Testes e retestes estruturais

Em: 31 de janeiro de 2025

Os testes e retestes estruturais se configuram como verdadeiro desafio aos cientistas nos seus esforços de produção tecnológica. O próprio termo “estrutura” muitas vezes não tem o entendimento claro e preciso requerido; pelo contrário, ainda é revestido de uma ambiguidade danosa e que tem comprometido o sucesso de muitas inovações promissoras. Muita gente fala, por exemplo, de estrutura social, estrutura familiar e estrutura econômica sem saber com exatidão o que querem que o interlocutor entenda quando esses termos são utilizados. Regra geral, o termo estrutura designa uma função matemática composta por formalização, centralização e complexidade no eixo dos x. Formalização são regras, leis, regimentos e similares; centralização é o quanto o poder está contido em uma, poucas ou muitas pessoas; e centralização é uma outra função, que contém no eixo do x diferenciação horizontal, diferenciação vertical e dispersão espacial. Estamos fazendo essa decomposição para mostrar que o termo “estrutura”, para a ciência, não é algo vago, confuso, ambíguo, mas também para demonstrar que não é algo simples, que qualquer pessoa possa entender e aplicar. De qualquer forma, para os esforços de criação tecnológica, estrutura pode ser entendida simplesmente por quantidade de peças, componentes, subcomponentes e partes que uma tecnologia ou protótipo apresenta. Por essa razão, uma mesa tecnológica pode ter como estrutura um tampo, quatro pernas ou sustentação e componentes eletrônicos, o que significa três partes que, unidas, fazem o artefato funcionar. Dessa forma, os testes e retestes estruturais se referem justamente à garantia de que a tecnologia ou protótipo apresenta as partes essenciais para que o seu funcionamento possa entregar os benefícios que dele se espera.
Os testes e retestes estruturais são avaliações. Embora as avaliações sejam todas de ordem quantitativa (não devemos esquecer que a qualidade só pode ser aferida quantitativamente), todas elas têm o desafio de apresentar valorações do tipo “conforme” ou “desconforme”, “aprovado” ou “reprovado”, “adequado” ou “inadequado” e assim por diante. E o foco dessas valorações são exatamente os requisitos especificados do produto. Dito de outra forma, todos os testes e retestes estruturais estão voltados para garantir que a tecnologia apresenta a qualidade e a confiabilidade que foi acertada ou prometida ao seu público-alvo. Isso implica na necessidade de se realizar todos os testes necessários para a garantia dos requisitos, em primeiro lugar, seguidos dos testes acessórios ou secundários, ainda que eles interfiram fortemente na decisão acerca da tecnologia, como é a questão dos custos e da satisfação dos clientes.
Nunca se deve deixar de lado o aspecto lógico das avaliações estruturais. O início é o protótipo, depois que o conceito foi aprovado. Há diversos tipos de protótipos, como já mostramos. Mas os primeiros testes estruturais devem focar a composição material do protótipo, as interconexões, o número de peças de cada subcomponente, os desenhos de conexões e assim por diante. Quase nunca o protótipo é aprovado em todos os testes a que são submetidos da primeira vez. Por essa razão é sempre necessário que se façam ajustes, mudanças nas peças, subcomponentes, componentes e partes, o que exige que novos testes sejam feitos, especialmente naqueles aspectos que foram alvos de reprovação. Esses novos testes feitos para fazer os ajustes e reajustes são chamados de retestes. Os retestes só devem ser eliminados quando todas as partes da estrutura forem aprovadas. Contudo, isso não implica na mudança estrutural posterior, para que haja adequação, por exemplo, com outros aspectos da geração tecnológica, como custos, logística, armazenamento e assim por diante.
Os testes e retestes também se aplicam a tecnologias com elevada carga estrutural extrafísica, como são os casos dos aplicativos e softwares. Há um teste estrutural conhecido como caixa branca que tem quatro focos bem determinados: 1) teste do código fonte, 2) teste de cada linha de código possível, 3) testes dos fluxos básicos e 4) testes dos fluxos alternativos. Como acontece com todo tipo de testes e retestes estruturais, diversos recursos e ferramentas podem ser utilizados, como o Appium, para testes em aplicativos móveis, e o Selenium, para a realização de testes de navegadores na web de forma automática. O que queremos mostrar, com isso, é que tanto o artefato seja baseado predominantemente em artefato físico (como os computadores, televisores e naves espaciais) ou extrafísico, como os aplicativos e softwares, todos eles sempre terão uma estrutura que precisa ser testada. E quando se falar em estrutura, qualquer que seja ela, deve-se ter em mente a quantidade de partes que compõem a tecnologia que se pretende materializar.
Como tecnologia é encapsulamento de conhecimentos que resolve determinados problemas ou suprem determinadas necessidades, os tipos e modelos estruturais variam a praticamente o infinito, principalmente se se considerar que cada variação do modelo é uma nova tecnologia, os testes e retestes estruturais se aplicam a aeronaves, edifícios, pontes, calçamento de ruas e assim por diante. E, consequentemente, uma infinidade de testes e retestes estruturais já está catalogada nos repositórios tecnológicos e científicos, como os de carga, impacto, tração, explosão, ambientação, durabilidade, segurança, bem-estar e usabilidade.
Os testes e retestes estruturais precisam fazer parte da preocupação dos cientistas nos seus esforços de geração tecnológica de forma consciente e determinada. Eles precisam ser aplicados em todas as fases de desenvolvimento da tecnologia, tanto no projeto quanto nas fases de materialização. Inúmeros benefícios são auferidos com a prática dessa preocupação, tais como a melhoria do design da tecnologia, do processo de fabricação, garantia da qualidade, cumprimento de conformidade regulatória e, principalmente, a satisfação dos clientes, usuários, públicos-alvos e seus diferentes stakeholders. Talvez o maior de todos os benefícios seja não experimentar os dissabores do fracasso a que toda ação não devidamente planejada está sujeita.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
Pesquisar