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Sua majestade o tucunaré

Circula na Câmara de Vereadores um projeto de lei que visa impedir a comercialização do tucunaré nas feiras, mercados e supermercados de Manaus. A medida visa dar proteção ao peixe mais procurado na pesca esportiva. O projeto limita-se ao tucunaré-açu durante os meses de defeso. De autoria do Vereador Caio André, não fará diferença à mesa do manauara, uma vez que o tucunaré é apenas o oitavo peixe mais consumido na capital. A nosso ver, a proibição deveria se estender pelo ano inteiro a todas as variedades de tucunarés.

A medida já tem o apoio das comunidades onde a pesca esportiva é praticada. Um peixe que pode render cinquenta reais ao pescador, se vendido a peso, renderia pelo menos três vezes mais na pesca esportiva e a natureza não seria privada dele. Uma pousada de pesca cobra aos pescadores um valor em torno de quinhentos reais pelo uso de um bote, com gasolina e piloteiro. Normalmente os pescadores que vão bem ainda gratificam ao piloto por tê-los levado a um bom lugar de pesca. O peixe que, depois de pescado, medido e fotografado volta ao rio, é “vendido” a um preço muito maior do que aquele que é consumido. Em outras palavras: o peixe rende mais que o triplo e continua vivo. O ribeirinho que o consome normalmente, não seria afetado pela lei.

Esse assunto nos leva a outro animal que foi preservado durante muitos anos e agora desequilibra a natureza por ser predador. Falamos do jacaré, cuja preservação o ribeirinho não entende. Ele é uma ameaça para pequenos animais e até crianças, além de se alimentar de peixes necessários à mesa do morador dos beiradões. O governo enfrenta alguma oposição na liberação de carne de jacaré. Oposição, diga-se de passagem, não daqueles que sofrem a ação predadora desse animal, mas dos tecnocratas de escritório. 

A natureza é cheia de regras difíceis de cumprir. Em uma localidade em que há onça à solta, toda a criação de outros animais fica prejudicada. Costumamos imitar os americanos em muitas coisas. Assistimos na televisão dos EUA o controle da população dos crocodilos via abate, mas não seguimos essa prática aqui. Para o ribeirinho, o jacaré sempre é problema e raramente refeição. O consumo de peixe e jacaré pela população ribeirinha em nada afeta a vida animal. Contudo, a proibição de comercialização do tucunaré pode despertar o morador dos rios e lagos para outra atividade econômica e para maior consciência ambiental. Com o tramitar da lei, provavelmente receberá detalhamento sobre seu uso em restaurantes.

Toda regulamentação pode enfrentar oposição no início. A criação de peixes em cativeiro diminuiu a necessidade do peixe do lago e pode, com o tempo, poder superá-la por inteiro na periferia da capital. A criação de peixes também encontrou oposição entre os “tradicionais” que nunca iriam consumi-lo. Esse mesmo comportamento havia no passado com o consumo de frangos de granja, com os ovos e suínos. Hoje o consumo de galinhas caipiras está limitado a uma pequena parcela de idosos. 

O que pode não ter sido a intenção inicial ao criar a lei pode, no entanto, ser o motivo para que ela encontre aceitação imediata. O turismo, que na cidade é pífio porque o dinheiro gerado pelo polo industrial acomoda o poder público, pode ser alavancado por esta lei. O turismo de pesca esportiva já atrai aficionados em número cada vez maior. Com o aumento do tucunaré, o crescimento pode ser estratosférico. Incrementar em Manaus e, de quebra, em todo Amazonas a chamada indústria sem chaminé, é realmente auspicioso. O peixe na natureza ter mais valor que na panela é um fato já constatado no mundo inteiro. Oxalá encontremos também uma saída tão humana para nossa floresta. (Luiz Lauschner)

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