Por Juarez Baldoino da Costa(*)
Para continuar sendo um dos principais celeiros alimentares do mundo, a Amazônia tem diminuído, e pode obrigar à revisão do Acordo de Paris que propugna a preservação da floresta, a menos que a fome seja aplacada.
O IBGE divulgou pesquisa (https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9107-producao-da-pecuaria-municipal.html ?=&) na qual Apuí, Boca do Acre, Lábrea e Manicoré, 4 dos 62 municípios do Amazonas, em 2022, tinham 892 mil cabeças de gado, 57% do rebanho total.
Para atingir este total mais a produção agrícola, entre 2000 e 2022 foi preciso remover 12.218 Km² de floresta nestes 4 municípios, (PRODES – Desflorestamento nos Municípios (inpe.br), o que equivale a 54% do desmatamento total. Lábrea aumentou o desmatamento em 519% e Apuí 423%, enquanto em Manaus foi 117%.
Os dados do PRODES e do IBGE em toda a Amazônia revelam performances semelhantes, o que também evidencia ser infundada a narrativa de que a ZFM protege a Amazônia.
Este mecanismo de sucesso para a geração de alimentos na Amazônia com reflexos positivos na empregabilidade de pessoas e na dinamização da economia, não tem substituto e não há como abrir mão dele para o PIB da região evoluir e ajudar no fornecimento de alimentos.
O rebanho de gado da Amazônia é de 104 milhões de cabeças, 44,5% do estoque do Brasil.
Os princípios ativos da floresta buscados nas pesquisas não têm viés de produção de alimentos diretamente, e quando forem nesta direção provavelmente demandarão também o uso de espaço sem floresta.
Neste cenário em que é preciso remover a floresta para gerar desenvolvimento e produzir alimentos, tem sido inevitável que a Amazônia sofra redução, vez que sua caracterização como bioma só existe com sua cobertura vegetal, assim como o pasto é inerente ao bioma dos Pampas.
Melhoria em produtividade seria a solução para diminuir a pressão no futuro, mas talvez não seja suficiente para alimentar 1 bilhão de pessoas a mais que a cada 12 anos se somam à população do planeta, segundo a ONU.
De 2000 a 2022 a população aumentou em 1,8 bilhão, mais do que o contingente da Índia, o país mais populoso.
O Acordo de Paris talvez não resista à fome, em legitima defesa da humanidade.
(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.