ao seu engenho, sem um leve ataque à justiça e ao direito”.
A morte de Rio Branco, ocorrida em pleno Carnaval, levou a cidade do Rio de Janeiro a interromper momentaneamente suas festividades. O Brasil se despedia de um de seus maiores estadistas, cuja obra permanece como um legado fundamental para a identidade e a soberania nacional.
Mais de um século após sua partida, sua memória segue viva, inspirando novas gerações de diplomatas e estadistas. Como naquele longínquo 10 de fevereiro de 1912, o Carnaval nunca mais foi o mesmo sem ele.
*é cientista político
