Vozes do meu eu interior – Parte final

Em: 19 de setembro de 2022

Sobre preconceito. O homem contemporâneo padece da ausência de segurança. Inseguro, ele projeta no outro tudo aquilo que é mais nojento em si mesmo: o preconceito, a rejeição, o medo do fracasso, de ser traído, de ser infeliz. Dessa forma, o homem tem dificuldade de explicar a sua insegurança, os seus traumas, os seus medos. E quando o homem tenta explicar a si mesmo, ele não consegue ser verdadeiro. Não que o homem seja um mentiroso compulsivo. É que a insegurança incomoda o mundo masculino. Ele tem medo de falhar, ele tem medo de não ser compreendido… Essa é uma das razões por que o homem não gosta de “discutir a relação”. Ele não consegue ser ele mesmo. Muitas mulheres podem encarar isso como desprezo, mas muitos não encaram desse jeito. O mundo masculino não é complexo, é simples. O homem só precisa de três coisas para ser feliz: comida, amor e sexo. Amigos leitores, estou certo ou estou errado?

Sobre caridade. A responsabilidade pelo próximo é, sem dúvida, o norte de toda pessoa feliz e realizada, capaz de se gastar de amor ao próximo, amor sem interesse, caridade, amor em que o momento ético domina o momento passional, amor sem concupiscência. Ouso dizer que esse amor só se encontra nos grandes homens e mulheres, à exemplo do Papa Francisco, atualmente, e de Madre Tereza de Calcutá, Martin Luther king Jr, e tantas outras personalidades do passado. Hoje, o amor doação, o amor caridade, está ralo, minguado, igual cabelo de idoso.

Sobre trabalho. O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) afirmou que o protestantismo na sua forma puritano-calvinista pregava que o homem deve trabalhar o dia todo para aumentar a glória a Deus; a perda de tempo é o primeiro e o principal de todos os pecados, contra o qual deve se pôr o instrumento ascético do trabalho; a falta de vontade de trabalhar é um sintoma da ausência do estado de graça. Se hoje Weber fosse vivo, o que ele diria para essa massa de sem trabalho?

Sobre drogas. Existem muitos tipos de drogas e medicamentos que têm propriedades de exercitar ou de deprimir o Sistema Nervoso central, de alterar a percepção, de modificar o ânimo, a coragem, o pensamento, a atividade motora. Remédio é droga. Café é droga. Cigarro é droga. Drogas lícitas ou ilícitas, não importa, a pior droga do mundo é aquela que você aceita consumir.

Sobre sabedoria. Tem razão o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), “O saber humano se espalha para todos os lados, a perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima parte daquilo que é digno de ser sabido”. Triste o ser humano que se acha entendido em todos os assuntos, certamente, ele não passará de um bobo da corte.

Sobre desejos. É tentando o impossível que se chega à realização do possível. Se as pessoas percebessem que a única realidade é a mudança, elas seriam mais felizes. Nunca se esquecem as lições aprendidas na dor. Atenção aos grandes problemas, eles escondem grandes oportunidades. O inflexível não é capaz de entender que, às vezes, ceder ou conceder, é uma forma de vencer. 

Sobre filosofia. O sentido de um itinerário filosófico varia para aquele que o percorre de acordo com o momento ou o lugar em que tenta justificá-lo, defende o filósofo Emmanuel Lévinas no seu magnífico livro Entre nós – Ensaios sobre a alteridade, Editora Vozes, 1998. E ele tem razão. É somente a partir de fora que se pode abarcar e julgar o seu percurso. Filosofia é arte, poesia; filosofia é vida. 

Sobre cidadania. Ser cidadão é ter direito à vida, a liberdade, a propriedade, a igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos, segundo o que escreve Jaime Pinsky no seu magnífico livro História da Cidadania, Editora Contexto, 2012.

Sobre felicidade. É preciso lembrar que só os humanos são mortais, pois só os humanos sabem que vão morrer. Não existe coisa melhor no mundo do que uma vida feliz e uma boa morte. Os grandes homens preferem a honra e a glória pública do que a moral e os costumes privados. Por fim, encerrando essa série, desejo essas três coisas para você: uma vida feliz, honra e glória, e uma boa morte.

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.
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