22 de novembro de 2024

Virus Oropouche – Manaus, mesmo a contragosto, te espera

Por Juarez Baldoino da Costa(*)

Não há dinheiro nem estratégia para limpar os terrenos e os igarapés, e mesmo que houvesse não há cultura de educação que sustente a limpeza a partir do dia seguinte. O Oropouche se aproveita também deste fato.

Não há também registro na história da cidade de que algum gestor público tenha conseguido resolver este problema, muito em razão de que a população não considera ser esta questão uma prioridade e não busca este compromisso de seus governantes.

A maioria dos eleitores da cidade não deverá se preocupar se os programas de governo dos candidatos às eleições para prefeito neste ano terão algo sobre saneamento, e os candidatos não vão se preocupar com programas que não interessem ao eleitor.   

Este quadro justifica em parte o Alerta Epidemiológico 01/2024 da FVS – Fundação Vigilância em Saúde no Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto, de que o Amazonas está sujeito a um aumento de contaminação pelo Oropouche, um vírus transmitido pelo mosquito maruin (Culicoides paraenses), cujos casos em dezembro passado motivaram o Alerta.

Com sintomas parecidos com a Dengue, a Febre Oropouche acometeu 199 pacientes, 30% da amostragem de 675 casos no Amazonas, sendo 95% em Manaus.

A FVS alerta ainda que a febre pode levar a óbito e faz 2 abordagens: a 1ª. é sobre as recomendações para utilização de repelentes, uso de telas em portas, janelas e ralos, e de vestir roupas compridas. A 2ª. é um conjunto de 4 medidas: 

• Evitar os acúmulos de lixo e promover limpeza de terrenos para diminuir a quantidade de matéria orgânica no solo; 

• Prover drenagem das águas pluviais e telar ralos evitando ao máximo a entrada dos vetores no intradomicílio; 

• Verificar a área externa: quintal, jardim, vasos de plantas, calhas entupidas, poças de água no chão ou qualquer outros recipientes que possam acumular água, principalmente em ambientes encharcados ou alagados; 

• Realizar limpeza dos igarapés e rios, mantendo-os livres de qualquer lixo, retirando todo entulho.

Estas 4 medidas, entretanto, têm sido ou impraticáveis ou insuficientes justamente em virtude da baixa educação em saneamento básico da maioria da população, e da estrutura precária da prefeitura para corrigir este reflexo direto da baixa educação. Um ciclo vicioso está instalado no cotidiano de Manaus.

Este quadro torna o cumprimento das medidas propostas pela FVS uma fantasia social, e a população da cidade continua a padecer há décadas.

Um dos exemplos até absurdo deste quadro, é o fato do poder público pagar pessoas para entrarem na casa de moradores e fazerem a higienização domiciliar particular, e em muitos casos o morador observa o serviço de braços cruzados. Estes moradores sequer viram as latinhas e garrafas de boca para baixo no seu quintal.

Outro absurdo é a limpeza dos igarapés, um suplício anual invencível na baixa das águas, do qual a prefeitura fica aliviada somente quando elas sobem e escondem a lixarada até a próxima vazante.

As estimativas mais comuns divulgadas por estudos da área da saúde são de que um gasto de R$ 1,00 em saneamento economiza cerca de R$ 4,00 no orçamento da saúde.

A deseducação, portanto, não é apenas da população, mas é até na aritmética no seio da gestão pública, que promove o desperdício de R$ 3,00 em gastos de custeio, dos quais parte vai embora pelo ralo do mau uso, também sem tela, assim como o ralo dos quintais.      

Esteja em casa, maruin e sua febre!

Manaus, mesmo a contragosto, te espera!

As próximas eleições não parecem ser um alento.

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(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

Juarez Baldoino da Costa

Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós- Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

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