Xenofobia e anti-intelectualismo: os inimigos da sustentabilidade na Amazônia

Em: 19 de fevereiro de 2025

O Brasil, lar da maior biodiversidade do planeta, enfrenta desafios ambientais que demandam conhecimento técnico e cooperação internacional. No entanto, um fenômeno preocupante tem minado esses esforços: a xenofobia contra especialistas e organizações dedicadas à defesa do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável inclusivo. Movidos por uma mistura de desconfiança irracional e preconceito, certos grupos reduzem debates complexos a ataques pessoais, comprometendo a ciência, a credibilidade das instituições e o futuro ecológico do país, especialmente da Amazônia.
A luta contra o desmatamento, as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a fome exige colaboração global. Grandes descobertas científicas na Amazônia, por exemplo, resultaram de parcerias entre pesquisadores e instituições brasileiras e colegas de outros países. Ainda assim, um nacionalismo descabido frequentemente pré-julga e condena essas colaborações legítimas. Essa retórica ignora as crises ambiental, climática e humanitária que enfrentamos, desviando o foco do verdadeiro problema: a necessidade urgente de agir em conjunto.
E o problema não se limita a pessoas ou instituições estrangeiras. Especialistas e lideranças brasileiras de outras regiões também têm sido alvo de hostilidade descabida. Geralmente, essa postura vem acompanhada de um anti-intelectualismo que mistura preconceito, falta de visão estratégica, desinformação e interesses pessoais duvidosos.
É fato que a ciência não tem nacionalidade, e a desvalorização de qualquer saber nunca será benéfica nem para quem critica nem para quem recebe críticas infundadas.
O resultado desse ambiente hostil é o afastamento de parceiros e oportunidades da Amazônia, que temem represálias. Investimentos e doações internacionais, que respeitam a autonomia e a soberania nacionais, minguam; parcerias técnicas para a formação de brasileiros e brasileiras diminuem; e a atmosfera de cooperação se deteriora. A ironia é trágica: quem sofre primeiro são justamente as comunidades que os xenófobos alegam defender, pois são as mais vulneráveis a secas, enchentes, perdas de safra, comprometimento do calendário escolar e doenças.
Entretanto, é possível combater esse xenofobismo.
Escolas de todos os níveis precisam fortalecer a educação científica, mostrando que o conhecimento é um bem coletivo, não uma ameaça. Também é essencial incentivar a colaboração por meio de editais que unam universidades brasileiras e estrangeiras. O envolvimento comunitário deve ser responsável e respeitoso, integrando saberes tradicionais e acadêmicos para desfazer a falsa dicotomia entre “local” e “global”. Além disso, o combate à desinformação deve ocorrer por meio da checagem de fatos e do papel ativo da mídia responsável.
Assim, a xenofobia é moralmente condenável e estrategicamente insensata. Em um país onde queimadas e enchentes já são rotina, rejeitar a cooperação internacional e o apoio de pessoas e organizações de referência é, no mínimo, imprudente.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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