24 de novembro de 2024

Não adiantou o choro

Ignorando a pressão, o Banco Central decidiu manter a sua política de juros altos para frear a disparada da inflação, apesar das críticas do governo Lula, com apoio da atual equipe econômica do Ministério da Fazenda.

A forte queda da inflação fez o BC cortar os juros pela primeira vez em três anos. Por 5 votos a 4, o Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado financeiro, que esperava um corte de 0,25 ponto.

Votaram por uma redução de 0,5 ponto percentual o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e os diretores Ailton de Aquino Santos (Fiscalização), Carolina de Assis Barros (Administração), Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Otávio Damaso (Regulação).  Votaram pelo corte de 0,25 ponto percentual os diretores Diogo Guillen (Política Econômica), Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais), Maurício Costa de Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) e Renato Dias Gomes (Organização do Sistema Financeiro).

A última vez em que o BC tinha reduzido a Selic foi em agosto de 2020, quando a taxa caiu de 2,25% para 2% ao ano. Depois disso, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis, e, a partir de agosto do ano passado, manteve a taxa em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de Covid-19, o BC tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Em junho, o indicador ficou negativo em 0,08% e acumula 3,16% em 12 meses. Nos últimos dois meses, a inflação vem caindo por causa dos alimentos e dos combustíveis.

O índice fechou o ano passado acima do teto da meta de inflação. Para 2023, o CMN (Conselho Monetário Nacional) ixou meta de inflação de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 4,75% nem ficar abaixo de 1,75% neste ano.

No Relatório de Inflação divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia 2023 em 5% no cenário base. A projeção, no entanto, pode ser revista para baixo na nova versão do relatório, que será divulgada no fim de setembro.

As previsões do mercado estão mais otimistas que as oficiais. De acordo com o boletim , pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,84%. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,98%.

A redução da taxa Selic ajuda a estimular a economia. Isso porque juros mais baixos barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixas dificultam o controle da inflação. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 2% para a economia em 2023.

Nota abre Perfil

Sistema ainda tumultua

A CMM inaugurou o novo sistema de reconhecimento facial, mas a inovação ainda gera tumulto. Ontem, parlamentares tiveram muitas dificuldades para acessar a ferramenta. Na sessão dessa quarta-feira (2), 11 vereadores estiveram ausentes do plenário. Desde a instalação, o quórum não ultrapassou 33 dos 41 políticos. A impressão é que a automatização dá mais transparência à Câmara Municipal, mas não coíbe a ausência dos quadros da Casa.

Voz isolada da posição, Rodrigo Guedes (Podemos) disse que a presença pode ser contabilizada logo no início da sessão, mas dá liberdade para a saída após a abertura dos trabalhos. “É necessário pensar em soluções para garantir uma participação efetiva nas matérias sob análise”, defendeu ele. Ao contrário, Caio André, também do Podemos e presidente da atual Mesa Diretora, afirma que a nova tecnologia deixa o legislativo mais próximo da população. Preocupante quando há divergências entre dois integrantes do mesmo partido.

Cobranças

Ontem, os vereadores cobraram providências da prefeitura de Manaus para cessar a ocupação em uma Área de Preservação Permanente, localizada no bairro Alvorada, zona Centro-Oeste, nas proximidades da avenida Desembargador João Machado. Na sessão dessa quinta-feira (02), foi aprovado um requerimento solicitando explicações da Secretaria de Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade sobre a questão. Muitos ressaltaram ser inaceitável a cidade continuar convivendo com essa situação.

Aumento

O Brasil já convive com políticos demais, que custam caro ao erário público. Porém, a Assembleia Legislativa do Amazonas defende o aumento no número de deputados federais e estaduais. Ontem, a questão foi exaustivamente debatida em plenário. A discussão se baseou nos dados apresentados pelo Censo 2022, do IBGE. Isso porque, com o crescimento da população amazonense para quase 4 milhões de habitantes, o Estado teria direito a ter mais vagas para o parlamento estadual e federal. Paradoxo.

Aumento 2

Mais investidas. Segundo os deputados, há um projeto de Lei Complementar, em tramitação em Brasília, que prevê uma redistribuição de vagas na Câmara a partir dos dados apresentados pelo IBGE. “Esses números do Censo não só influenciam na distribuição de recursos da União aos Estados e municípios, como no aumento do número de cadeiras em Brasília e, consequentemente, na Assembleia Legislativa”, disse o deputado George Lins (UB), um estreante na política amazonense.

Favorável

O deputado Roberto Cidade (UB), presidente da Assembleia Legislativa e coringa da atual gestão do governo estadual, também se manifestou favorável ao aumento de deputados federais e, consequentemente, de deputados estaduais. No entanto, admitiu que o assunto é difícil de ser levado ao debate por envolver a redução de bancadas como do Rio de Janeiro e Bahia. “Temos de ser otimistas, mas coerentes. Sabemos que Estados maiores perderão cadeiras e não abrirão mão disso”, afirmou.

Pânico

Decisão surpreendente. O prefeito de Manaus, David Almeida, vetou o projeto que previa o ‘Botão de Pânico’ nos ônibus do transporte coletivo da capital amazonense. A matéria foi aprovada em julho pela CMM. O veto acaba de ser divulgado no Diário Oficial dos Municípios. De acordo com o texto, do vereador Lissandro Breval (Avante), a implantação da ferramenta seria feita em toda a frota do setor local (pública ou privada). A prefeitura alegou interferência em assuntos do Executivo municipal.

Retaliação

Aumenta o cerco a bolsonaristas. Ontem, a Polícia Federal deflagrou a Operação 3FA com o objetivo de esclarecer a atuação de indivíduos na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão. Segundo as investigações, Carla Zambelli contratou o hacker Delgatti Neto para forjar soltura de presos e produzir mandado de prisão fake contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. A situação se afunila.

Créditos

A proteção de terras indígenas ganha mais fôlego. Ontem, Lula editou uma Medida Provisória autorizando a liberação de R$ 140,2 milhões para o emprego das Forças Armadas em apoio às ações emergenciais em áreas demarcadas de povos originários. A MP foi publicada no Diário Oficial da União. Na prática, o presidente da República abriu crédito extraordinário em favor do Ministério da Defesa para redirecionamento de recursos adicionais aos militares. O texto será analisado pelo Congresso Nacional.

Cúpula

Maior preocupação pelo ambiente. Ontem, pesquisadores, representantes de órgãos públicos e cientistas de países da Pan-Amazônia, como Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, mantiveram encontro para discutir propostas que serão levadas à Cúpula dos Países Amazônicos, que acontecerá em Belém. A abertura do evento ‘Science by and for the Amazon’, que tem programação até esta quinta-feira (3), aconteceu no auditório do Bosque da Ciência do Inpa, em Manaus. Medida assertiva.

FRASES

“Não tem nenhum mecanismo que o vereador seja obrigado a participar da sessão”.

Rodrigo Guedes (Podemos), vereador, criticando reconhecimento facial na CMM.

“Esse rapaz não entende de Brasil”.

Lula (PT), presidente, ao criticar Campos Neto, do BC, por juros altos.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

Veja também

Pesquisar