17 de setembro de 2024

Amazonas fecha 2023 com o maior aumento do custo da construção civil em todo o país, segundo o IBGE

O Amazonas fechou 2023 com a maior taxa de expansão dos custos da construção civil em todo o país. De janeiro a dezembro, o metro quadrado da atividade ficou 6,80% mais caro localmente, encerrando o ano em R$ 1.793,08 (2023) – contra R$ 1.678,77, ao final de 2022. O Estado superou com folga a média do setor registrada em todo o Brasil (+2,55%) e na região Norte (+4,40%), no mesmo período. É o que revelam os dados do mais recente levantamento mensal do Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), medido pelo IBGE.

A escalada dos dispêndios locais do setor foi puxada pelos reajustes nas categorias profissionais da construção civil do Amazonas. A mão de obra saiu de R$ 625,55 (2022) para R$ 692,64 (2023), avançando 10,72%, em sintonia com o movimento da média nacional (+6,23% e R$ 720,30). No ano da vazante histórica, o subindicador relativo aos materiais progrediu 4,48%, com R$ 1.100,44 (2023) contra R$ 1.053,22 (2022), em um cenário de virtual estabilidade no restante do país (R$ 1.001,89). Pela mesma razão, a região Norte (+0,31%), registrou o segundo maior incremento do Brasil, perdendo apenas para o Centro-Oeste.

Além de manter a dianteira em relação a média nacional, a variação dos passivos da construção civil do Estado bateu com folga também a inflação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulada no ano passado (+4,62%), conforme o mesmo IBGE. De acordo com o Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas), embora a vazante já tenha ficado para trás, o foco dos aumentos de custos no setor continua sendo o preço dos materiais mais utilizados, que ainda saem mais caro para as empresas do Amazonas. 

Acima da média

Na análise mensal, a tendência de alta do indicador se manteve reforçada. Em dezembro, o metro quadrado da construção civil do Amazonas aumentou 0,38% em relação a novembro (R$ 1.786,31). Foi o maior reajuste para os dispêndios das empresas amazonenses, desde setembro (+1,63%). Também superou a correção apresentada pela média nacional do Sinapi (+0,26%), embora o IPCA do mês (+0,56%) tenha sido bem maior. Nesse tipo de comparação, a mão de obra (R$ 692,94) se manteve estável, mas o passivo com insumos subiu de R$ 1.093,67 para R$ 1.100,44, uma diferença de 0,62%.

Com a taxa mensal acima da média brasileira (+0,26%), o Amazonas (+0,38%) passou do sétimo para o primeiro lugar do ranking nacional de variações mensais para os preços da construção. Piauí (+2,45%) e Mato Grosso (+2,38%) encabeçaram uma lista com apenas quatro deflações, e o Espírito Santo (-0,12%) na última posição. Como dito, o Estado voltou a registrar o maior aumento do país no acumulado dos 12 meses do ano (+6,80%), tendo Minas Gerais (+0,17%) no extremo oposto do rol.

Mesmo com os aumentos mensais consecutivos dos meses anteriores, o Amazonas (R$ 1.793,08) permaneceu na décima colocação no ranking nacional do custo do metro quadrado, e também acima da média brasileira (R$ 1.717,11). O Estado, no entanto, passou da quinta para a quarta colocação dentro da região Norte. Os maiores números do país estão em Santa Catarina (R$ 1.987,02), Rio de Janeiro (R$ 1.894,47) e Acre (R$ 1.875,68). Em sentido contrário, os dispêndios médios mais baixos se situaram em Sergipe (R$ 1.529,64), Alagoas (R$ 1.563,47) e Pernambuco (R$ 1.569,36).

Apesar do aumento mensal, o preço médio dos insumos no Estado (R$ 1.093,67) caiu da quinta para a sexta posição no país, situando-se entre as 17 unidades federativas acima da média brasileira (R$ 1.001,89). O rol é aberto pelo Acre (R$ 1.195,60) e encerrado por Sergipe (R$ 939,77). O oposto se deu na mão de obra, rubrica na qual o Amazonas (R$ 692,64) segue bem atrás do dado nacional (R$ 720,30), além de descer da décima para a 12ª colocação. Santa Catarina (R$ 880,56) e Sergipe (R$ 589,87) estão nos extremos da lista.

“Dentro da normalidade”

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da Sinapi, Augusto Oliveira, ressaltou que a taxa de correção registrada pela construção civil brasileira em dezembro foi a menor apresentada pelo indicador para o mês, desde 2014, quando se leva em conta série histórica “com desoneração da folha de pagamento”.

“No ano, o acumulado da parcela de materiais ficou em 0,06%, também registrando a menor taxa desde 2014”, analisou, acrescentando que a alta da mão de obra (+0,24%) também foi maior nesse tipo de comparação. “Chegamos ao fim de 2023 com resultados que indicam uma menor influência da parcela dos materiais e participação mais efetiva, mas dentro da normalidade, da parcela da mão de obra. Diferente do observado nos anos de 2020, 2021 e 2022”, comparou.

Fator seca

Em entrevista concedida anteriormente à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, ressaltou que o valor médio indicador de custo da construção pode acabar marcando valores médios mais baixos em razão da predominância de imóveis de padrão econômico – os do programa Minha Casa Minha Vida – que utilizam “materiais mais baratos”. Mas, ressaltou que os preços dos insumos continuam saindo mais caros localmente do que em outras unidades federativas, inclusive nos vizinhos da região Norte. 

No entendimento do presidente do Sinduscon-AM, a própria dinâmica imposta pelo rescaldo dos impactos logísticos da crise da vazante pode ter contribuído para o encarecimento do custo médio da mão de obra no Amazonas. Por conta disso, o dirigente já havia previsto uma nova rodada de aumentos no Amazonas, diante da falta de materiais e a decorrente “baixa produtividade dos canteiros”. 

“Os dados podem sinalizar que uma parte expressiva das obras estaria em fase de acabamento. Mas, já deveria haver uma influência dos materiais [na pesquisa], porque o cimento aumentou bastante e já pode ser encontrado em Manaus a mais de R$ 100, a saca. As construtoras ainda sofrem com desabastecimento, e o valor final tente a ficar mais elevado, se não houver estoque de materiais nos canteiros para a execução das tarefas, já que o frete ficou mais caro”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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