16 de setembro de 2024

Amazonas acelera no segmento bovino, mas está distante do patamar pré-pandemia

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori  Instagram@jcommercio

A pecuária amazonense avançou no segundo trimestre. Apesar da disparada no preço da carne, o Amazonas conseguiu acelerar no segmento bovino, embora siga distante do patamar pré-pandemia. A inflação também não impediu o aquecimento da atividade leiteira, que também comemorou um resultado mais forte do que o apresentado em igual intervalo do ano passado. O contrário ocorreu com a avicultura de postura, que foi novamente impactada pelos custos de produção e flutuação de demanda. É o que mostram os dados mais recentes das pesquisas trimestrais que compõem as Estatísticas da Produção Pecuária do IBGE.

O melhor resultado veio da produção da pecuária de corte do Amazonas somou 43.324 cabeças de gado bovino, entre bois, vacas, novilhos e vitelos. Houve expansão de 7,60% ante os três meses iniciais de 2022 (40.263), e de 4%, ante o mesmo acumulado do ano passado (41.657). Foi o melhor resultado da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, desde o quarto trimestre de 2020 (45.403). Em termos de pesagem, os abates superaram 9.0950 toneladas, registrando crescimentos de 9,48% e 9,43%, em relação aos respectivos períodos anteriores.   

Os bois representaram 77,20% desse total. Foram abatidas 33.370 cabeças de bois, de abril a junho, 11,40% a mais do que no trimestre anterior (29.954), totalizando 7.993 toneladas. A produção seguiu crescente entre abril (11.166) e maio (11.440), embora tenha desacelerado em junho (10.764). O resultado, contudo, praticamente empatou (+0,90%) com o obtido em igual intervalo de 2021 (33.072), ficando muito distante da marca do segundo trimestre de 2020 (42.504), quando a pandemia começou. Vale lembrar que os abates foram crescentes a partir de 2011, chegando ao topo em 2017 (68.500), para começarem a cair nos anos subsequentes. 

O Estado seguiu em trajetória semelhante à da média nacional, que somou 7,38 milhões de cabeças, em aumentos de 5,7%, no trimestre, e de 3,5%, em 12 meses. “A alta ocorre pelo segundo trimestre consecutivo após um período de baixa, especialmente do abate de fêmeas, que vinham sendo poupadas para as atividades reprodutivas desde o fim de 2019. A recente desvalorização dos bezerros parece estar levando a um descarte maior de fêmeas. Também é relevante considerar que a carne de fêmeas, principalmente de novilhas, está sendo mais requisitada pelo mercado externo”, destacou o supervisor de indicadores pecuários, Bernardo Viscardi, em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE.

O abate de suínos (14,07 milhões) também avançou no Brasil (+3% e +7,2%), batendo recorde na série histórica, iniciada em 1997. A situação foi o oposta no caso do abate de frangos (1,50 bilhão), apesar de esta também ser uma opção de proteína mais acessível ao consumidor, em tempos de inflação em alta e carne vermelha mais cara. As quedas foram de 1,4%, em relação ao mesmo período do ano passado, e de 2,7%, na comparação com o dado capturado no acumulado dos três últimos meses de 2021. O IBGE não informou novamente os dados do Amazonas referentes a ambas as atividades, já que a quantidade local de informantes ficou abaixo de três.

Ovos e leite

A produção amazonense de ovos de galinha, por sua vez, também acompanhou a tendência nacional. Encolheu 5,02%, na virada trimestral, passando de 12.417 mil dúzias para 11.793 mil dúzias. A produção também ficou 17,58% aquém da apresentada um ano antes (14.309 mil dúzias), sendo o número mais baixo da série histórica do IBGE, desde o começo da pandemia. O mesmo movimento se deu em relação à quantidade de galinhas poedeiras (1,59 milhão), que encolheu 7,56% e 17,52%, respectivamente. 

Já a aquisição de leite cru foi de 2,14 milhão de litros no Estado, sendo 10,88% superior à quantidade registrada no trimestre precedente (1,93 milhão), além de ficar 5,94% acima do registro do segundo trimestre do ano passado (2,02 milhão). O mesmo ocorreu com o leite industrializado, que somou 2,13 milhões de litros, entre abril e junho, correspondendo a altas respectivas de 22,41% e 5,44%. Em contraste a aquisição de leite cru obteve o pior resultado desde 2016 na média nacional, com 5,40 bilhões de litros e retrocesso de 7,6% em relação ao mesmo período de 2021.

“Apesar da inflação”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, assinalou à a reportagem do Jornal do Commercio que a variação positiva no número de bois abatidos e no peso das carcaças indicam aumento na demanda estadual por carne bovina. O pesquisador salienta que, no segundo trimestre, os preços ainda estavam aquecidos, em função dos custos, principalmente pela escalada dos combustíveis decorrente da guerra na Ucrânia. “No terceiro trimestre, há grandes possibilidades de novo aumento, uma vez que o IPCA indica queda no preço da carne”, acrescentou.

Adjalma Nogueira Jaques ressalta também que, diferente do ocorrido nos levantamentos anteriores, a diminuição na quantidade de empresas informantes da pesquisa não impediu crescimento na atividade leiteira, apesar da inflação. O mesmo não ocorreu, entretanto, com a avicultura de postura. “O segundo trimestre mostrou uma disparada nos preços dos ovos e isso causou queda na produção, possivelmente ocasionada pela baixa demanda do mercado local. Mas, a redução de preço dos combustíveis pode voltar a aquecer o consumo do produto, no terceiro trimestre”, ponderou.

“Fortalecimento da cadeia”

O presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, considerou que o aumento na quantidade de bovinos abatidos no Amazonas é um dado importante e mostra o fortalecimento da cadeia produtiva. O dirigente ressalta que o Amazonas vem registrando aumento na quantidade de seus rebanhos, principalmente no Sul do Estado, região que obteve recentemente o status do reconhecimento de livre de febre aftosa sem vacinação. E mantém otimismo para o restante do ano, observando que a pecuária é importante para gerar emprego e renda no interior do Estado.

“O incremento da produção de leite é consequência de ampliação de investimentos privados em melhoramento genético e de novas tecnologias, bem como de instalação de mais laticínios em alguns municípios, que se somam a algumas políticas públicas de fomento. Já a retração da produção de ovos decorre bastante da alta de custos de insumos com rações, que é a base de grãos. É um fator que tem comprometido as margens de rentabilidade da atividade. Mas, nossa expectativa é de crescimento nas três atividades, nos próximos meses”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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