Dando continuidade ao projeto “Vozes da Educação de Manaus”, que tem como objetivo “Dar visibilidade ao trabalho e amplitude às histórias de vida dos professores e professoras de Manaus”, apresentamos hoje, para você, a trajetória de vida da professora Socorro Nepomuceno na Educação de Manaus. Boa leitura!
“Saudações! Sou a Socorro Nepomuceno, 52 anos, professora da Educação Básica da Rede Municipal de Ensino do Município de Manaus. Minha trajetória como educadora teve início em 1996, quando fui aprovada em concurso público para o cargo de Professor da Rede Municipal de Ensino de Manaus.
Nesse ano, foi aprovada a nova lei de Diretrizes e Bases da Educação–LDB, que veio trazer mudanças significativas no contexto educacional. Um dos pilares mais importantes da lei é o Direito à Educação para todos os brasileiros. Nesse intuito, a Secretaria de Educação de Manaus, realizou várias ações para garantir matrículas, numa cidade em pleno processo de expansão territorial.
Dessa forma, houve necessidade de locação de prédios para funcionamento de escolas e necessidade de novos gestores. Aceitei o desafio de ser gestora escolar. Fiquei na função até maio deste ano, 2023. Minhas maiores experiências foram nas escolas em prédios alugados, os quais não ofereciam as menores condições de funcionamento.
Foram tempos desafiadores, porém, o que a SEMED não dispunha em termos de infraestrutura, dispunha de excelência no tocante ao capital humano: o Professor. Estes foram meus grandes aliados na construção de conhecimentos, em ambientes totalmente adversos. Foram os verdadeiros heróis, protagonistas de ações nas quais não vi iguais nos anos seguintes, tais como: reforço escolar nos fins de semana, projetos envolvendo música e teatro, com apresentação de cantata musical no fim do ano, educação ambiental e muitas outras atividades.
Em 2004 fui designada para escolas com melhores condições. Porém, em 2009, voltei a trabalhar numa dessas escolas em prédios alugados no bairro Mauzinho. Em nosso primeiro diálogo, entre outras coisas, os professores solicitaram que seus atestados médicos fossem aceitos pela direção da escola e que eu organizasse uma Sala de Professor onde houvesse banheiros.
A maioria dos educadores passavam o dia todo na escola. Esse pedido me impactou bastante, pois eu não conseguia entender porque uma escola funciona, sem oferecer condições mínimas ao educador e com negação de direitos adquiridos. Depois de muitas lutas, percebemos que tudo foi válido.
No ano de 2023, me despedi de Manaus, vislumbrando mudanças significativas na rede municipal, apesar de que o Plano Municipal de Educação não tenha atingido parte de suas metas. A Infraestrutura das escolas também melhorou significativamente. No entanto, precisamos avançar na pauta valorização do Professor.
Em meados de abril, fomos mediar aulas para os 9º anos, no sexto tempo, para concretizar o Projeto Educa Mais Manaus. Esse fato, inevitavelmente, nos levou a refletir sobre a condição do ser Professor. Deparei-me com questões crucias sobre a valorização, respeito e reconhecimento. Muitos colegas trabalhavam 40 ou 60 horas e mesmo assim aceitaram desenvolver o reforço escolar para melhorar a renda familiar.
Iniciamos o projeto com entusiasmo e logo vieram os questionamentos: e a qualidade do ensino? E a saúde? Ressalto que após meu desligamento da escola, os demais professores desistiram do projeto. Penso que é impossível haver aprendizagem se não houver investimentos sérios na Educação com uma política de valorização dos educadores. É preciso cuidar dos educadores, pois se eles não estiverem bem, não haverá aprendizagem. Penso também, que é preciso repensar o modelo de Formação Continuada, bem como a redução de atividades burocráticas, enfadonhas, sem sentido, criadas somente para sobrecarregar o Professor.
No momento estou cursando Sociologia, no formato EAD, me permitindo guiar-me por novos conhecimentos e novas possibilidades. Acredito que a leitura é indispensável para quem se dispõe a educar. Continuo sonhando com Mestrado e Doutorado, mesmo diante da possibilidade de aposentadoria tão eminente. Terminei de ler: DESCOLONIZANDO a Universidade: Educação, interculturalidade, outros saberes e fazeres para além do discurso, projetos desenvolvidos no Rio Negro.
Fico impressionada ao perceber o quanto os povos tradicionais têm a nos ensinar. Acredito numa educação Humanística e alguns autores que influenciam na minha formação são: Paulo Freire, Philippe Perrenoud, Edgar Moran, Jaqueline Moll, dentre outros. Acredito numa concepção de educação que valoriza o ser humano em suas múltiplas dimensões”.