18 de outubro de 2024

Novos ciclos e ciclovias de recuperação das florestas e da vida

“A COP 28, realizada em Dubai, destacou um
conjunto de urgências das ações econômicas, sociais e ambientais para enfrentar
os desafios da mudança climática. A condenação dos combustíveis fósseis emergiu
como uma prioridade, sobretudo dos países do chamado Sul global. E como solução
imediata se impôs a necessidade urgente de recuperar as florestas com novos
ciclos e ciclovias em nome da vida”.

Por Alfredo Lopes –  BrasilAmazoniaAgora – Coluna Follow-up (*)

A crescente frequência de fenômenos extremos, desde aquecimento
até inundações, exige a redução drástica das emissões de combustíveis
responsáveis pelo aquecimento global. Essas medidas têm implicações diretas na
vida de populações que já enfrentam deslocamentos em debandada de suas terras
de origem devido ao aumento do nível do mar.

Uma das soluções práticas é a transição para veículos com
emissão zero, como motocicletas movidas a biocombustíveis ou eletricidade, e as
bicicletas, impulsionadas pela energia humana. Além de contribuírem para a
redução de emissões, essas opções promovem benefícios à saúde, fortalecendo
capacidades cardíacas e respiratórias, para começo de conversa.

Por sua vez, em tempos de ondas de calor, na recomendação de
recomposição florestal, o papel das árvores é fundamental. Além de serem
aparelhos naturais de ar-condicionado, equilibrando o clima e a umidade
natural, elas desempenham um papel crucial na retenção de umidade da chuva e na
revitalização do solo e do ar. O reflorestamento, portanto, é essencial e
terapêutico para promover uma convivência sustentável entre as pessoas e a
natureza.

Os debates foram intensos e os
interesses nem sempre convergentes. Mas ganhou aplausos a iniciativa do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que se uniu a 16
bancos públicos de fomento dos países da bacia amazônica, em parceria com Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial e Corporação Andina de
Fomento (CAF)
. O movimento deve mobilizar entre US$ 10 e US$ 20 bilhões
para negócios e iniciativas na região até 2030.  Pioneira na promoção do
reflorestamento e desenvolvimento sustentável na Amazônia, a aliança
internacional terá seu Comitê Diretor presidido pelo BNDES. O anúncio ocorreu
no início da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023
(COP28), em Dubai.

Foram múltiplas as sugestões, dramáticos os depoimentos o que
sugere emergência de soluções. No day after, porém, e para compor a paisagem, temos
algumas medidas já em curso. Uma delas, em atendimento à redução das emissões, é
a mobilidade urbana pelo mundo afora. Daí o papel da produção de veículos de
duas rodas, referência histórica da sustentabilidade, representada pelo Polo de
Duas Rodas na Zona Franca de Manaus. Concomitante ao investimento no
reflorestamento, este polo traduz passos significativos na transformação dos
paradigmas predatórios que os veículos movidos a combustão sinalizam
. Mesmo
as motocicletas, com baixíssimo teor de emissões, seus fabricantes cuidam destes
resíduos há décadas com alta tecnologia de filtragem. E a transição para a eletrificação
já caminha a passos largos. Isso aponta para uma coexistência urbana e humana mais
saudável e equilibrada. Essa combinação promissora de inovação tecnológica e
respeito ambiental pode moldar um futuro climático equilibrado para as gerações
vindouras.

 No contexto brasileiro, porém,
ainda enfrentamos um desafio significativo no cenário ambiental. De acordo com
dados do Global Forest Watch (GFW), o Brasil liderava a perda de floresta
primária e até 2021, registrando a alarmante cifra de 1,5 milhão de hectares. Os
esforços até aqui são de recomposição emergencial. Essas áreas, essencialmente
intocadas pelo homem, estão em declínio, impondo a urgência de ações para
reverter esse quadro. A situação se agravou ainda mais com um estudo
publicado na revista Nature, apontando que a Floresta Amazônica está perdendo
resiliência e transformando parcelas florestais significativas em savana. Por
isso, a iniciativa BNDES chega na melhor hora.

O aumento do desmatamento, as mudanças climáticas e os incêndios
recentes contribuem para essa transformação. A cultura predatória vai além da
perda de biodiversidade; envolve a alteração dos padrões de precipitação,
afetando diretamente a produção agrícola, peça fundamental na economia
brasileira. Ao considerar medidas de reflorestamento, é essencial compreender
que não se restringe apenas às áreas primárias. Conservar áreas verdes dentro
das zonas urbanas é uma estratégia vital, especialmente com o rápido
crescimento populacional nesses territórios.

A preservação de espaços verdes em ambientes urbanos oferece uma
série de benefícios substanciais. A melhoria na qualidade do ar é um desses
pontos positivos, conforme evidenciado por pesquisa da Organização Mundial da
Saúde (OMS). O dado alarmante de que 92% da população mundial vive em locais
com qualidade do ar abaixo das recomendações da OMS destaca a gravidade dos
problemas de saúde pública relacionados à má qualidade do ar, causando
aproximadamente 3 milhões de mortes anuais por problemas respiratórios. 
Assim,
a urgência de reverter a perda de florestas primárias no Brasil se entrelaça
com a necessidade de promover áreas verdes urbanas.

 Essas ações não apenas
resguardam a biodiversidade, mas também ressignificam a relação entre homem e
natureza, contribuindo para uma coexistência mais sustentável e saudável. A
mudança de paradigmas em direção à descarbonização, portanto, traz consigo
benefícios abrangentes, impactando positivamente a mobilidade urbana, a saúde
das pessoas, o combate ao sedentarismo e suas consequentes doenças, além de
vantagens para a economia, o clima e as novas gerações.

Veículos com zero emissões ou tecnologias de combustíveis limpos
contribuem significativamente para a melhoria da qualidade do ar nas áreas
urbanas, reduzindo a poluição atmosférica e seus impactos na saúde pública. Menos
poluição do ar resultante da descarbonização está diretamente ligada à
diminuição de doenças respiratórias, melhorando a qualidade de vida das
comunidades urbanas.

 A promoção de meios de
transporte ativos, como caminhadas, bicicletas e outros modos não motorizados,
estimula a atividade física regular, beneficiando a saúde cardiovascular,
muscular e mental da população. Ou seja, a preferência por meios de transporte
não motorizados reduz a dependência de veículos particulares, combatendo o
sedentarismo associado ao estilo de vida moderno.

 Investir em tecnologias
de energia limpa e modos de transporte sustentáveis impulsiona a inovação,
criando oportunidades para novos setores econômicos e aumentando a
competitividade global.

De quebra, a redução das emissões de carbono
provenientes do setor de transporte contribui diretamente para a mitigação das
mudanças climáticas, preservando ecossistemas e reduzindo eventos climáticos
extremos.

Meios de transporte mais sustentáveis podem melhorar a
acessibilidade, promovendo inclusão social ao oferecer opções de mobilidade
mais acessíveis para diferentes grupos populacionais. Em suma, a cultura do
carbono neutro precisa ser assimilada desde a mais tenra idade. E isso remete à
transição para uma mobilidade descarbonizada que protege recursos naturais,
garantindo que as gerações futuras possam desfrutar de um ambiente limpo,
agradável e sustentável.

(*) Alfredo é co-fundador do portal
BrasilAmazoniaAgora, uma trincheira de defesa da Amazônia e da economia
sustentável do Polo Industrial de Manaus.

Alfredo Lopes

Escritor, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora

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