18 de outubro de 2024

Vozes da Educação de Manaus – Professor José Carlos Fernandes Izel

O projeto “Vozes da Educação de Manaus” nasceu com o objetivo de contar\escrever as histórias de vida dos profissionais da educação de Manaus, do Amazonas, do Brasil, guiçá, do mundo. Isso porque acreditamos que uma bela história de vida provoca e revive nossos sentimentos, inspira, desperta sonhos. É a arte de produzir estímulos que nos levam ao que realmente somos, sentimos e queremos ser. Toda história de vida nos conecta com a nossa essência, com o outro e com o mundo. Dessa forma, o projeto acontece sempre no mês de outubro como forma de homenagem ao Dia do Professor. Sendo assim, durante o mês de outubro, publicaremos, aqui, nesse espaço, entrevistas com renomados profissionais da educação. E para começar essa série de entrevistas, abrimos espaço para conhecer a história de vida do professor José Carlos Fernandes Izel, “amazonense e manauara”, como ele mesmo se define.

1. Comecemos pela origem de tudo. Conte-nos quem é você. Sou filho de pai funcionário público e mãe doméstica. Somos cinco irmãos, que estudaram apenas em escolas públicas. Terminei o ensino médio na escola Estelita Tapajós, com 19 anos, já casado e pai de um filho. Com 22 anos e trabalhando no Distrito Industrial, consegui passar no vestibular para o curso de Licenciatura em História na UA. A maior dificuldade era conciliar o curso no turno matutino com o trabalho. Foram anos, em que trancava matrícula, ou pagava apenas algumas disciplinas, mais em 2002, consegui colar grau. Em 2012, conclui a especialização em Gestão Escolar.

2. Quando você começou na educação? O que você mais lembra dessa época? Em 1990, iniciei minha vida no magistério trabalhando como professor do ensino fundamental na escola Machado de Assis, que por sinal cursei a maior parte da minha vida de educando. Tive a oportunidade, ainda, acadêmico de trabalhar em uma instituição privada de grande porte aqui em Manaus na década de 1990, também lecionei em muitos colégios estaduais.

3. De lá para cá, qual é a maior mudança que você percebe na educação? Poderia explicar, brevemente! A educação era objetiva, onde o aluno primava pelo respeito ao professor e a família não via a escola como repositório de seus filhos. Apesar de pouca tecnologia, a educação era mais incisiva e voltada para a qualidade e não quantidade. O aluno era uma pessoa e não um número, o professor nunca ganhou bem, mais tinha o respeito da sociedade. O maior problema da educação atualmente é que a tecnologia, infelizmente, ainda não chegou de fato as escolas. Hoje temos escolas com suas estrutura físicas deterioradas, sem equipar alunos e professores com essas ferramentas, e também melhorar a qualidade de vida do profissional da educação, melhores condições de trabalho, melhores salários e de uma jornada de trabalho menor.

4. Você se considera um professor realizado? Sim. Como educador acredito que cumpri com o compromisso que fiz ao me tornar professor, porém com certa tristeza pela situação que a educação passa nos dias atuais e na desvalorização do profissional da educação.

5. Com toda essa sua experiência na educação, conte-nos uma coisa interessante, pode ser pitoresca, que aconteceu com você. Estava trabalhando num colégio particular aqui de Manaus e fomos convocados para aplicar um curso sobre as apostilas do colégio que seria implementada na Seduc. Era um curso para os colegas professores, ao iniciar a palestra, uma professora me disse assim: “Não aguento mais esses cursos”, eu entendi o que a colega tinha falado, e disse ao grupo que eu não iria ensinar nada, pois tinha colegas com muito mais experiência, e que iriam trocar experiências. A palestra foi um sucesso e muito proveitosa, fui aplaudido de pé e fiquei muito feliz.

6. Quais são os seus planos na educação? Pretende continuar estudando? Quem sabe fazer o mestrado, o doutorado, o pós-doutorado, publicar um livro…? Já estou próximo da aposentadoria. A ideia é diminuir o ritmo de trabalho e começar a colocar em prática alguns projetos. Quero escrever e idealizar jogos voltadas para a disciplina de História e Geografia.

7. Quais são as suas influências pedagógicas, isto é, quais foram os autores que mais lhe influenciaram ou que lhe influenciam na formação acadêmica, continuada, profissional, humana, espiritual? Primeiro, o mestre Paulo Freire, minha linha teórica é a Nova História. A história das mentalidades. Leio muito Erick Hobsbawm. Como cristão, leio sempre a Bíblia como fonte de inspiração.

8. É possível ser professor e não gostar de ler? Você está lendo algum livro no momento? Poderia citar? A leitura é fundamental em todas as áreas do conhecimento. Em um mundo globalizado e com as informações surgindo em grande quantidade devido a evolução tecnológicas, ler é importante para a formação intelectual, pode-se dizer mesmo que é a condição fundamental para compreender o mundo em nossa volta. Atualmente estou lendo o livro:  A “Mitologia para quem tem pressa”, de Mark Daniels e terminei de ler “Remada”, do poeta amazonense Werner Borges.

9. Você tem algum sonho profissional? Um projeto que desejaria muito realizar? Poderia contar? Acredito que fazer um mestrado na minha área, é um grande desejo que espero conseguir mais a frente. E também escrever sobre a conjuntura brasileira à partir do século XXI. Fui gestor da Seduc durante 4 anos e gostaria de voltar novamente a gerenciar uma unidade escolar.

10. Qual a mensagem que o senhor deixa para os seus colegas professores? Dizer aos amigos professores que a luta é longa e brutal, mas a profissão de educador é fundamental para a construção de uma nação consciente de sua posição social, e também incentivar as mudanças estruturais que permitam uma divisão das riquezas de uma forma mais justa. Nesses mais de trinta anos, sofri pela passividade do Estado, me senti impotente e sem perspectivas. Porém quando ando nas ruas e encontro ex alunos formado e com uma profissão, recarrego o ânimo, e sei que estamos vencendo a guerra contra os inimigos da educação, aqueles que impedem a libertação do povo. Professores e professoras, a jornada é longa e difícil mais o final da estrada é recompensador.

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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