“As iniciativas da Embrapa Amazônia Ocidental, seus sistemas agroindustriais, seu acervo de conhecimento e sua permanente interlocução e interação com outras instituições de pesquisa, pode impulsionar novas revoluções no cultivo do guaraná”.
Por Alfredo Lopes (*) Coluna Follow-up
Sob a batuta de Everton Rabelo Cordeiro, e por meio do workshop Cadeias Produtivas Prioritárias, a Embrapa Amazônia Ocidental, no último dia 23, reuniu os atores locais interessados, para debater e encaminhar demandas, entraves e oportunidades de pesquisa, desenvolvimento e inovação do guaraná, e seu princípio ativo mais cobiçado, a guaraína. O propósito da reunião é subsidiar políticas públicas para o setor agropecuário amazonense. Além do setor de bebidas não alcoólicas, o guaraná é empregado na produção de medicamentos, cosméticos e outras aplicações industriais.
O Amazonas foi sempre o maior produtor de guaraná do Brasil, entretanto, nos últimos anos, a Bahia passou a liderar a produção nacional, sinal eloquente de que o mercado é atraente. No ano passado, aquele estado respondeu por 63,2% da produção brasileira com 1.555 toneladas. O Amazonas chegou a 18,5%, concentrando seus principais plantios em Maués. Entretanto, a produção local não consegue atender a demanda mundial de seus cultivares, incluindo o guaraná com certificação orgânica de Urucará. E qual a diferença entre os cultivares?
O guaraná da Bahia geralmente contém uma quantidade menor de guaraína em comparação com o guaraná do Amazonas. A guaraína, é um estimulante natural presente nas sementes de guaraná e é semelhante à cafeína. Devido à diferença na concentração de guaraína, o guaraná do Amazonas é geralmente considerado mais potente em termos de estimulação do que o guaraná da Bahia. No entanto, é importante observar que a concentração de guaraína pode variar dependendo do processo de produção e do tipo de semente utilizado em cada caso.
E o que compete ao Amazonas avançar com seus ingredientes naturais e aproveitamento potencial de suas atividades? Não se trata de simplesmente buscar o ranking da competitividade produtiva em relação à Bahia. Seria tacanho. A rigor, temos condições plenas de investir em pesquisa e desenvolvimento como propõe há meio século a Embrapa Amazônia Ocidental. Recursos existem nos programas prioritários de Bioeconomia. Temos um Centro de Bionegocios da Amazônia com duas dezenas de laboratórios para inovar. Temos um polo industrial de bebidas consolidado, e uma demanda global de saúde, dos fitoterápicos e medicamentos integrais, além dos dermocosméticos, entre outros. A mesa está posta, os ingredientes disponíveis, o apetite pela inovação é desmedido. Só falta arregaçar as mangas.
Falta mão de obra em Presidente Figueiredo, para a unidade de produção de açúcar mascavo, ingrediente saudável das bebidas não alcoólicas. Os produtos orgânicos, a partir do guaraná, seguem com demanda reprimida. Europa e América do Norte só compram guaraná sem defensivos químicos e denominação de origem. Ou seja, a produção de Guaraína na região amazônica tem o potencial de trazer uma série de benefícios significativos para interiorizar no padrão sustentabilidade e economia do Amazonas. Nos últimos anos, esforços foram feitos para impulsionar a produção de guaraná, chegamos a fazer em laboratório da Embrapa, o superguaraná, com teor de guaraína mais elevado para a produção de bebidas energéticas.
O aumento da produção de Guaraína impulsionaria a economia local, criando empregos, estimulando a agricultura e promovendo o desenvolvimento econômico em áreas rurais da Amazônia. Em áreas abandonadas por projetos pecuários mal-conduzidos, por exemplo. Ou seja, cultivar guaraná é reflorestar a degradação das áreas em cultivos multiuso, que incluem o aumento da fixação do carbono. Isso ajudaria a reduzir a migração para as cidades, diminuindo a pressão sobre as áreas urbanas, já precárias e propensas à exclusão social.
A economia da Guaraína poderia, com ajustes da engenharia florestal, servir também como uma alternativa valiosa à monocultura de outras produções agrícolas do Centro-Oeste, reduzindo a dependência de produtos como a soja e a pecuária, que podem contribuir para o desmatamento e a degradação ambiental.
Ao promover a produção de Guaraína, os agricultores podem ser incentivados a adotar práticas agrícolas mais sustentáveis, ajudando na conservação da floresta amazônica e no combate ao desmatamento ilegal. O guaraná é uma cultura nativa da Amazônia, mas se adaptou ao semiárido nordestino, e seu cultivo contribui para a preservação da diversidade biológica da região. Isso pode atrair investimentos e apoio internacional.
As iniciativas da Embrapa Amazônia Ocidental, seus sistemas agroindustriais, seu acervo de conhecimento e sua permanente interlocução e interação com outras instituições de pesquisa, pode impulsionar novas revoluções no cultivo do guaraná. O resultado da criação de variedades mais produtivas e resistentes a pragas é inimaginável na medida em que ajustar s suas propriedades com apoio da nanobiotecnologia significa atender as demandas da indústria, do mercado e da saúde humana.
Insistimos, o Amazonas possui um recurso natural valioso na forma de Guaraína. A experiência bem-sucedida com as empresas industriais a partir das origens sagradas do guaraná de Maués demonstra o potencial dessa iniciativa e a importância de continuar investindo nesse setor. E não apenas para o benefício socioeconômico regional, mas também para a preservação da floresta amazônica e sua biodiversidade exuberante e singular.
Neste final de Novembro, a tribo se reuniu na II ExpoAmazonia Bio&Tic para apresentar seus resultados em Bioeconomia e seu relacionamento sério com a Tecnologia da Informação e da Comunicação. O melhor jeito de avançar na direção da floresta, conhecer, mapear, identificar os ativos de sua nova revolução, justa, racional, rentável e sustentável. Uma vitrine de uma realidade em construção. Um dos destaques foi o Guaraná orgânico com propriedades submetidas à indústria pelo IDESAM, que coordena o Programa Prioritário de Bioeconomia-PPBio, da Suframa, com verbas das empresas do Polo Industrial de Manaus. Aplausos a todos que propiciaram este evento e a perenização deste momento.
Nos últimos 25 anos, a indústria do Amazonas, através da Zona Franca de Manaus, tem repassado, me média, R$ 2 bilhões a cada ano para interiorizar o desenvolvimento, para disseminar oportunidades para a região, fomentando micro e pequenas empresas e projetos que poderiam ser formatados com a Academia. É preciso repensar a aplicação desses recursos. E isso exige vontade política e mobilização institucional. A guaraína é apenas um princípio ativo que pode impulsionar a transformação, entre milhares de outros que a Natureza nos deu. O que dizer daqueles que a humanidade já conhece e que representam tesouros biológicos como o açaí, o cupuaçu, o buriti, a copaíba, a castanha do Brasil… a lista é robusta como deveria ser nossa decisão em sair da apologia da potencialidade para o mutirão da prosperidade, de antecipação dessa nova utopia, a Bioeconomia.
(*) Alfredo Lopes é consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora.