O Amazonas criou empregos com carteira assinada pelo quinto mês seguido, em maio. As admissões (+20.191) superaram os desligamentos (-18.304) por uma vantagem 1.887 de vagas, o equivalente a um acréscimo de 0,39% sobre o estoque anterior. O saldo ficou pouco abaixo do apresentado em abril (+1.964), que teve quatro dias úteis a menos, e correspondeu a menos da metade do atingido em igual período de 2022 (+4.159). Manaus (+1.519) concentrou quase toda a oferta, em um mês em que as contratações foram carreadas pelos serviços e pela construção.
A alta proporcional do Estado (+0,39%) superou mais uma vez a média nacional (+0,36%), mas foi bem mais acanhada do que o dado da região Norte (+0,61%). O mercado de trabalho formal amazonense encerrou o acumulado do ano com expansão de 1,31% e geração de 6.210 novas vagas, além de também seguir no azul no aglutinado de 12 meses (+5,68% e +25.802). O estoque – que é a quantidade total de vínculos celetistas ativos – chegou a 481.472 ocupações. Os números foram extraídos da base do ‘Novo Caged’, e foram divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência, nesta quinta (29).
O Brasil como um todo também teve mais admissões (+2.000.202) do que desligamentos (-1.844.932). O somatório de novas vagas chegou a 155.270 e configurou alta de 0,36%, mas veio mais fraco do que abril de 2023 (+180.005) e maio de 2022 (+277.018). Em cinco meses, foram criados 865.360 postos de trabalho em todo o país, situando o estoque em 43.299.953 vínculos empregatícios. Todos os cinco setores econômicos avançaram nas contratações. O avanço se disseminou em todas as cinco regiões brasileiras também, com criação de vagas em 23 das 27 unidades federativas.
Vale ressaltar que a oferta de empregos formais ainda está distante da demanda dos trabalhadores, tanto em âmbito estadual, quanto nacional. Os números mais recentes do IBGE mostram que o Amazonas encerrou o primeiro trimestre de 2023 com o nível de desocupação estatisticamente estabilizado em um patamar elevado e 200 mil pessoas na fila do desemprego – o equivalente a 10,5% de sua força de trabalho. Apenas 54,2% (1,70 milhão) da população amazonense “apta ao trabalho” (14 anos ou mais) tinha ocupação remunerada, sendo que 57,2% 974 mil) dessas vagas não contavam com carteira assinada. O desempenho do segundo trimestre de 2023 só será divulgado em agosto.
Serviços e construção
Diferente do mês anterior, todas as cinco atividades econômicas fecharam abril com mais admissões do que desligamentos no Amazonas. Os serviços seguiram na liderança do ranking, com alta de 0,45% e criação de 985 empregos celetistas, com metade do acréscimo de abril (+1.948). Os destaques vieram dos segmentos de alimentação (+286), do transporte terrestre (+171) e do grupo que reúne informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (+242). No acumulado do ano, o setor gerou 6.261 vagas (+2,91%) no Estado.
O mês do Dia das Mães não foi suficiente para embalar o grupo que reúne “comércio e reparação de veículos”, que acabou se mantendo na terceira colocação. O número de postos de trabalho gerados em maio (+241), contudo, já superou a acanhada oferta de abril (+27), permitindo um avanço de 0,22% no estoque do setor. As contratações foram novamente puxadas pelo atacado (+105), mas desta vez se estenderam também ao varejo (+99) e ao segmento de “reparação de automóveis e motocicletas” (+37). O saldo do acumulado do ano, entretanto, segue negativo em 511 vagas (-0,47%).
A construção sinalizou recuperação, ao criar 609 postos de trabalho (+2,64%) – em sentido contrário a abril (-153). O avanço foi disseminado nos subsetores de construção de edifícios (+276), obras de infraestrutura (+267) e serviços especializados para construção (+66). A agropecuária emendou um terceiro mês de alta, ao criar 34 ocupações formais (+0,73%), sendo favorecida especialmente pela pecuária (+44) pela produção de lavouras temporárias em geral (+11). De janeiro a maio, a construção trocou de sinal e já aparece com saldo positivo de 246 vagas (-3,07%), o que não ocorre com agropecuária (-109 e -2,28%).
A indústria despencou da segunda para a última posição do ranking do Estado, ao abrir apenas 18 vagas (+0,01%), em ritmo ainda menor do que o de abril (+101) e março (+161). As contratações se concentraram na indústria de transformação (+117), especialmente nas linhas de produção de máquinas e equipamentos (+198) e “outros equipamentos de transporte” (+126), entre outros. Na outra ponta, os segmentos de água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação (-82), eletricidade e gás (-15) e a indústria extrativa (-2) promoveram cortes. Em cinco meses, a alta de empregos na indústria amazonense foi de 0,27% (+325).
Gargalo nos juros
O presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, avalia que os números do Novo Caged vieram ao encontro do que os setores aguardavam para maio. O dirigente diz que não há surpresa na liderança dos serviços no mercado de trabalho local, em face se sua resiliência dos últimos meses e de sua participação majoritária na criação de vagas formais. E ponderou que, apesar da “pouca expressividade nas vendas”, o comércio tende a melhorar, com o consumidor deixando de limitar suas compras a itens básicos.
“O consumidor está combalido, endividado e com dificuldade de acesso ao crédito. Tanto que o Dia das Mães teve crescimento abaixo do desejado. Nossa expectativa é de incremento das atividades com a chegada do verão, já que as chuvas intensas inibiram as vendas do primeiro semestre, também. O governo também está acenado com o ‘Desenrola’. Ainda não é suficiente, porque o alcance é pequeno, mas esperamos que ele se sensibilize e ofereça maior nível de solução de crédito. E, com o Banco Central sinalizando reduzir a taxa Selic, devemos ter impacto positivo no endividamento das famílias”, analisou.
O presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, diz que a sazonalidade ajudou o setor, já que a tendência é de aumento de contratações, assim que chega próximo ao segundo semestre. “É uma época de sol, com a chegada do verão amazônico, quando mais se contrata e mais se constrói, em função da questão climática. E há também outros fatores, como a definição das regras do Minha Casa Minha Vida, que cria mais ânimo para tocar empreendimentos. Há muitos projetos na gaveta que já devem estar saindo de lá”, avaliou, acrescentando que, embora não tenha caído, o fato de a taxa de juros não ter subido também ajuda .
O vice-presidente da Fieam, Nelson Azevedo, considerou que o resultado na geração de empregos na indústria reflete “certa estagnação” na economia. E lamentou que a manutenção da taxa de juros em um patamar “bem acima da inflação” esteja freando o consumo e travando os investimentos no setor, além de inibir a criação de empregos.
“A demanda pelos produtos da indústria é maior no segundo semestre. Acreditamos que a queda gradual na taxa de juros, a manutenção da inflação no patamar próximo a 4% ao ano, e a aprovação final do arcabouço fiscal, impulsionarão o consumo das famílias, que demandará mais postos de trabalho na indústria para aumentar a produção e atender as encomendas”, concluiu.