SETEMBRO AMARELO

Em: 3 de setembro de 2022

Setembro chegou. Mais uma vez vamos vestir amarelo e – o que é mais importante – falar sobre prevenção ao suicídio. 

A campanha Setembro Amarelo existe, no Brasil, desde 2014. Porém, como muitos ainda não a conhecem ou não sabem bem do que se trata, ou tem poucas informações sobre os objetivos envolvidos, o momento é oportuno para que a iniciativa seja esclarecida e receba o merecido destaque. 

O foco da campanha é a prevenção ao suicídio. Evidentemente, como prevenir suicídios é necessário 365 dias por ano, emergem as indagações quanto às razões para a escolha do mês de setembro especificamente e, além disso, qual o vínculo da cor amarela com o tema.

Em setembro de 1994, nos Estados Unidos, um jovem chamado Mike Emme, de apenas 17 anos, cometeu suicídio. Precisava de ajuda para não ter chegado a tal extremo, mas seus pais, infelizmente, não perceberam os sinais que traduziam pedidos de socorro. Antes da tragédia, como Mike gostava de automóveis e era habilidoso em mecânica, havia reformado um veículo Mustang 1968, pintando-o de amarelo, fato que se tornou conhecido na comunidade. Assim, no dia de seu velório, foram distribuídos cartões decorados com fitas amarelas (cor que agradava a Mike), trazendo os seguintes dizeres: “se você precisar, peça ajuda”.

A iniciativa ligada ao caso de Mike Emme foi o ponto de partida para um movimento importante de prevenção ao suicídio nos Estados Unidos, pois os cartões com fitas amarelas multiplicaram-se e puderam chegar às mãos de muitas pessoas que precisavam de apoio. Em consequência dessa triste história, o laço amarelo foi escolhido como símbolo da luta contra o suicídio, da mesma forma que o mês de setembro, por ter sido aquele em que o jovem Mike perdeu a vida. 

No Brasil, 10 de setembro é o dia D da campanha, à frente da qual estão entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV); a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina. 

São ainda alarmantes os índices de suicídio, infelizmente: a cada 40 segundos, alguém, em algum lugar do Planeta, tira a própria vida. Contando os dados oficiais e considerando as subnotificações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima em mais de um milhão por ano os suicídios no mundo. No Brasil, há um número próximo de 14 mil casos anuais, significando que, em média, 38 pessoas cometem suicídio por dia em nosso País. 

O suicídio é também a segunda maior causa de morte entre adolescentes e jovens adultos, em nível mundial. Embora os números venham apontando para uma diminuição em todo o mundo, segundo a OMS os índices dos países das Américas, na contramão dessa tendência, seguem aumentando.

Nesse cenário lamentável, cabe enfatizar uma constatação importantíssima: a quase totalidade dos casos de suicídio guarda relação com doenças mentais, principalmente quando não diagnosticadas ou se tratadas incorretamente. Por tal razão, o acesso a um tratamento e a informações de qualidade certamente tornaria evitável a grande maioria das tragédias. 

Sabemos que o suicídio sempre foi tratado como um grande tabu. A maior parte das religiões, por exemplo, não permitia que os suicidas fossem enterrados em “solo santo”. Até mesmo no âmbito da saúde mental, até bem pouco tempo atrás orientava-se o profissional a não falar com seu paciente sobre suicídio, se o próprio paciente não trouxesse o tema. A justificativa? “Para não dar a ideia”. Hoje, tem-se como totalmente descabida essa crença. É fundamental falar e falar, principalmente para os mais jovens, pois o suicida não quer, efetivamente, acabar com a vida; quer acabar com a dor, que é imensa. E todos precisam entender que é possível, sim, acabar com a dor sem acabar com a vida. 

Suicídio é um problema de saúde pública e como tal deve ser enfrentado. Nesse propósito, a campanha Setembro Amarelo é de fundamental importância. Se precisar, peça ajuda.

Karina Bessa

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