18 de outubro de 2024

Amazonas lidera estatísticas nacionais de furto e roubo, diz IBGE

O Amazonas é a unidade federativa com maior proporção de vítimas de furto. No ano passado, em torno de 8,60% (95 mil) de todos os seus domicílios (1,10 milhão) tinham ao menos um morador que passou por isso, em um período de um ano. Foi mais do que o dobro da média nacional (4% ou 2,89 milhões). Manaus (7% ou 46 mil) concentrou 48,6% dos casos do Estado e foi a segunda capital com maior parcela de ocorrências. Empatou com Recife/PE (7%) e só perdeu para Belém/PA (10,3%). Os dados são do módulo Furtos e Roubos, da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, realizada pelo IBGE, em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O Estado também é campeão em roubos –modalidade em que a subtração de valores acontece pelo uso de violência. Em torno de 2,13% dos 3 milhões de amazonenses com 15 anos de idade ou mais (64 mil) foram vítimas desse tipo de delito, em 12 meses –contra uma média nacional de 2% (1,8 milhão). Nada menos do que 84,3% estavam em Manaus. A cidade (54 mil) comparece com uma parcela de 3,20% do total de habitantes nessa faixa etária (1,71 milhão) tendo passado por essa situação nos 12 meses anteriores à sondagem. Ficou atrás apenas de Teresina/PI e São Luís/MA (ambos com 4,4%). 

O Brasil registrou um total de 342 mil furtos de veículos em 2021, sendo 192 mil de carros e 150 mil de motos –além de 388 mil furtos de bicicleta. As ocorrências, contudo, foram mais frequentes nos próprios domicílios (44,3% ou 1,7 milhão) do que fora de casa (39,5% ou 1,4 milhão), sendo que os delitos envolvendo veículos e celulares foram os bens mais visados dentro (21,6%) e fora de casa (61,1%), superando o dinheiro (18,5% e 23,1%, respectivamente), com folga. O Sudeste foi a região com maior participação em todos os tipos de casos de subtração de valores, e respondeu por 55,3% de perda de veículos. 

O número de brasileiros com 15 anos ou mais que foram vítimas de roubo chegou a 1,8 milhão. A fatia representa 1,1% da população total do país, sendo que as regiões Norte (1,8%) e Nordeste (1,4%) aparecem com percentuais acima da média. A maioria (67,8%) teve seus bens tomados fora do domicílio (67,8%), enquanto 23% sofreram essa violência dentro de casa. Os roubos de carros (6,8%) foram mais frequentes do que os de motocicletas (5,6%) e bicicletas (3%). O IBGE ressalta que uma única vítima pode ter sofrido mais de um tipo de roubo no período de referência. As taxas de uso de armas de fogo ficaram acima de 60% em todas as categorias de roubo analisadas.

Sensação de insegurança

O Amazonas contava com 3 milhões de habitantes com 15 anos de idade ou mais, sendo 1,50 milhão de mulheres e 1,49 milhão de homens. Manaus contabilizou 1,71 milhão de pessoas, com predomínio ainda maior do sexo feminino (51,2% ou 878 mil) em relação ao masculino (48,8% ou 836 mil). A população estadual estava dividida em 1,10 milhão de domicílios, sendo que 4,45% deles (49 mil) tinham ao menos uma vítima de roubo no espaço de um ano, especialmente em Manaus (87,7% ou 43 mil).

Em todo o país, as vítimas de roubo, 50,8% eram homens e 49,2%, mulheres. Os grupos de idade de 25 a 39 anos (36,4%) e de 40 a 59 anos (28,7%) eram quase dois terços das vítimas. Na análise por etnia, 49% eram “pardos” e 36,1%, “brancos”. Entre aqueles que não buscaram a polícia para relatar a ocorrência, os motivos mais citados foram “falta de provas” (24,1%), “não acredito na polícia” (23,6%), “não era importante” (22%) e “medo de represália” (6,7%). O IBGE não divulgou os recortes regionais para essas questões.

Diante da sensação de medo generalizado, o IBGE aponta que 70,69% (779 mil) dos domicílios amazonenses tinham alguma forma de reforço na segurança patrimonial –contra os 68,02% da média nacional. Mas, em uma população de rendimento médio abaixo da média nacional, as opções mais frequentes são as mais baratas –e não necessariamente as mais eficazes. Travas, trancas, fechaduras reforçadas ou grades estão presentes em 48,1% dos domicílios do Amazonas (530 mil). 

Na sequência estão cachorros e outros animais para proteger a residência (36,7% ou 404 mil); muros ou grades altos, cacos de vidro ou arames farpados (32,2% ou 355 mil); alarmes ou câmeras de vídeo (10,9% ou 120 mil); funcionários contratados para vigilância (6,5% ou 71 mil); e cercas elétricas (6% ou 67 mil). Em sintonia com o incentivo do governo federal pela autodefesa e armamento pessoal, armas de fogo (4,8% ou 53 mil, 4,8%) também comparecem com percentual significativo.

Fora dos registros

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, enfatizou à reportagem do Jornal do Commercio que embora divida com Sergipe a liderança nacional das estatísticas de roubos, ainda reina soberano no ranking brasileiro de furtos. “O Estado, no entanto, é apenas o décimo em uso de dispositivos ou funcionários de segurança. A pesquisa faz uma fotografia da insegurança que afeta a população local, mostrando índices que destacam negativamente a situação do Amazonas”, frisou.

Em matéria postada na Agência de Notícias IBGE, a analista do órgão de pesquisa responsável pelo levantamento, Alessandra Scalioni, ressalta, por outro lado, que os números da sondagem podem superar os registros oficiais. “Ter muito mais furtos de domicílio e fora do domicílio, do que furtos de veículos pode não condizer com os registros, porque as pessoas podem não ter procurado uma delegacia para registrar”, explicou. “Mas, para acionar o seguro contra roubos de carros e motos, as vítimas precisam do boletim de ocorrência. Por isso, esses casos têm maior procura pela polícia”, emendou.

“Problema de Estado”

O sociólogo e professor da Ufam (Universidade Federal do Estado do Amazonas), Luiz Antonio Nascimento, avalia que a primazia do celular como objeto de desejo dos ‘amigos do alheio’ se deve à “bancarização” do cidadão brasileiro e da menor circulação de dinheiro físico. Diante disso, recomenda que a indústria crie “mecanismos digitais eficientes de proteção” para os aparelhos. O cientista social considera também que há uma “enorme resistência” nos órgãos de segurança pública em tratar do problema como uma questão coletiva.

“Embora os números sejam mais que uma razão suficiente para isso, cada ocorrência é tratada como um problema pessoal. Você entra em uma fila para gerar um boletim de ocorrência, e a polícia entende que já deu conta do recado. O enfrentamento precisa ser um problema de Estado. Por outro lado, não dá para esperar que saiam simplesmente correndo atrás de cada ladrão. O que precisam é identificar a atividade econômica que subsiste a partir do produto dos roubos e furtos, assim como os interesses e gerências por trás, e seu modo de trabalho”, arrematou.

Procurada pelo Jornal do Commercio, por meio de sua assessoria de imprensa, a SSP-AM (Secretaria de Estado de Segurança Pública) não retornou as perguntas da reportagem, até o fechamento desta edição.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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