Isolado dos centros das decisões nacionais, o Amazonas convive constantemente sob ameaças. Os governos se alternam, mas sempre fica algo no ar sobre eventuais medidas que possam prejudicar o regime diferenciado que tem alavancado a cadeia produtiva do Estado.
Não podemos tocar na rica biodiversidade. A manutenção da floresta em pé é o principal trunfo das pressões internacionais para liberar financiamentos, além da geração de empregos e renda através da ZFM (Zona Franca de Manaus) com a concessão de incentivos fiscais.
Para cá vieram os maiores conglomerados mundiais da indústria. São empresas que atuam nos mais diversos segmentos econômicos, desde a produção de alguns componentes, motocicletas, televisores, celulares ou smartphones aos mais sofisticados produtos tecnológicos.
Sofremos muito com os vários embates travados contra a equipe econômica do então ministro da Economia, Paulo Guedes, que direcionou o seu fogo cruzado para acabar com a isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), diferencial que mantém investimentos e atrai outras empresas para a região.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentou as esperanças sobre a intocabilidade da ZFM. Mas nada garante que manterá as promessas de seus discursos de campanha. Um chefe de Executivo não governa sozinho. E se orienta por meio de análises de tecnocratas que, às vezes, pendem para interesses que corroborem para beneficiar seus próprios Estados.
Na realidade, vivemos constantemente com o fantasma de decisões do Planalto que possam dar um golpe mortal na principal receita tributária do governo do Amazonas – o que se arrecada das mais de 500 empresas instaladas em Manaus, chegando a um montante de pelo menos 98% de toda essa operação empresarial.
Quando, realmente, teremos maiores garantias? Este questionamento vem de muito longe, mas nem sempre estamos vigilantes para driblar eventuais manobras que acabem com nosso principal sustento.
Se não podemos tocar nas florestas, essa rica biodiversidade, tanto na superfície como em seu subterrâneo, que contrapartida poderemos dar ao homem da região, em especial o caboclo ribeirinho que já não pode usufruir da fauna e da flora porque tudo está proibido?
Claro, tenhamos bom senso. Longe de defender a exploração desenfreada de tanta riqueza. Devemos preservar o meio ambiente, sem dúvida. Mas lembremos que existem milhares de amazonenses que não têm praticamente expectativas de melhores dias, possibilitando ter empregos, mais renda e como sustentar a sua família.
Uma nova ameaça desponta com a reforma tributária. Já se cogita acabar com o IPI, proposta que vem da própria vice-presidência da República e do Ministério da Indústria, que tem como protagonista Geraldo Alckmin, um velho conhecido do Amazonas. O que nos espera mais adiante?
Nota abre Perfil
ZFM sob nova ameaça
Preocupante a possibilidade de extinção do IPI, cuja isenção é o principal mantenedor de investimentos e atração de novos negócios para a ZFM. Ontem, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e ministro da Indústria, disse a lideranças empresariais da Fiesp que a reforma tributária pode acabar com o imposto. O anúncio é um alerta para quem apostava na intocabilidade da Zona Franca, como prometeu o então candidato Lula quando esteve em Manaus durante a campanha presidencial.
As declarações pegam a todos de surpresa. O governo anterior reduziu o tributo, mantendo parte dos benefícios a um seleto grupo de empresas, enquanto outras ainda lutam para resgatar as vantagens comparativas. Desta vez, se vingar a proposta de Alckmin, o golpe será maior. Não dá para confiar em arroubos de políticos que correm atrás de votos.
Garantias
Aliás, Lula sempre demonstrou carinho pela ZFM. Foi de seu partido iniciativa de estender a durabilidade da Zona Franca por mais 50 anos, no governo da então presidente Dilma Rousseff. Mas nada garante que ele cumprirá a promessa de preservar os benefícios proporcionados às mais de 500 empresas instaladas em Manaus. Lembremos que Geraldo Alckmin já protagonizou grandes embates com o Amazonas tendo como foco a renúncia fiscal na região. Que garantias temos?
