23 de novembro de 2024

Uma semana de história

Os últimos dias foram repletos de datas emblemáticas e significativas para o Brasil, principalmente no que tem a ver com a formação e a concepção da Nação que somos. Ao mesmo tempo, estas datas são importantes para que possamos fazer uma análise de nós mesmos enquanto sociedade, procurando ver o quanto avançamos e/ou o quanto poderíamos ter avançado, além do futuro que estamos construindo no presente. Dia 19 de abril, por exemplo, foi o “O Dia dos Povos Indígenas”; no dia 21 tem o feriado alusivo a Tiradentes (uma personalidade histórica, que retrata outro momento importante de nossa trajetória enquanto país) e no dia 22 temos a ocasião em que o Brasil foi descoberto pelos europeus. É importante salientar que o território não estava desabitado quando os portugueses chegaram aqui, pois já haviam povos tradicionais moradores da região, que posteriormente foram denominados pelos expedicionários como ‘índios’. Somos um país extremamente miscigenado e plural; nossos costumes, alimentação e língua são originários de diversos povos.

O Dia dos Povos Indígenas (anterior Dia do Índio) teve sua origem na realização do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu em 19 de abril de 1940 em Patzcuaro (México), pois, assim como o Brasil, diversos outros territórios nacionais (especialmente no continente americano) foram ocupados anteriormente, de forma generalizada, pelos indígenas. Já o Feriado do dia 21 rememora a figura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (que ganhou essa alcunha em virtude de atuar como dentista improvisado) executado exatamente neste dia, sendo um dos participantes mais ativos da Inconfidência Mineira, que foi um dos grandes movimentos de protesto contra o domínio da Coroa Portuguesa sobre o Brasil na época. E na sequência, no dia 22, é comemorado o Descobrimento.

É fato que, além da importância que estes fatos históricos têm para o Brasil, não podemos e nem devemos esquecer que nós, cidadãos dessa geração, temos em nossas mãos a chance real de escrevermos uma nova história para a nossa nação. Isso não é retórica e nem força de expressão. É a verdade plena. O Brasil é um país rico em minérios, em recursos naturais e economicamente também; mas apesar disso tem uma grande parcela de seu povo vivendo na pobreza e na miséria, com poucos cidadãos concentrando em suas mãos as grandes riquezas. Carecemos de uma educação de qualidade, de um sistema de saúde digno para todos e de uma infraestrutura adequada, com o devido saneamento básico acessível a todos os cidadãos. 

Não estou me referindo aos que, por meio do trabalho honesto, conseguiram galgar posições maiores e adquirir bens e recursos, até porque não é nenhum demérito conquistar vitórias financeiras e profissionais, desde que dentro dos valores da ética e dos princípios da moralidade. Porém, infelizmente há também muitos que recorrem a maneiras não-republicanas para acumular riquezas, se locupletando do que não é seu. O Brasil não pode continuar a ser um país tão rico e com tanta gente padecendo, muitas vezes sem nem ter o básico para sobreviver.

Está na hora da nossa Nação escrever uma nova página de sua história; comemorar e valorizar os acertos do passado, mas também corrigir os rumos em prol de um futuro promissor. E isso depende de cada um dos cidadãos brasileiros, começando por aqueles que têm um grau maior de instrução. Nós já temos todas as condições de sermos um país desenvolvido, mas isso não ocorreu porque nossos gestores deixaram de fazer, ao longo de anos e décadas, o seu “dever de casa”, ou seja, um Projeto de País e não simplesmente programas eleitoreiros. Somos um povo forte, aguerrido e com enorme potencial. Poderíamos já estar em outro patamar de desenvolvimento há muito tempo.

O presente e o futuro estão sendo construídos pelas nossas ações e/ou omissões. É necessário tomarmos as rédeas da situação, como cidadãos e eleitores que somos; fiscalizando a aplicação dos recursos e as ações realizadas. Algumas pessoas criticam o capitalismo, mas apesar de suas imperfeições, eu entendo este como sendo, até o momento, o sistema mais viável que temos, sob o ponto de vista da possibilidade de se estabelecer a meritocracia e a expansão de oportunidades, de forma que todos aqueles que se esforçam tenham a real possibilidade de evoluir e crescer profissional e economicamente, independente de origem ou classe social. É lógico que, para que isso se concretize, o Poder Público não pode se eximir do fato de que é preciso haver maciça geração de alternativas para todos e não deixar o “sistema” agir por si só. Para isso necessitamos ter gestores com uma visão “fora da caixa”, inovadores, proativos e holísticos. Pois, para que todos possam ter a chance de alcançar o sucesso, é fundamental o estabelecimento de políticas públicas sérias e ininterruptas, de forma que o Brasil evolua, especialmente nos setores de Educação, Saúde, Ciência, Tecnologia e Inovação. Tudo o que passou, as figuras que se destacaram na história e os acontecimentos (sejam estes positivos ou negativos) nos ajudaram a chegar até aqui e a ser quem nós somos. Mas se queremos de fato ser uma nova Nação, está na hora de sairmos da zona de conforto e assumirmos nossas responsabilidades como partícipes ativos do processo de mudança; arregaçando as mangas, por meio da qualificação, da leitura e do envolvimento na Política (Polis, assuntos da Comunidade, da Cidade), como agentes de transformação e progresso.

Lisandro Mamud

Lisandro Mamud é administrador, pesquisador em Inovação, Tecnologia e Educação do Núcleo Educotec (Ufam)

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