A Amazônia enfrenta elevados níveis de desperdício de recursos e sérios problemas ambientais, em grande parte decorrentes da ação humana. Contudo, as propostas para as Prefeituras e Governos de Estado não priorizam a Economia Circular como estratégia central para enfrentar esses desafios e promover uma transição para uma sociedade de baixas emissões de carbono. Como, então, transformar uma cidade linear em circular? Este artigo apresenta conceitos, dois relatórios bibliométricos e destaca iniciativas como o Pacto Verde Europeu e a Declaração das Cidades Circulares, oferecendo insights valiosos para orientar tomadores de decisão na região.
Segundo o IBGE, em 2022, a Amazônia brasileira legal é composta por nove Estados que totalizam cerca de 775 municípios. Esses municípios ocupam cerca de 59% do território brasileiro e apesar de suas grandes potencialidades que poderiam gerar emprego e renda de forma sustentável, elas ainda enfrentam desafios socioambientais significativos, como baixo nível de reciclagem e altos níveis de desmatamento, de queimadas, de desperdícios de água, energia, de alimentos, sem contar com infraestrutura precária. Parte desses problemas ocorre devido ao modelo linear de cidade que vem sendo adotado pela elite governante, e para reverter esse triste quadro, uma das medidas seria fazer a transição para uma cidade circular.
Uma cidade linear é aquela baseada em um modelo econômico tradicional que foca em estimular a sociedade a adotar os seguintes hábitos “extrair-produzir-descartar”, onde os recursos naturais são consumidos para fabricar produtos, que são utilizados e posteriormente descartados como resíduos. Esse sistema prioriza o ganho econômico imediato, com lucros de curto prazo, mas que geram desperdício, esgotamento de recursos e altos níveis de poluição.
Por outro lado, o conceito de cidade circular adota a economia circular com abordagem sustentável, promovendo o reaproveitamento de recursos e a minimização de resíduos. Nesse modelo, a economia é desenhada para estimular a sociedade a reutilizar, reciclar e regenerar, buscando reduzir a dependência de novos recursos e minimizar o impacto ambiental.
Fazer uma transição de um modelo de cidade linear para o circular traz inúmeras vantagens, tais como redução de resíduos e desperdícios, eficiência no uso de recursos, descarbonização e melhoria da qualidade do ar, geração de empregos verdes, inovação e o mais importante, mudança de comportamento nos gestores locais e nos habitantes, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.
Quem deseja se aprofundar no tema, do ponto de vista científico, elaborei dois relatórios bibliométricos: R1) o primeiro (https://link.lens.org/5ZZUPunOuSb) contém 11315 publicações de artigos, livros, congressos e dissertações, cujo título e resumo possuem as palavras “Circular Economy”; o segundo (https://link.lens.org/cI6yPkttWFf) com 101 publicações envolvendo o tema “Circular City”, contendo uma literatura rica em definições, modelos, autores, campos de estudo, revistas, etc.
Quem deseja se aprofundar no tema, do ponto de vista gerencial, prático, para ser adotado com adaptações em nossas cidades, recomenda-se o estudo do Pacto Verde Europeu (PVE) e da Declaração das Cidades Circulares (DCC).
O PVE (https://tinyurl.com/4k744cxu) foi apresentado em 11 de dezembro de 2019 e deveria ser material de estudo de presidentes, ministros, prefeitos, secretários e outros formuladores de políticas públicas, pois o documento possui uma série de medidas, programas e projetos para enfrentar as mudanças climáticas e a degradação ambiental, a fim de tornar-se o primeiro continente neutro em carbono até 2050.
Para tanto, o PVE colocou o conceito de economia circular no centro dos esforços para transformar a União Europeia em uma sociedade justa e próspera, onde o crescimento econômico é desvinculado do uso de recursos e dos danos ambientais.
Neste link (https://tinyurl.com/mvpftusa), encontra-se a Declaração das Cidades Circulares (DCC), que define o conceito de cidade circular como aquela que promove a transição de uma economia linear para uma economia circular de forma integrada, em cooperação com cidadãos, empresários e a comunidade científica. Cerca de 85 cidades ou regiões metropolitanas já assinaram a DCC, algumas das quais estão sendo testadas como projetos-piloto. O documento também oferece uma compreensão do metabolismo urbano e acesso aos projetos em implementação, tais como:
P1) o CityLoops que está sendo realizado em sete cidades pilotos, o qual, entre outras coisas, está desenvolvendo um sistema compreensível de indicadores chaves para cidades circulares;
P2) o Circular PP que visa desenvolver uma estrutura adequada de aquisições (compras) circulares para os países pertencentes a região báltica.
Além deles, há os projetos Biovoices, Circuit, Biowaste, Houseful, Plasticircle, Pop-Machina, Reflow e Scalibur, todos (https://tinyurl.com/5t34ra5c) com soluções interessantes que poderiam servir de inspiração e até formação de parcerias para os gestores e empreendedores visionários da nossa região.
O documento também possui o Plano de Ação da Economia Circular contendo medidas para setores chaves que possuem grande potencial para inovações circulares, tais como Ambiente Construído, Energia, Material Orgânico e Resíduo Biológico, Eletrônicos e Tecnologias de Informação e Comunicação, Embalagens e Plástico, Têxtil e Água.
A adoção de um modelo de cidade circular adaptado à Amazônia pode reverter os desafios ambientais e o desperdício de recursos. Iniciativas como o Pacto Verde Europeu e a Declaração das Cidades Circulares oferecem diretrizes valiosas. Nos próximos artigos, serão apresentadas as boas práticas de cidades-modelo em economia circular que os gestores da nossa região podem considerar para garantir um futuro mais sustentável para as próximas gerações.