26 de outubro de 2024

Amazonas produz mais leite e ovos, mas sofre retração na pecuária bovina de corte

O Amazonas registrou aquecimento na produção de ovos e de leite, no terceiro trimestre de 2023. O desempenho representou recuperação para ambas as atividades do setor rural, após os números sofríveis do trimestre anterior, e uma rodada de aumentos de custos de produção. Mas, em sintonia com a crise da vazante, a pecuária de corte – que inclui frangos, suínos e bovinos –, voltou a encolher em todas as comparações. É o que revelam os mais recentes dados locais de três das pesquisas que integram as Estatísticas da Produção Pecuária, medidas pelo IBGE.

A pecuária bovina do Amazonas totalizou 38.021 cabeças, que somaram mais de 8.736 toneladas. Bois (28.949) representaram 76,14% da pecuária bovina, sendo seguidos pelas vacas (8.787). Houve baixa de 5,69% na produção, ante os três meses anteriores (40.316), e uma queda de 6,88% diante do mesmo período de 2022 (40.832). Dentro do trimestre, a produção avançou de julho (13.313 cabeças) para agosto (14.152), mas mergulhou em setembro (10.556).

Apesar da queda o Amazonas seguiu como o quinto maior produtor de gado bovino da região Norte, atrás de Pará (769.628), Rondônia (764.178), Tocantins (346.708) e Acre (129.933). Mas, caiu para a quinta posição do ranking nacional, ficando na 20ª colocação. Em paralelo, o abate de bovinos atingiu a maior marca da série histórica no Brasil, iniciada em 1997. Chegou a 8,93 milhões de cabeças, obtendo altas de 12,2%, em relação ao mesmo período do ano anterior, e de 5,50%, na comparação com o segundo trimestre de 2023.

A análise da série histórica do Instituto de Geografia e Estatística confirma que a quantidade de animais abatidos no Estado ainda está bem distante do pico atingido no primeiro trimestre de 2017 (68.500). A escala de produção amazonense seguiu crescente de 2005 até aquele ano, a despeito de oscilações pontuais. Mas, passou a encolher gradual e constantemente a partir de 2020, em decorrência dos impactos da pandemia e das mudanças climáticas, chegando ao seu número mais baixo no quarto trimestre de 2021 (31.283). Desde lá, os números oscilaram.

O abate de suínos se recuperou do tombo anterior e atingiu 14,62 milhões de cabeças (e toneladas) em todo o país. Com isso, a atividade bateu recorde, registrando acréscimos em ambas as comparações (+0,5% e +2,9%, respectivamente). Já o número de frangos abatidos chegou a 1,58 bilhão no trimestre, equivalendo a um aumento de 3,2% no ano e de 1,4% no trimestre. O IBGE-AM informa que a insuficiência de informantes mais uma vez não permitiu a divulgação de dados sobre os abates de suínos e de frangos no Estado. 

Leite e ovos

O melhor resultado da pecuária amazonense no período veio da produção leiteira, com crescimentos em ambas as comparações. A oferta de leite cru adquirido e industrializado chegou a 2,77 milhões de litros, configurando uma escalada de 17,87%, no confronto com os três meses anteriores (2,35 milhões). Também houve um acréscimo substancial de 33,17% ante o mesmo acumulado de 2022 (2,08 milhões), sendo esse o melhor resultado da série histórica, desde 1997. Na análise mensal, o desempenho sofreu pouca variação entre julho (929 mil) e setembro (936 mil).

Com isso, o Amazonas subiu da quinta para a quarta colocação na região Norte, perdendo para Rondônia (126,25 milhões), Pará (37,28 milhões) e Tocantins (21,93 milhões). Mas, ainda é o 23º produtor em todo o país. Na média nacional, a aquisição de leite em estabelecimentos com algum tipo de inspeção sanitária somou 6,23 bilhões de litros sendo 1,3% maior do que a do mesmo trimestre de 2022 e 8,6% superior ao quantitativo apresentado nos três meses imediatamente anteriores.

A produção de ovos também melhorou. A quantidade de galinhas poedeiras no Amazonas (1,77 milhão) cresceu 4,12% em relação ao trimestre anterior (1,70 milhão) e 14,93% frente aos mesmos três meses do exercício anterior (1,54 milhão). As 28 unidades informantes ouvidas na sondagem informam que a produção de ovos aqueceu entre o segundo (10.584 mil dúzias) e o terceiro (11.059 mil dúzias) trimestres, com alta de 4,49%. O auge da produção ocorreu em agosto (34,08 mil dúzias). Mas, não foi possível evitar uma queda de 4,17% em relação a igual intervalo de 2022 (11.540).

O Estado está no 15º lugar do ranking nacional e ainda desponta como o maior produtor de ovos do Norte do país, superando com folga o segundo colocado – o Pará, 7.470 com mil dúzias. Também conta com o segundo maior plantel da região, logo atrás de Tocantins (2,08 milhões). No período, a produção brasileira atingiu recorde, com 1,06 bilhão de dúzias, o que equivale a um aumento de 2,3% no ano e de 1% no trimestre. 

“Proteína acessível”

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o supervisor da pesquisa, Bernardo Viscardi, atribuiu os crescimentos da pecuária de corte brasileira a mudanças no mercado. “Há um crescimento no abate de machos e, principalmente, de fêmeas. Entre 2019 e 2022, com o aumento do preço dos bezerros, os criadores passaram a reter as fêmeas. A partir do primeiro trimestre de 2023, houve a retomada do abate desses animais e a entrada dos bovinos reproduzidos naquele período no mercado, indo para os frigoríficos”, explicou.

O pesquisador acrescenta que as altas da produção leiteira ocorreram em um cenário de queda do preço médio do produto, tanto no ano (-24,7%), quanto no trimestre (-14,4%), com os valores médios passando de R$ 2,45 para R$ 2,19 em setembro, entre julho e setembro. Já o segmento de produção de ovos consolidou mais de três anos de elevação contínua. “Desde 2020, a produção vem se expandindo, porque é uma proteína acessível e considerada um alimento saudável. Mais de 95% dessa produção vai para o mercado interno. Do volume total, cerca de 81,9% vão para alimentação e 18,1%, para a incubação, para reposição de frangos de corte e de aves poedeiras”, informou.

“Forte concorrência”

O presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, assinalou à reportagem do Jornal do Commercio que os números da produção local de ovos de galinha são “extremamente importantes”, pois mostra um segmento consolidado no Estado. O destaque positivo do crescimento de oferta da produção de leite, por sua vez, foi atribuído pelo dirigente aos investimentos do setor privado em tecnologia, melhoramento genético e agregação de valor.

“Já o resultado negativo em relação ao abate de bovinos em nosso Estado se deve principalmente pelo rigoroso período de seca e estiagem ocorrido no segundo semestre de 2023. Isso impactou na qualidade e disponibilidade de pastagens e, consequentemente, na engorda do gado. Além disso, outro fator que teve influência para esse desempenho foi a queda do valor da arroba do boi”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar