Imagine que você é um gerente recém-promovido, com uma trajetória de sucesso, mas algo o impede de se sentir à altura do novo cargo. Na primeira reunião com a equipe, o pensamento teima em aparecer: “Será que eles vão perceber que eu não sou tão bom quanto aparento?”
Esse sentimento tem nome: Síndrome do Impostor. É uma condição em que a pessoa duvida de suas próprias conquistas, temendo ser “descoberta” como uma fraude, mesmo que tenha provas sólidas de competência e conquistas. Isso acontece muito no mundo corporativo, especialmente com profissionais em posições de liderança.
A Síndrome do Impostor é uma condição psicológica que faz com que muitas pessoas se sintam inadequadas e subestimem suas próprias conquistas, mesmo quando possuem todas as qualificações para o sucesso. Aqueles que vivem com essa síndrome acreditam que seu sucesso é fruto de sorte ou circunstâncias externas, e não de suas habilidades e esforços. Esse fenômeno, que afeta profissionais de todas as áreas, pode se tornar uma barreira significativa ao avanço na carreira e à saúde mental.
E o impacto disso? Pode ser devastador. A síndrome do impostor age como uma trava na carreira, limitando o potencial de crescimento e até impedindo que se aceitem novas oportunidades. Muitos líderes evitam assumir grandes desafios ou delegar tarefas, receando que qualquer erro exponha uma “falha” imaginária.
A boa notícia é que é possível quebrar esse ciclo e desbloquear todo o potencial, transformando a síndrome do impostor em uma ponte para uma liderança mais autêntica e confiante. A superação dessa síndrome exige prática e coragem.
Reconhecer os sinais da Síndrome do Impostor é o primeiro passo para entender o impacto que ela pode ter.
Um dos indicadores mais comuns é a autocrítica excessiva, que faz a pessoa minimizar constantemente suas realizações. Em vez de celebrar suas vitórias, quem sofre dessa síndrome tende a focar em seus próprios erros e fraquezas, acreditando que nunca será “boa o suficiente.” Além disso, o medo de ser “descoberta” como uma fraude gera um estado constante de alerta, levando a comportamentos de controle e perfeccionismo.
A comparação frequente com colegas de trabalho é outro sinal de alerta. Muitos que enfrentam essa síndrome acreditam que todos ao seu redor são mais competentes ou talentosos, reforçando a sensação de inadequação. Essa insegurança constante pode levar a evitar desafios, recusando novos projetos ou promoções, pelo medo de falhar e ser exposta. Com o tempo, essa atitude de recuo cria um ciclo de autossabotagem, minando o progresso profissional e afetando a autoestima.
As consequências da Síndrome do Impostor vão além da insegurança individual e impactam diretamente a carreira. A primeira e mais evidente é a limitação do crescimento profissional. A recusa em aceitar oportunidades e desafios resulta na perda de visibilidade e reconhecimento, fatores essenciais para a evolução no mercado de trabalho. Esse quadro é agravado pela procrastinação e pelo perfeccionismo, que podem diminuir a produtividade e até comprometer a eficácia do trabalho.
Além disso, a pressão constante para manter uma aparência de competência e perfeição gera estresse e esgotamento físico e mental. A pessoa sente-se sobrecarregada, tentando sustentar um desempenho impecável que, na sua visão, deve ser mantido a todo custo. Esse ciclo exaustivo leva a problemas de relacionamento no ambiente de trabalho, dificultando a construção de uma rede de apoio profissional e o trabalho em equipe, essenciais para seu crescimento.
Superar a Síndrome do Impostor é possível, mas exige um esforço consciente e contínuo. Uma estratégia eficaz é aprender a reconhecer e validar as próprias realizações. Manter um registro de vitórias e feedbacks positivos pode ajudar a construir uma visão realista de sua competência. Também é útil adotar uma perspectiva externa, questionando-se como veria outra pessoa com a mesma trajetória e conquistas. Esse exercício de empatia consigo mesma ajuda a reduzir a autocrítica.
A autocompaixão também é uma prática fundamental. Em vez de buscar o perfeccionismo, é importante tratar a si mesma com gentileza, aceitando que os erros são parte do aprendizado. Construa, também, uma rede de apoio profissional, que ofereça encorajamento e diferentes perspectivas sobre suas habilidades e conquistas. Esse apoio ajuda a desmistificar a ideia de “fraude” e fortalece a confiança ao enfrentar novos desafios.
Outra dica importante é estabelecer objetivos realistas, que permitam o crescimento gradual. Definir metas atingíveis ajuda a manter a motivação e permite avaliar o progresso de maneira concreta, sem desânimo. Para complementar, desenvolva um diálogo interno positivo, substituindo pensamentos autocríticos por afirmações que valorizem seu esforço e progresso. Quando surgirem pensamentos como “não sou boa o suficiente,” pratique dizer “estou fazendo o meu melhor e posso aprender no processo.”
Pedir feedback construtivo é uma forma prática de lidar com a Síndrome do Impostor. Ouvir diretamente de colegas e superiores sobre o próprio desempenho traz uma visão externa mais equilibrada e menos crítica. Esse retorno ajuda a perceber o valor das próprias contribuições e a reconhecer pontos fortes que, muitas vezes, passam despercebidos no dia a dia.
Lidar com a Síndrome do Impostor é uma jornada de evolução pessoal. Superá-la não significa eliminá-la completamente, mas aprender a reconhecer seus sinais e gerenciar a autocrítica. Através desse processo de autoconhecimento, é possível desenvolver uma percepção mais saudável e equilibrada de si mesma, abrindo caminho para uma carreira mais produtiva e satisfatória.
Lembre-se: É um Caminho de Evolução. Lidar com a Síndrome do Impostor não significa eliminá-la completamente, mas aprender a reconhecer seus sinais e manejar a autocrítica. Muitas vezes, ao iniciar o processo de autoconhecimento e ressignificação de suas crenças, a pessoa consegue desenvolver uma percepção mais saudável de si mesma e de suas competências, permitindo que sua carreira flua de maneira mais natural e positiva.
Conquistar essa síndrome é possível e, no final, pode até fortalecer sua autoconfiança e resiliência, elementos fundamentais para o sucesso e bem-estar na vida profissional.
Cintia Lima
Psicóloga e Mentora de Líderes
@psi.cintialima