Segundo ano da política externa do governo Lula

Em: 15 de janeiro de 2025

O segundo ano da política externa do governo Lula tem sido marcado por um enfoque estratégico na cooperação internacional e na integração regional, com atenção especial à sustentabilidade, à diplomacia ambiental e à busca por soluções pacíficas para desafios globais.

A retomada de um protagonismo ativo em arenas multilaterais e a promoção de parcerias bilaterais refletem os esforços do Brasil em consolidar sua posição como líder regional e influente globalmente. Assim, busco sumarizar os principais eixos dessa estratégia, abordando a atuação do Brasil na América do Sul, África, Europa e Ásia, bem como sua participação em blocos multilaterais como o BRICS.

O Brasil reafirma seu compromisso com o fortalecimento do Mercosul, destacando a importância da integração econômica e comercial entre seus países-membros: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A promoção de maior coesão no bloco é considerada estratégica para o crescimento regional, embora os antagonismos ideológicos das principais lideranças, sobretudo entre Javier Milei e Lula, representem desafios. Investimentos em projetos transnacionais, como corredores logísticos e iniciativas de integração energética, são fundamentais para aumentar a conectividade e promover o desenvolvimento conjunto da região.

A cooperação no setor energético é fortalecida por projetos como o Gasoduto Néstor Kirchner, que busca consolidar a autossuficiência energética regional. Brasil e Argentina também colaboram em questões multilaterais, principalmente no âmbito do Mercosul, do G20 e nos recentes acordos com a União Europeia após vinte anos de negociação.

O Brasil exerceu um papel ativo como mediador no diálogo político interno da Venezuela, promovendo estabilidade política e lisura no processo eleitoral. A cooperação em áreas sociais, como saúde e segurança alimentar, também é uma prioridade na agenda com países vizinhos.

No campo ambiental, a parceria com países como Chile e Colômbia é aprofundada por meio do intercâmbio de experiências em transição energética e no combate às mudanças climáticas. Esforços conjuntos para enfrentar o crime transnacional e fortalecer a segurança pública também merecem destaque.

O Brasil reafirma sua liderança na preservação da Amazônia como patrimônio regional e global. A cooperação com países vizinhos é essencial para combater o desmatamento, fomentar a bioeconomia e implementar políticas integradas de conservação ambiental. As reuniões promovidas pela OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica) foram fundamentais para os alinhamentos da COP-30 programada para este ano, em Belém (PA).

Com foco na cooperação fronteiriça com Bolívia, Colômbia e Paraguai, o Brasil intensifica o intercâmbio de informações e realiza operações conjuntas contra o tráfico de drogas, armas e contrabando. Além disso, apoia o fortalecimento institucional na região, defendendo os direitos humanos e promovendo políticas de acolhimento a refugiados, com ênfase especial nos venezuelanos.

O alinhamento de interesses sul-americanos no BRICS é estratégico para ampliar a participação regional em decisões globais. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) desempenha um papel crucial no financiamento de projetos estratégicos na região.

O Brasil reforça seus laços históricos e culturais com os países africanos, especialmente os lusófonos, expandindo a cooperação em áreas estratégicas como agricultura, saúde, educação e energias renováveis.

Projetos voltados ao combate à fome e à insegurança alimentar, bem como à adaptação às mudanças climáticas, ocupam um lugar central na agenda de cooperação. A ampliação de parcerias para enfrentar doenças como malária, HIV e COVID-19, com apoio de instituições como a Fiocruz, é uma prioridade já consolidada.

O Brasil também amplia bolsas de estudo para estudantes africanos e investe em programas de formação de professores e qualificação técnica. No campo da cooperação técnica militar, há esforços em treinamento e fornecimento de equipamentos, além de iniciativas para combater o crime transnacional.

Apoiar o protagonismo africano em organismos multilaterais e defender reformas que aumentem sua representação são pilares da política externa brasileira para o continente.

A conclusão do acordo Mercosul-União Europeia foi um marco importante nos esforços da política externa brasileira, considerando as preocupações com a agenda ambiental, agrícola e industrial. A ampliação das exportações brasileiras e o incentivo a investimentos europeus em infraestrutura e transição energética são estratégicos.

A cooperação em iniciativas como o Fundo Amazônia e no desenvolvimento de energias renováveis, incluindo hidrogênio verde, ocupa um papel central na diplomacia ambiental patrocinada pelo governo brasileiro. Além disso, o Brasil promove trocas de experiências sobre políticas de acolhimento a refugiados, integração de migrantes e combate à discriminação racial e de gênero.

O Brasil busca avançar em acordos bilaterais com China, Índia, Japão e Coreia do Sul, promovendo investimentos e reduzindo barreiras comerciais. A cooperação em energia renovável e tecnologia, além do comércio de produtos agrícolas, ocupa lugar de destaque na agenda internacional do país.

A ampliação das exportações de carne halal, soja e produtos industrializados é estratégica para atender às demandas da região. O Brasil adota uma postura equilibrada em questões geopolíticas, defendendo soluções pacíficas para conflitos e promovendo parcerias com organizações regionais.

O Brasil enxerga o BRICS como um fórum essencial para a articulação política e econômica entre países em desenvolvimento. O fortalecimento de suas instituições, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), é fundamental para viabilizar projetos de infraestrutura e energia sustentável. A promoção de parcerias tecnológicas entre os membros também figura como prioridade.

A política externa do governo Lula, em seu segundo ano, demonstra um compromisso renovado com a cooperação internacional, o multilateralismo e a sustentabilidade na esfera regional, principalmente. Ao promover uma abordagem equilibrada e inclusiva, o Brasil busca não apenas fortalecer sua posição regional, mas também contribuir ativamente para soluções globais, embora tal estratégia não tenha surtido grandes efeitos no último ano. O acordo Mercosul-UE, na diplomacia ambiental e nas parcerias bilaterais ilustram o potencial de uma política externa centrada em valores como solidariedade, justiça social e responsabilidade climática. O desafio, no entanto, permanece em traduzir essa visão em resultados concretos e duradouros que beneficiem tanto o Brasil quanto a comunidade internacional.

Breno Rodrigo

É cientista político e professor de política internacional do diplô MANAUS. E-mail: [email protected]
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