17 de setembro de 2024

Varejistas jogam a toalha

Sem dúvida, os juros altos engessam qualquer programa de desenvolvimento econômico no Brasil. A insatisfação pelas altas taxas reverberam na atual equipe econômica do governo, algo até ratificado pelo presidente Lula, que não camufla as suas críticas contra a política do Banco Central em manter sempre elevada a Selic.

Ontem, Lula recebeu empresários do varejo para conversa sobre as demandas do setor. Os principais temas foram o alto nível dos juros no Brasil, a concessão de crédito, a lealdade concorrencial no setor e a reforma tributária, segundo anunciou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Ele falou com a imprensa após a reunião, que ocorreu no Palácio do Planalto, com a participação de ministros de Estado.

Segundo Alckmin, “não há razão” para o atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, que está em 13,75% ao ano. Segundo ele, os juros futuros estão em queda, enquanto os juros reais continuam subindo.

“Isso prejudica muito a atividade econômica, ou seja, prejudica o emprego. E, na realidade, o juro não está parado, o juro real está subindo há vários meses, porque à medida em que fica parada em 13,75% a Selic e a inflação está caindo, o juro real está subindo no Brasil sem nenhuma razão para isso. Não há demanda crescente, pelo contrário, acabamos de verificar agora nos últimos números do varejo um não crescimento. Ela (a taxa de juros) é extremamente preocupante”, disse.

A Selic é o principal instrumento usado pelo Banco Central para alcançar a meta de inflação porque a taxa causa reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, evitando a demanda aquecida. Em março de 2021, o órgão iniciou um ciclo de aperto monetário, em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis, elevando a taxa básica ao seu maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano.

A decisão de manutenção da Selic neste patamar vem sendo criticada pelo governo federal, que cobra uma redução para impulsionar o crescimento da economia.

Já o setor varejista também espera uma regressão dos juros no curto prazo, segundo o presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), Jorge Gonçalves Filho. “Sabemos que o Banco Central tem o rito para que isso ocorra. Nós notamos que vários programas que serão bons para o varejo, para o mercado, dependem disso também, não só a questão da Selic, do Banco Central, mas o juro praticado no cartão de crédito, que é muito elevado, e que é o próprio mercado que determina”, disse.

Além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.

Gonçalves Filho destacou, ainda, que as vendas no varejo tiveram uma regressão no primeiro quadrimestre do ano, “não muito forte, mas existiu”, e que foram apresentadas as possibilidades de retomada, como medidas para impulsionar o crédito e investimentos em outros setores que refletem no varejo, como infraestrutura.

“Aquele velho triângulo: renda, emprego e crédito. Então, vamos ajudar na questão do crédito. Pelas medidas que ouvimos, que estão aí para serem anunciadas, deve melhorar a atividade produtiva e acreditamos que o varejo terá um melhor segundo semestre”, disse o presidente do IDV.

Nota abre Perfil

Acabou a farra

Foram dois anos de investigação, mas acabou a farra com a pirâmide financeira montada para lesar funcionários públicos e outros investidores no Amazonas. Ontem, a Polícia Civil desmontou uma quadrilha que surrupiou pelo menos R$ 50 milhões em negócios irregulares no Estado. O grupo reunia várias empresas com ramificações em outras regiões do Brasil. Policiais cumpriram 19 ordens de prisão e de busca e apreensão. Fruto das ações criminosas, o dinheiro era lavado em diversos empreendimentos para despistar as irregularidades.

O esquema funcionava com a adesão de novos participantes envolvendo ou não a venda de produtos ou serviços, tudo supostamente legalizado, para movimentar milhões de investimentos, segundo o delegado Cícero Túlio, um dos integrantes que desbaratou o crime. A Justiça decretou o sequestro de valores em ativos financeiros de 14 pessoas físicas e 12 empresas. Tanta sofisticação impressionou o sistema de segurança.  A cada dia, os bandidos ficam mais ousados. A internet também é ferramenta para grandes golpes, infelizmente.

