21 de dezembro de 2024

“Tiro no pé” usar esse argumento para defender a ZFM

É um erro gravíssimo, é um “tiro no pé” usar como principal argumento para defender o Programa ZFM (Zona Franca de Manaus) contra os ataques do governo federal afirmar que esse modelo foi responsável por manter a floresta em pé, manter os 98% preservados, por vários motivos:

Alguns deles:

  1. Já ouvi o presidente da Fieam, Antônio Silva, em artigos e discursos técnicos bem fundamentados defendendo o programa ZFM sem qualquer vínculo com a questão ambiental, sem usar o argumento da floresta em pé. É assim que deve ser, e os motivos são simples: Existem fundamentos técnicos estatísticos para defender o modelo e, ainda, o fato de não ser verdade que foi esse modelo que preservou nossa floresta;
  2. Usar esse argumento que o modelo ZFM preservou a floresta, além de não ser verdadeiro, é dar aval à nossa incompetência que, em 55 anos, com tanta biodiversidade, com tanta importância ao mundo, não fomos capazes de melhorar a vida do nosso povo, em especial do interior. Usar esse argumento é dar munição para nos atacar; 
  3. Os gráficos abaixo, todos com dados do IBGE, mostram que depois de cinco décadas do programa ZFM temos o Amazonas com quase metade da população na condição de pobreza na capital e no interior. Não estou culpando o modelo, sem ele o caos seria total, mas é um fato, pois em 55 anos não criamos novas alternativas econômicas e os tais serviços ambientais da floresta em pé, REDD+ e Concessões Florestais ficaram apenas em bonitos discursos mundo afora. Nenhum centavo no bolso do caboclo que está lá na floresta, isto sim, identificado pelo IBGE;
  4. Além de não ter sido o modelo o responsável pela floresta em pé. Pergunto: que modelo “sustentável” é esse que deixou, depois de 55 anos de existência, metade do Estado sem ter o que comer diariamente? Nossas autoridades usarem apenas a floresta em pé como argumento mostra “oportunismo”, falta de conhecimento e um ato de traição com os verdadeiros defensores dessa floresta, e que estão na pobreza. É ignorar o lado humano! É dar munição para nos atacar;
  5. Tem outro fato interessante: uma hora vejo notícias de aumento de desmatamento no Amazonas, vejo fotos da floresta em “fogo” no site da Sema, e agora vejo propagandas institucionais, a mais recente da Prefeitura de Manaus em homenagem à Suframa, dizendo que o modelo ZFM “preservou” 98% da floresta. Então, qual a notícia verdadeira, tá desmatado, tá pegando fogo ou tá preservado?
  6. É um grande erro de estratégia vincular a manutenção dos benefícios do programa ZFM com a intocabilidade da floresta. Pior ainda porque sabemos que os verdadeiros defensores dessa floresta em pé estão, como já disse, na pobreza;
  7. E a BR-319? E o Centro de Biotecnologia da Amazônia? Nem FHC, nem Lula, nem Dilma, nem Temer, nem Bolsonaro cumpriram o prometido até hoje;
  8. Construímos o gasoduto, ponte (no lugar errado) e arena (nem futebol tínhamos), mas não temos um modelo econômico agropecuário exemplo de sucesso ao mundo. Ao longo dessas décadas abandonaram a Agrociência, o setor primário do nosso Estado, que é o único caminho para fazer o interior forte economicamente. Depois de décadas, finalmente tivemos dois planos safras lançado e em execução, mas travados por questões fundiárias e ambientais;
  9. Peço ao governador, prefeito e parlamentares que não ouçam ambientalistas radicais, ouçam os moderados, de preferência os da região Norte, a Embrapa e a academia;
  10. Nós não faremos o que outros países fizeram com a floresta, somos responsáveis, ela vai continuar em pé, o caboclo sabe que ela é importante, o produtor sabe que ela é vital para atividade dele. Aliás, preservada como já está há mais de 55 anos, muito antes do modelo. O que é urgente, mas vai demorar, é transformar toda essa riqueza em melhores condições de vida para metade da população que não sabe o que vai comer amanhã;
  11. Então, o caminho é o STF para fazer valer a Constituição.

Thomaz Meirelles

Servidor público federal aposentado, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: [email protected]

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