23 de novembro de 2024

Apostando na integração

O atual governo central trabalha para viabilizar um bloco que fortaleça os países da América do Sul, tal qual como acontece hoje com a União Europeia. Ontem, o assunto foi extremamente debatido em Brasília, onde pelo menos 11 chefes de Estados sul-americanos se reuniram em uma cúpula para tratar sobre a demanda, objetivando maior integração e intercâmbio econômico e comercial.

Ao final do encontro, com a presença do presidente Lula, as lideranças divulgaram uma carta em que reafirmam valores comuns e concordam em aprofundar discussões sobre a criação ou restabelecimento de algum mecanismo de cooperação que envolva todos os países da região. O compromisso consta na publicação chamada de Consenso de Brasília, divulgado pelas chancelarias.  

Dividida em nove pontos, a carta diz que os presidentes “reconheceram a importância de manter um diálogo regular, com o propósito de impulsionar o processo de integração da América do Sul e projetar a voz da região no mundo”. Os signatários propõem uma discussão mais ampla sobre formas concretas de cooperação em torno de um grupo permanente, ainda não definido. “Decidiram estabelecer um grupo de contato, liderado pelos chanceleres, para avaliação das experiências dos mecanismos sul-americanos de integração e elaborar um mapa do caminho para a integração da América do Sul, a ser submetido à consideração dos Chefes de Estado.”

Segundo Lula, após o encontro, o grupo de ministros de Relações Exteriores devem apresentar uma proposta em cerca de quatro meses. “Esse grupo que foi criado, de chanceleres, tem 120 dias para apresentar, numa próxima reunião de presidentes, as propostas que eles pretendem concluir”, afirmou aos ele a jornalistas. 

Mais cedo, em seu discurso, Lula defendeu a retomada da Unasul (União de Nações Sul-americanas (Unasul). Criada em 2008, no segundo mandato do presidente, e em meio a ascensão de governos de centro-esquerda, o grupo chegou a reunir a totalidade dos países da região, mas foi se desintegrando ao longo do tempo, após mudanças de governos em diversos países, e agora reúne apenas sete: Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname e Peru, além de Argentina e Brasil, que voltaram ao grupo recentemente.

A retomada da Unsaul, no entanto, não é consenso entre os líderes da região. “Temos que parar com essa tendência: a criação de organizações. Vamos nos basear em ações”, afirmou o presidente do Uruguai, Luís Lacalle Pou, em discurso na cúpula. “Quando nos tocou assumir o governo, retiramos da Unasul. Em seguida, nos convidaram para o Prosul [bloco criado em 2019 em contraponto à Unasul], e dissemos que não. Porque senão terminamos sendo clubes ideológicos que têm vida e continuidade apenas enquanto marchemos com nossas ideologias”, acrescentou o presidente uruguaio.

Para outros presidentes, no entanto, a Unasul tem o potencial de articular ações em diversos âmbitos. “Este mecanismo de diálogo e concertação política teve o grande valor de nos unir e abrir a possibilidade de uma construção regional multidimensional em diversas matérias, como defesa, segurança, democracia, direitos humanos, infraestrutura, energia, entre outras”, destacou o presidente da Bolívia, Luís Arce.

O Consenso de Brasília registra também a visão comum de que a América do Sul constitui uma região de paz e cooperação, baseada no diálogo e no respeito à diversidade dos nossos povos, comprometida com a democracia e os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a justiça social, o Estado de direito e a estabilidade institucional, a defesa da soberania e a não interferência em assuntos internos”.

Perfil

Visto pode alavancar turismo

Com rica biodiversidade, o Amazonas ganha maior fôlego no turismo. Isso é tácito dado ao número de visitantes que vêm conhecer de perto as belezas naturais da região, a maioria procedente dos Estados Unidos (balanços oficiais). Com base nessa contrapartida, o governador Wilson Lima (UB) está em Brasília, onde tenta convencer o governo federal sobre demanda para turbinar ainda mais o segmento – a instalação de um posto dos EUA para emissão de vistos no Estado. 

Hoje, apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Brasília prestam esse serviço, obrigando muita gente a se deslocar de seus Estados para obter o documento fora do domicílio, impactando em custos com viagem, alimentação e hospedagem.  Lima manteve encontro com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, quando apresentou dados que tornam Manaus candidata a abrigar nova representação norte-americana, segundo ele. Pertinente a justificativa. Atividades turísticas têm grandes potencialidades para alavancar o desenvolvimento como coadjuvante da riqueza gerada pelo modelo ZFM.

Potencial

Segundo o governo estadual, dos 55.930 turistas que já visitaram o Amazonas em 2023, 24% são estrangeiros (13.487). Deste total, os principais emissores foram Estados Unidos (31,89%), seguido por Alemanha (10,99%), Colômbia (5,51%) e Suíça (3,51%). Entre os grandes emissores domésticos estão São Paulo (25,62%), Pará (21,60%) e Roraima (12,5%).  Nos primeiros quatro meses deste ano, o turismo gerou uma receita de pelo menos R$ 170 milhões, algo que motiva novas ações na área.

Conferência

Eventos também são outra pegada da região. De olho na COP-30, Wilson Lima colocou o Amazonas à disposição para receber reuniões preparatórias da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que terá como sede a Amazônia brasileira, em novembro de 2025, em Belém (PA). Diferencial que justifica a instalação de um visto dos EUA em Manaus. Somente em 2022, foram investidos R$ 53,5 milhões na ampliação da malha viária, agregando mais comodidade, conforto e facilidades para os turistas.

Fundo

O novo piso da enfermagem suscita polêmica. Ontem, prefeitos de várias cidades defenderam o aumento de 1,5% do Fundo de Participação dos Municípios para o pagamento de salários dos profissionais da saúde. Segundo a CNM, representação do segmento, são necessários aproximadamente R$ 10,5 bilhões para a contrapartida salarial. Após tantos impasses, ministros do Supremo Tribunal Federal aprovaram o novo teto de remuneração da categoria. Precisa ver se prefeituras têm fôlego.

Intransigência

Professores da rede estadual de ensino rejeitaram a proposta do governo de reajuste de 14%. A categoria continua intransigente. Quer aumento salarial de 25%, mas o Executivo se diz impossibilitado de atender ao pleito dos grevistas. Com isso, a greve tem continuidade, sem previsão para acabar, enquanto os deputados estaduais tentam rodadas de negociação para pôr fim ao movimento, que impacta no ano letivo. Mesmo com desconto por faltas, os trabalhadores não recuam. Complicado.

Rasteira

O vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro da Indústria, deu uma rasteira nas expectativas de lideranças empresariais e políticas do Amazonas. Ele nomeou o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria, Rodrigo Rollemberg, para presidir o CBA, hoje Conselho Administrativo do Centro de Bionegócios da Amazônia, já com a personalidade jurídica que só aconteceu recentemente depois de décadas. Rollemberg foi governador do Distrito Federal. Cadê a nossa força política.

Decoro

Parlamentares no olho do furacão. O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu, ontem, sete processos para apurar representações de quebra de decoro. Durante a sessão, foram sorteados os relatores dos requerimentos contra Carla Zambelli (PL-SP), Márcio Jerry (PCdoB-MA), Nikolas Ferreira (PL-MG), José Medeiros (PL-MT), Juliana Cardoso (PT-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O sorteio foi feito pelo presidente do colegiado, Leur Lomanto Júnior (União-BA).

Vacilada

Lula peca por não segurar a língua. Envolveu-se em nova polêmica por defender a Venezuela que, para ele, sofre embargos injustamente, garantindo não haver violação aos direitos fundamentais e democráticos no país vizinho. A reação foi imediata. Os presidentes do Chile e do Uruguai, que participavam da cúpula em Brasília, criticaram as declarações do petista. No Congresso Nacional, a exposição se esbaldou em protestos contra a boa receptividade ao presidente venezuelano Nicolás Maduro.

Espantoso

Dados preocupantes. Estudo da Fundação Oswaldo Cruz revela que peixes consumidos nos principais centros urbanos da Amazônia estão contaminados por mercúrio. Os resultados apontam que os seis Estados amazônicos apresentaram níveis de contaminação acima do limite aceitável (maior ou igual a 0,5 microgramas por grama), estabelecido pela Organização Mundial da Saúde. Precisa fechar ainda mais o cerco contra garimpeiros ilegais que invadem terras indígenas e contaminam o ambiente.

FRASES

“Amazonas é um Estado estratégico”.

Wilson Lima (UB), governador, justificando posto em Manaus para emissão de vistos dos EUA.

“Vivo isso desde 2002”.

Lula, presidente, ao minimizar críticas por defender o colega Nicolás Maduro.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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