19 de setembro de 2024

Ação recorrente prejudica mercado

selic

Ninguém consegue segurar a alta dos juros no Brasil. Nem o próprio governo Lula, hoje extremamente engessado pelas decisões do Banco Central sobre o tema. Suspeito é o argumento de que a manutenção da taxa Selic nas alturas corrobora para frear a disparada da inflação, que causa uma reação em cadeia em todas as atividades econômicas no País.

Apesar da queda da inflação e das pressões de parte do governo, o BC não mexeu nos juros. Por unanimidade, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa Selic, juros básicos da economia, em 13,75% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas financeiros, que apostam em queda apenas a partir de agosto.

Ontem, lideranças do comércio e da indústria do Amazonas, principalmente em Manaus, protestaram contra as medidas, estimando que a situação da economia do Estado e de todo o Brasil ficará anda mais apertada, sem oferecer praticamente boas perspectivas por todo este ano, e também para 2024.

Em comunicado, o Copom indicou que ainda existem riscos sobre a inflação, como eventuais pressões globais sobre os preços e incertezas “residuais” sobre a votação do arcabouço fiscal. Diferentemente das últimas reuniões, foi retirada a frase que afirmava que o Banco Central poderia voltar a elevar os juros caso a inflação subisse, mas a autoridade monetária não informou se nem quando pretende cortar a Selic.

“O comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, ressaltou a nota.

A taxa continua no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. Essa foi a sétima vez seguida em que o BC não mexe na taxa, que permanece nesse nível desde agosto do ano passado. Anteriormente, o Copom tinha elevado a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis.

De março a junho de 2021, o Copom elevou a taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto do mesmo ano, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião. Com a alta da inflação e o agravamento das tensões no mercado financeiro, a Selic foi elevada em 1,5 ponto de outubro de 2021 até fevereiro de 2022. No ano passado, o Copom promoveu dois aumentos de 1 ponto, em março e maio, e dois aumentos de 0,5 ponto, em junho e agosto.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de Covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, o indicador fechou em 3,94% no acumulado de 12 meses, abaixo de 4% pela primeira vez em dois anos e meio. Nos últimos dois meses, a inflação vem caindo por causa dos alimentos e dos combustíveis.

Nota abre Perfil

Bate-boca tumultua Assembleia

Os deputados estaduais Dr. George Lins (UB) e Wilker Barreto (Cidadania) protagonizaram, ontem, um bate-boca durante a sessão da Assembleia, tumultuando os trabalhos legislativos. A troca de insultos teve início após Lins acusar Barreto de constranger os membros da Comissão de Saúde e Previdência como estratégia para fazer palanque político. O interessante é que os dois parlamentares fazem parte do colegiado. E, mesmo assim, não conseguiram disfarçar as divergências. Tamanha e impactante foi a acidez das palavras ouvidas em plenário.

“Não preciso trazer para o telão da Casa a desgraça, as dificuldades e os problemas que acontecem na saúde”, alfinetou Lins, filho do ex-deputado Belarmino Lins, de quem herdou o legado na política. Sendo praticamente uma voz isolada da nanica oposição, Barreto disse estar sendo cerceado no exercício do mandato. Visivelmente destemperado, ele reclamou da demora do grupo parlamentar em assinar e votar um requerimento, de sua autoria, solicitando autorização para “visitação ou função de fiscalizar” as unidades de saúde do governo do Amazonas”. “Não sou da base governista. O meu olhar sobre a situação é muito diferente”, retrucou Barreto. Show tão barato entre representantes dos eleitores só corrobora para o descrédito popular.

Promulgação

Consolidada a abertura. Ontem, a CMM promulgou o relatório final da CPI da Água de Manaus, que deverá ser publicado no Diário Oficial do Município. Agora, a população tem trunfo para fazer valer as suas cobranças por problemas não resolvidos, inclusive junto à Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Município de Manaus. “Tudo o que consta no termo de ajustamento de gestão terá que ser cumprido”, informou o vereador Caio André (PSC), presidente da Câmara. Com pressão, funciona.

Arcabouçou

O arcabouço fiscal avança no Congresso. Com 19 votos favoráveis e seis contrários, a Comissão de Assuntos Econômicos aprovou, ontem, o relatório do senador Omar Aziz (PSD-AM) sobre o projeto. O texto substitui o atual teto de gastos e cria novas regras com limites para as despesas da União. Agora, a matéria segue para apreciação do plenário do Senado. Houve mudanças em relação à análise da matéria na Câmara, gerando ainda mais expectativas sobre o desfecho entre os senadores.

Depredação

A Amazônia está sucumbindo. A área de garimpo de ouro na região cresceu mais de 90% em oito anos, segundo o estudo elaborado pelo Instituto Escolhas. O levantamento mostra que a área passou de 79,2 mil hectares, em 2013, para 151,7 mil hectares em 2021. O relatório Abrindo o livro caixa do garimpo atribui esse crescimento a uma série de facilidades legais estabelecidas ao longo dos anos, com destaque para a Lei 12.844 de 2013, eximindo empresas de potenciais punições.

Depredação 2

Os impactos contra o ambiente são estarrecedores. Ainda de acordo com a pesquisa, essa legislação dificultou o trabalho das autoridades em identificar ouro de origem ilegal e o combate à lavagem de dinheiro. A expansão da área de garimpo de ouro nos oito anos anteriores à lei, entre 2005 e 2013, ficou em 28,6%. A legislação foi aprovada por uma visão, segundo o estudo, de que a garimpagem era uma atividade individual e de pequena escala. No entanto, o trabalho mostra que existem altos investimentos.

Sabatina

Muito habilidade para persuasão. Após quase oito horas de sabatina, a CCJ do Senado aprovou por 21 votos favoráveis e cinco contrários a indicação do advogado Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal. A matéria segue em regime de urgência para o plenário da Casa e ficou de ser analisada ainda na noite dessa quarta-feira (21). Aos parlamentares, Zanin disse que se sente seguro e com a experiência necessária para atuar no STF e julgar temas relevantes e de extremo impacto à sociedade.

Impasse

A treta não tem fim. Ontem, o Conselho Fiscal do Boi Garantido, formado por três membros, pediu à diretoria da agremiação o afastamento de Antônio Andrade do cargo de presidente. O pedido ocorre após o dirigente comunicar ao governo do Amazonas que o bumbá ficaria de fora do Festival Folclórico de Parintins por falta de dinheiro. Os conselheiros alegaram “incompetência” de Andrade. A proposta também se estende a outros integrantes do colegiado. Envolve muitos interesses financeiros.

‘Inimaginável’

A reação do Estado foi imediata. Declarou ser “inimaginável” a ausência do Boi Garantido na arena de Parintins. O governador Wilson Lima afirmou, em entrevista a uma rádio de Manaus, que a agremiação tinha o compromisso de fazer a apresentação. E que não aceita a direção do Garantido ameaçar e colocar “a faca no pescoço do governo”.  Segundo conselheiros fiscais, denúncias sobre irregularidades nas contas do bumbá já foram feitas ao Ministério Público. Vamos preservar a cultura.

Assustador

Nunca se viu tanta insegurança em Manaus, como hoje. Jovens são cooptados pelo crime organizado. O episódio mais recente envolve um homem, com pouco mais de 20 anos de idade, que sequestrou e manteve a vítima por muito tempo em cativeiro, exigindo muitas condições para libertar o sequestrado. Além da guerra entre facções que deixa dezenas de mortes, ainda temos que conviver com potenciais ameaças nas ruas, sem poder circular com segurança nas vias. Estamos cada vez mais reféns.

FRASES

“Vossa excelência sempre causa constrangimentos”.

Dr. George Lins (UB), deputado, confrontando o colega Wilker Barreto (Cidadania) sobre a saúde.

“Sempre nas minhas atuações no direito segui as premissas análogas a de um juiz”.

Cristiano Zanin, advogado, durante sabatina no Senado.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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