19 de setembro de 2024

Inadimplência cai e concessões seguem em alta nos bancos do Amazonas

A despeito da escalada dos juros e das taxas de endividamento, o volume de concessões em operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) voltou a avançar no Amazonas em dezembro e fechou o ano no azul, em valores nominais. O desempenho anual foi melhor para as pessoas físicas, embora o mesmo não possa ser dito da variação mensal. Em contrapartida, o efeito Selic foi sentido na desaceleração dos índices de inadimplência, em que pese o incremento anual. O destaque, neste caso, veio das pessoas jurídicas. É o que apontam as estatísticas mais recentes do Banco Central.

Já o relatório de Estatísticas Monetárias e de Crédito, do mesmo BC, indica que a dinâmica de oferta e procura de crédito no Amazonas seguiu em paralelo com um aumento superior a quatro pontos percentuais na taxa média de juros cobrada pelas instituições financeiras, que passou de 20% para 24,4% ao ano, entre janeiro e dezembro de 2021. Em média, o custo do dinheiro para as famílias subiu de 24,3% para 28,7%, enquanto o valor estipulado para as empresas passou de 13,4% para 17,4%.

O volume de concessões globais de crédito para tomadores do Amazonas apresentou elevação de 3,68%, na passagem de novembro (R$ 41,212 bilhões) para dezembro (R$ 42,727 bilhões) de 2021, na medida em preços correntes. Em relação ao mesmo mês de 2020 (R$ 35.613 bilhões), o incremento chegou a 19,97%. Foi a décima alta anual seguida no indicador, que acumulou R$ 452.690 bilhões em 12 meses, 19,51% a mais do que o registrado entre janeiro e outubro de 2020 (R$ 378,798 bilhões).

O mesmo se deu para pessoas físicas e jurídicas – sendo que para estas, foi apenas o sexto mês consecutivo de alta. No primeiro caso, o montante bateu em R$ 24,809 bilhões, indicando expansão de 1,28% sobre o mês anterior (R$ 24,496 bilhões) e aumento de 25,46% no confronto com igual intervalo de 2020 (R$ 19,775 bilhões). As concessões aceleraram, mas alcançaram ritmo anual menor. Foram 7,20% maiores em dezembro (R$ 17,919 bilhões) do que em novembro (R$ 16,716 bilhões), além de terem ficado 13,15% acima do patamar capturado no 12º mês de 2020 (R$ 15,837 bilhões). 

O relatório do BC mostra que as concessões somaram R$ 4,7 trilhões em todo o país, sendo 16,5% maiores que em 2020. O crédito livre para pessoas jurídicas (R$ 1,3 trilhão) teve alta de 18,3% em 2021. Os destaques vieram das modalidades de duplicatas e antecipação de faturas de cartão, conta garantida, aquisição de veículos e ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio). O capital de giro até 365 dias diminuiu, sendo compensada pelo fortalecimento da modalidade acima de 365 dias. O crédito livre às famílias (R$ 1,5 trilhão) subiu 22,8% no mesmo período, sendo puxado pelas modalidades de crédito pessoal, aquisição de veículos e operações com cartão de crédito.

Inadimplência desacelera

Em contraste, a taxa de inadimplência geral nas operações de crédito do SFN desacelerou no Amazonas, após a alta do mês anterior, embora o dado anualizado tenha sido maior. O percentual de tomadores com dívidas atrasadas passou de 2,94% para 2,83%, entre novembro e dezembro – o dado mais baixo de agosto (2,85%). A comparação com o índice do mesmo mês de 2020 (2,28%), entretanto, ainda confirmou aumento. A taxa média do ano passado ficou em 2,98%, sendo mais elevada do que a capturada ao longo de 2020 (2,78%). 

Para as pessoas físicas amazonenses, a taxa praticamente empatou, entre novembro (3,83%) e dezembro (3,82%), após a baixas mais robusta do levantamento anterior. Mas, se manteve 0,56 pontos percentuais acima do registro do 12º mês de 2020 (3,26%). No caso das pessoas jurídicas, o decréscimo mensal foi maior entre um mês (1,63%) e outro (1,45%), após a alta de novembro. O percentual foi o menor desde setembro (1,34%), embora ainda tenha correspondido a uma elevação de 0,40 p.p. sobre a taxa de 12 meses atrás (1,05%).  

Em âmbito nacional, a inadimplência do crédito geral atingiu 2,3% em dezembro, muito taxa próxima ao menor valor da série histórica do BC, observado ao final de 2020 (2,1%). No crédito livre, o indicador aumentou 0,2 p.p. em 2021, encerrando o ano em 3,1%. Já nas operações direcionadas houve estabilidade (+0,1 p.p.) em 2021, finalizando o ano em 1,2%. Vale notar que tais operações contam custo menor pois sua concessão depende de regras definidas pelo governo, sendo destinadas principalmente aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e microcrédito.

“Perspectivas de melhora”

Na análise do consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Júnior, a evolução dos saldos de concessão de crédito no Amazonas se deve a uma perspectiva de melhora, por parte dos agentes econômicos, para 2022. Isso valeria principalmente para as empresas. “Isso vale para investimentos em aumento de linhas de produção, modernização, contratações e tudo mais”, ressaltou o economista à reportagem do Jornal do Commercio.

Em termos de endividamento, o consultor empresarial lembra que outros indicadores já apontaram para uma mudança relativa no comportamento do das famílias, que aproveitou os pagamentos de 13º e outras rendas para priorizar o pagamento de dívidas, em detrimento do consumo. “Deu uma pequena estabilizada, demonstrando que o consumidor amazonense quer começar o ano com menos dívidas”, sintetizou.    

As perspectivas para este começo de ano, conforme Francisco de Assis Mourão Júnior, são de arrefecimento da inflação, já no primeiro trimestre. “Um dos fatores que vinham impulsionando era o custo da energia elétrica pela crise hídrica, que já se encaminha para seu final. E há uma perspectiva de estabilização nas cotações dos barris de petróleo, ajudando a controlar um pouco os preços dos combustíveis. Nesse período, há uma expectativa de que a inflação estabilize, apesar da terceira onda da pandemia. Mas, nós devemos continuar com uma taxa de juros alta”, arrematou.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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