19 de setembro de 2024

Vozes da filosofia de Manaus: Aldair Andrade

Hoje, no penúltimo artigo da série, conheça a trajetória de vida desse sábio e apaixonante filósofo. “Eu sou Aldair Andrade, esse é meu nome, muito embora ele não me defina, é uma contingência. Sou natural do Amazonas, Eirunepé, cidade às margens o Rio Juruá, de água barrenta, de correnteza forte e pulsante, sou filho do rio. Formado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde cursei Filosofia.

Publiquei alguns livros na área de: 1) Ciências Sociais (área de doutoramento): Perfil Ocupacional de Trabalhadores da Zona Franca de Manaus; De Migrante a Industriário: a reconstrução a vida na cidade de Manaus; 2) Organização de obras sobre o Ensino de Filosofia: Filosofia Pesquisa e Práticas de Ensino; Reflexões, experiência e Prática de ensino de filosofia a partir do chão da escola; Filosofia e Antropologia: diálogos urgentes e transversalidades; 3) Temas transversais e Educação: Vozes Femininas na Amazônia: ecofeminismo, trabalho, educação e violência doméstica; Educação e seu ensino: Educação no Campo: Políticas e Práticas; Educação, Cultura e Prática Docente; Ensino e formação docente numa perspectiva interdisciplinar. Além das publicações em formato de livro tenho diversas publicações em formato digital e impresso de artigos em periódicos nacionais e internacionais, nas áreas de filosofia, ciências sociais e educação.

Minha filosofia está fortemente influenciada pelos filósofos Friedrich Nietzsche; Jean Paul Sartre, Martin Heideger, Arthur Schopenhauer; Karl Jaspers; Karl Marx; Ernesto Sabato; por escritores como Milan Kundura, Cervantes, Thomas Mann, Dostoiévski, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, João Ubaldo, entre outros.

Desde muito cedo, quando uma faísca de autoconsciência traçou na fronte, senti-me irrequieto, curioso, sedento de respostas, com perguntas que ninguém sabia responder. Não existe uma datação, um lugar, um fato específico onde irrompeu a inquietação filosófica, foi a própria vida, o seu desenrolar cotidiano, a percepção de suas contradições e falta de justificações, nada fazia sentido. Foi a própria existência em seu fazer-se que despertou em meu espírito a sede de saber, a dúvida.

Vivemos contemporaneamente um turbilhão de coisas, concorrentes e divergentes, sonantes e dissonantes. Temos às vezes a impressão de vivenciarmos uma “Era do Vazio”, onde a dilapidação da intelectualidade, do pensamento reflexivo e crítico deu lugar a uma convencionalidade perigosa e oca, temos a sensação de vivermos uma clivagem quase desesperadora em que é preciso renascer como a Fénix.

A filosofia sempre teve seu lugar bem definido desde sua invenção, não perdeu esse lugar, é necessária, mesmo para aqueles que não desejam ou a entendem, à medida que somente pelo debruçar-se sob ela seja possível compreender a vida e suas expressões fundamentais, a religião, ética e a moral. Tempos difíceis vivemos. Tempos duros e não menos obtusos.

Desde sua criação a filosofia sempre teve um papel fundamental que foi construir, elaborar e orientar a vida como um todo, seja coletiva ou individual. A filosofia sempre teve em seu horizonte desafios fundamentais, pois ela se opõe ao instinto, ao natural, ao selvagem, ao erro e engano. Como construção reflexiva sobre as ideias (metafísica), sobre a vida (mundo e a realidade), sempre esteve e está na vanguarda do seu tempo.

Neste sentido, cada época exige da filosofia uma postura que coadune com a realidade, sem abandonar os seus princípios e fundamentos. É nessa relação conflituosa e desafiadora que a filosofia precisa transitar, sem perder seus fundamentos e ao mesmo tempo dialogar com a realidade, sem o estabelecimento dessa relação de forma explicita, conduz-se a um entendimento “comum” de que ela não serve para nada.

O mundo, como diria Heidegger, “sempre esteve aí”, bem antes de todos nós e assim continuará após nós.  Não é possível compreender o mundo, sem antes compreendermos a nós mesmos. A compreensão do mundo deve começar pela compreensão do homem. O longevo conselho socrático “conhece-te a ti mesmo” continua atualíssimo. A filosofia deve nos ajudar nesse processo de conhecer-se a si mesmo.

Invariavelmente nos queixamos do mundo, da vida, das tragédias, dos infortúnios, ao mesmo tempo nos alegramos, ficamos felizes, esperançosos, positivos e proativos, é nesse diapasão, da contradição, da contradição, do constante embate, é nessa fricção entre nossos anseios e mundo que a filosofia tem seu solo fértil.

A filosofia não é uma fórmula mágica que vai transformar a “realidade do mundo”, da natureza, contudo nos possibilita compreender essa dinâmica, nos permite agir a partir dos atributos herdamos, razão, consciência e potência, e assim transformar o mundo a nossa imagem e semelhança.

Por fim, a filosofia nos dota de poder, da consciência, do esclarecimento, essa é a verdadeira força que pode transformar tudo, o homem sábio põe tudo a seus pés, a si mesmo e a própria natureza. É preciso saltar sobre a própria sombra para tornar-se o que é. Esse salto só é possível por meio da filosofia.”

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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