16 de setembro de 2024

Balanço  e Perspectivas da Construção Civil do AM

O Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas) estima que o setor cresceu 15% no ano passado, em âmbito local. O desempenho amazonense equivale ao dobro do apresentado pela média nacional da atividade, segundo dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que apontam crescimento de 7,6% para as empresas brasileiras, em 2021 – o melhor resultado apresentado nos últimos dez anos. Ainda assim, o número ficou 27,44% aquém do pico de atividades, alcançado no início de 2014.

Ambas as entidades concordam, no entanto, que a construção civil vai enfrentar um ano ainda mais difícil em 2022, em um cenário de escalada de  inflação e juros, em que pese a relativa acomodação dos preços dos materiais. É um cenário que deve impor desaceleração de vendas nos próximos meses. A CBIC estima queda de 2% e aponta que a manutenção do ritmo de 2021 depende de “medidas urgentes” para repor a capacidade de compra das famílias de baixa renda. O Sinduscon-AM não arrisca números, mas ainda aposta que o Ano Novo será de alta.

“Teremos um 2022 bom, mas será de crescimento menor. Especialmente baseado na alta da inflação, que já está em dois dígitos [+10,74% em 12 meses, no IPCA]. E também pelo aumento da taxa Selic, que saiu de 2% para 9,25%, no ano passado. É uma situação ruim tanto para quem quer comprar imóveis financiados, quanto para o incorporador. Esse conjunto inflacionário e de escalada de juros será um fator de redução. Sem contar que ainda teremos um ano eleitoral em 2022, que será de obras públicas reduzidas”

Frank Souza

Ponderou o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, em entrevista exclusiva à reportagem do Jornal do Commercio.

“Positivo e satisfatório”

O dirigente avalia que a construção civil teve um “crescimento positivo e satisfatório” em 2021, registrando possivelmente o melhor ano para o setor desde 2014 – período em que a atividade ainda apresentava uma “escalada alta”, tanto no Amazonas quanto na média nacional. De acordo com Frank Souza, o número de contratações de 2021, levando em conta o acumulado de janeiro a outubro, é três vezes maior do que o registro do mesmo período de 2020. “Em setembro, nós fomos o terceiro setor que mais contratou no Amazonas”, destacou.

Os dados mais recentes do “Novo Caged” informam que a atividade emendou sete meses seguidos de alta, entre março e setembro do ano passado, em sintonia com a reabertura econômica pós-segunda onda. O setor teve seus melhores desempenhos em junho, quando gerou 949 empregos celetistas, e em agosto, quando teve saldo positivo de 935 postos de trabalho formais. Mas, voltou a amargar cortes de vagas em outubro (-411) e novembro (-86), conforme a mesma base de dados. No acumulado, embora tenha ficado no quarto lugar do ranking, a construção civil do Amazonas (+3.395) foi o segmento econômico que mais cresceu nesse tipo de comparação (+16,86%).

No entendimento do presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, o maior ganho para o setor, registrado no ano passado, foi a aprovação do PL 2510/2019, que regulamenta área de proteção permanente. O Projeto de Lei em questão passou pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, sendo convertido na Lei 14.285/2021, que tira da esfera federal o poder de regulamentar as faixas de restrição à beira de rios, córregos, lagos e lagoas nos limites urbanos municipais.

Em linhas gerais, a lei altera o Código Florestal e permite a regularização de edifícios às margens de cursos e corpos d’água em áreas urbanas. Mas, pelo menos dois de seus dispositivos foram vetados pelo presidente. Um deles era o que possibilitava às edificações construídas até 28 de abril de 2021 serem dispensadas de observar as novas regras, em favor de cumprimento de exigência de compensação ambiental a ser definida pelo governo local. O outro estabelecia que, nos casos de utilidade pública ou de interesse social, a compensação poderia ser feita de forma coletiva.

“O licenciamento ambiental do Estado era gerido pelo governo federal. Era um fator que muito dificultava as aprovações em nossa região, em face de nossa geografia, muito recortada por rios e igarapés. Muita área urbana que já é consolidada era considerada Área de Preservação Permanente. Esse Projeto de Lei traz a regulamentação para os Estados e municípios e será adequado a nossa região. Certamente trará desenvolvimento econômico e maior geração de empregos, daí para frente”, comentou.   

“Valor aceitável”

Em relação ao custo do metro quadrado da atividade, o presidente do Sinduscon-AM considera que o valor é, atualmente, “bastante aceitável”, apesar da logística “cara” do Estado. Ele lembra, no entanto, que entre março de 2020 – início da pandemia – e outubro de 2021 houve um descolamento entre os preços do material de construção e do metro quadrado cobrado pelas construtoras, segundo o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) da FGV. O primeiro teria subido 42%, no acumulado, enquanto o segundo não teria passado dos 16%, na mesma comparação.

O IBGE informa que o custo da construção civil no Amazonas voltou a escalar, entre outubro e novembro. O Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil) pontuou 0,93% de expansão na variação mensal, em alta mais forte que a anterior (+0,74%). Mas, perdeu novamente para o número brasileiro (+1,07%) e encostou na inflação do período (+0,95%). Com isso, o valor do metro quadrado no Estado passou de R$ 1.428,45 (outubro) para R$ 1.441,68 (novembro). 

O aumento no custo local voltou a ser puxado pelos dispêndios com materiais, que passou de R$ 878,43 (outubro) para R$ 888,53 (novembro), uma diferença de 1,15% – pouco abaixo dos 1,21% do levantamento precedente. Já o passivo médio das construtoras amazonenses com mão de obra subiu 0,57%, ao sair de R$ 550,02 para R$ 553,15, após a estabilidade anterior. Em 11 meses, o Sinapi do Amazonas já acumula expansão de 13,59%, tendo alcançado acréscimo de 14,99% na variação anualizada.

“Estamos na 18ª posição de menor custo, no ranking brasileiro. Temos o grande vilão, ocorrido em todo o Brasil, que é o aumento dos preços dos insumos da construção civil. Apesar de termos tido um ano muito bom em 2021, a gente fica muito preocupado em relação a 2022. Principalmente pela escalada da taxa Selic e do aumento inflacionário, e do efeito que isso gera na diminuição do poder de compra dos interessados em adquirir imóveis. Certamente teremos em 2022 um bom ano no Amazonas. Mas, ele será menor”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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