Suframa
Enquanto isso, as forças políticas travam uma quebra de braço sobre o melhor nome para dirigir a Suframa. A disputa envolve três principais cotados – José Ricardo, Bosco Saraiva e Serafim Corrêa. Segundo lideranças consultadas, a classe empresarial prefere José Ricardo por ter mais afinidade com o governo petista de Lula, partido ao qual é filiado o deputado federal, não reeleito nas últimas eleições. Bosco também tem alto cacife -conta com o apoio do senador Omar Aziz, que tem grande tráfico de influência.
Apoiadores
Investigações da Polícia Federal apontam que lideranças do Amazonas participaram de financiamentos a apoiadores de Bolsonaro que vandalizaram as sedes dos três poderes símbolos da República, em Brasília. Nomes de supostos envolvidos estão sendo mantidos em sigilo para não atrapalhar as investigações. Ontem, agentes federais prenderam bombeiros e empresários que estiveram na central de comandos dos atos públicos na capital federal. Foram cenas de horror que chocaram o mundo.
Audiência
O ‘Fantástico’, da Rede Globo, aproveitou para aumentar a sua audiência com a divulgação de imagens inéditas dos atos em Brasília, no programa do último domingo. Foram duas edições seguidas explorando o mesmo tema. Na mídia, ninguém faz nada de graça. Além do interesse público, existe também todo um marketing empresarial para amealhar dividendos e altos lucros diante de manifestações que estiveram sob os holofotes nacionais e da comunidade internacional. Tudo gira em torno do capitalismo.
Prejuízos
Quem vai pagar os prejuízos? É o principal questionamento que se ouve do Arroio ao Chuí sobre os atos que destruíram prédios, obras de artes, e até saques de objetos de alto valor governamental, em Brasília. Segundo cálculos feitos por analistas e especialistas, a restauração de peças raras deve consumir pelo menos R$ 1 milhão. E nem todo os materiais podem ser restaurados. O Ministério da Cultura já estuda a criação de um museu que irá expor os escombros deixados pelos manifestantes.
Revogaço
O governo Lula tem se notabilizado em revogar medidas do ex-presidente Jair Bolsonaro. Agora, na esteira do revogaço está o ato que liberava a extração de madeira em terras indígenas no Amazonas. Povos originários têm reclamado que seus espaços são invadidos por madeireiros, garimpeiros e pescadores ilegais, impactando em sua cultura e no meio ambiente, de onde tiram o seu sustento da rica biodiversidade. Falta uma maior presença do poder público nessas áreas.
Cacife
O deputado Roberto Cidade (UB) tem tudo para continuar comandando a presidência da Assembleia Legislativa. Dois novos parlamentares declararam apoio a ele para as eleições que acontecem em fevereiro. Cidade figura entre a geração de novos políticos do Amazonas, encabeçada hoje principalmente pelo prefeito David Almeida e o governador Wilson Lima, grandes aliados que se opõem aos velhos caciques ainda remanescentes do então governador Gilberto Mestrinho, já falecido.
Explosão
Ontem, morreu a quinta vítima da explosão na casa de tiros na Ponta Negra, zona oeste de Manaus. O caso aconteceu na manhã do último domingo. Os proprietários do estabelecimento, um casal, e dois funcionários morreram na hora, e outra vítima foi levada para o Pronto- Socorro 28 de Agosto, onde faleceu. Bombeiros descartaram que falhas no transformador de energia tenham causado a tragédia. E, agora, investigam se o incidente tem relação com o acúmulo de pólvora. Há muitas especulações.
FRASES
“Nosso grupo trabalha em coletividade”.
Yomara Lins (PRTB), vereadora, ao assumir interinamente a presidência da CMM.
“O que precisamos é vontade política e ética”.
Marina Silva, ministra, ao discursar no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça.