Continuando a narrativa, aliás história coordenada por Max Savelle inspirada no original “A History Of World Civilizaxion”, publicada por Henry Holt Company, Inc., traduzida por Milton Amado, temos que a 5 de maio de 1789, a maior parte dos 1200 deputados estava presente à sessão de instalação dos Estados Gerais, em Versalhes.
Eram um grupo notável. Os representantes do Terceiro Estado formavam a nata da classe média educada, mas entre eles havia também um punhado de aristocratas “renegados”, como o conde de Mirabeau, e clérigos como o Abade Sieyés. Todos estavam dispostos a dar ao rei ajuda financeira, mas os mais vigorosos líderes do Terceiro Estado haviam-se decidido, em troca, a obter algumas garantias seguras de reformas.
Iriam ter algum apoio para esse programa de reforma, nas fileiras do Primeiro e do Segundo Estados, notadamente entre deputados do clero. E que os mais altos postos da Igreja fossem monopolizados por aristocratas, ansiosos por defender os privilégios tanto da Igreja como da nobreza, a massa dos padres da paróquia era recrutada dentre o povo comum. Muitos desses humildes eclesiásticos, que nos Estados Gerais ultrapassavam em número os bispos e arcebispos, eram aliados em potencial dos reformadores. Também entre a nobreza podiam ser encontrados uns poucos idealistas, tais como o Marquês de Lafayette, preparados para uma nova era e ansiosos por ela.
Se o rei tivesse escolhido jogar ao lado do Terceiro Estado em favor da reforma, é provável que tivesse salvado a monarquia francesa. Mas, embora bem intencionado e generoso, era fraco de espírito e cabeçudo, e havia em seu caráter uma tintura de duplicidade. Dominado por seus conselheiros aristocratas e por sua rainha frívola e de mentalidade acanhada, deixou de compreender a força da corrente reformista. Na sessão inaugural dos Estados Gerais, começou por deixar os deputados à espera a manhã inteira, para então ler-lhes uma oração cheia de frases benevolentes, mas vazias. Mesmo Jacques Necker (1732-1780), seu ministro das finanças, que tinha fama de simpatizar com os reformadores, limitou suas observações e estatísticas sobre o deficit.
Quando o monarca saiu do salão, havia perdido sua primeira oportunidade de procrastinar a revolução colocando-se à frente do caminho da reforma. Falhara também em decidir uma disputa crítica sobre a organização dos Estados Gerais: reunir-se-iam como um só conjunto de 1200 deputados, em que predominariam os representantes do Terceiro Estado, ou funcionariam em três camadas diferentes, caso em que as duas ordens privilegiadas poderiam bloquear a reforma? O silêncio do rei pareceu implicar que era a favor do plano tradicional, isto é, de câmaras separadas para cada uma das três ordens.
Irritados com o silêncio do rei, os líderes do Terceiro Estado deram um golpe magistral de política: entraram em greve, recusando transigir em qualquer coisa, a menos que os outros dois Estados se juntassem a eles para formar uma só assembleia. Após um mês de paralização, a resistência do Primeiro Estado começou a enfraquecer e alguns padres vieram sentar-se com os deputados do Terceiro Estado. A 17 de junho, os plebeus sentiram-se bastante fortes para tomar a iniciativa e proclamaram-se a Assembleia Nacional da França. Tarde demais, o rei e seus conselheiros decidiram decapitar essa fatal medida e deram instruções para que os Estados se reunissem separadamente. Indômitos, os deputados fizeram o juramento de perseverar até poderem dar à França uma constituição. (Continua).