Luxo

Empanturrados com tanta grana fácil, os bandidos se esbaldavam em luxos. Usavam os milhares de investimentos desviados para bancar viagens nacionais e internacionais, tudo de primeira, desde hotéis, restaurantes, enfim, nos mais diversos prazeres que o dinheiro pode pagar. De acordo com a Polícia Civil, só no Amazonas foram ludibriadas aproximadamente 200 pessoas. Inadvertidamente, elas caíram na armadilha criminosa apostando em amealhar melhores condições econômicas. Coisas do Brasil corrupto.

Contraofensiva

Sem dúvida, existe um transparente sentimento de xenofobia em relação à Amazonas Energia, principalmente em torno dos medidores elétricos, pendenga que reverbera até na Justiça Federal. Desta vez, o deputado estadual Sinésio Campos (PT), que inferniza a vida da empresa, foi até a Câmara dos Deputados para comunicar a insatisfação dos amazonenses com as operações da companhia. Em audiência pública, citou dados do relatório da CPI na Assembleia que aponta várias irregularidades do grupo empresarial.

Contraofensiva 2

Diante de representantes da Amazonas Energia, da Aneel e de outros deputados federais, inclusive da bancada amazonense, Sinésio Campos ressaltou que a empresa não cumpre exigências do contrato de concessão. Está envolvida em vários episódios de apagões que acontecem constantemente, prejudicando Manaus e municípios do interior do Estado, onde a situação ainda é mais grave, segundo ele. O parlamentar foi incisivo ao falar que os amazonenses não querem os medidores elétricos. O grupo nega.

Braile

Medida assertiva para maior inclusão. Avança um projeto de lei, de autoria do vereador Caio André (PSC), presidente da CMM, que dá direito a deficientes visuais receberem os carnês ou boletos do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana confeccionados em braile. Ontem, matéria foi discutida na sessão plenária e teve parecer aprovado por unanimidade pelos vereadores. Se vingar, a proposta passará a ser exigida para cumprimento no órgão competente, ressaltou o parlamentar.

Oportunista

Realmente, o vereador Sassá da Construção (PT) não perde nenhuma manifestação popular para angariar mais cacife político. Ontem, ele se misturou à multidão de professores da rede municipal que se aglomerou em frente à CMM, reivindicando da prefeitura reajuste salarial de 15%. O parlamentar conduziu os manifestantes para serem ouvidos pelos vereadores. Por ora, o município só sinaliza aumento de 4,5%. A categoria segue os passos dos colegas da rede estadual, que deflagraram greve.

Reassentamento

Cumprindo ações. Ontem, o governador Wilson Lima fez o reassentamento de mais 192 famílias das comunidades da Sharp e Manaus 2000, beneficiárias do Prosamin+. O pagamento de R$ 15,7 milhões de indenizações, bônus moradia, auxílio moradia e fundo de comércio integra o ‘Amazonas Meu Lar’, maior programa habitacional da história do Estado, segundo o Executivo. “Hoje é um dia que me deixa muito feliz porque eu acompanhei por muito tempo o sofrimento de quem mora na área”, enfatizou Lima.

Divergindo

O senador Plínio Valério (PSDB-AM) não esconde a sua aversão pela gestão petista. Porém, ameniza divergências. Eleito ontem para presidente da CPI do Senado para investigar repasse de recursos públicos a ONGs em atuação na Amazônia, ele disse que a instalação da comissão não é um trunfo contra o governo de Lula. E que nem visa demonizar as organizações. “Ao contrário, é para satisfazer o sentimento dos amazônidas que já não suportam mais serem usados por esses grupos”, afirmou.

Arcabouço

Relator do projeto do arcabouço fiscal no Senado, Omar Aziz (PSD-AM) disse que a atual equipe econômica do governo Lula prefere que os senadores mantenham a versão do projeto aprovada pela Câmara dos Deputados para corrigir eventuais distorções no futuro. Aziz e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mantiveram reunião, ressaltando que uma eventual falta de espaço de até R$ 40 bilhões no Orçamento do próximo ano pode ser corrigida posteriormente. Muitas expectativas.

FRASES

“Significa um passo importante”.

Sinésio Campos (PT), deputado estadual, ao entregar relatório de CPI em Brasília.

“Voltou a divulgar notícias fraudulentas”.

Alexandre de Moraes, ministro, justificante bloqueio de perfis de Bruno Monteiro.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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