16 de setembro de 2024

Amazonenses pagam mais caro por alimentos

De acordo com a plataforma Cesta de Consumo HORUS & FGV IBRE, Manaus registrou alta no valor médio da cesta de consumo básica de alimentos de março deste ano. O valor médio da cesta na capital chegou a 4,1% em relação ao mês anterior. O registro soma-se a outras sete capitais analisadas mensalmente pela plataforma Cesta de Consumo HORUS & FGV IBRE, com aumentos que variam de 1,6 a 5,5%.

De acordo com o levantamento, os grupos de produtos que apresentaram aumento de preço mais expressivo, em todas as capitais, foram os legumes (representados por batata, cebola e cenoura), seguidos de ovos, óleo de soja, arroz e feijão.

Os reajustes dos itens que compõem a cesta básica seguem acelerando. Os fatores são diversos: inflação elevada, conflito no Leste Europeu, aumento do combustível. No caso de Manaus, é necessário considerar ainda mais um agravante: o custo logístico, aspecto frisado pelo professor universitário e consultor econômico Francisco de Assis Mourão Júnior. 

“Tudo que nós compramos e que consumimos aqui vem de fora. Não temos como nos abastecer internamente. Isso vem provocando esse aumento que não é demonstrado na questão dos índices de inflação, calculados com base nacional, fora da região Norte, o que provavelmente o nosso indicador de inflação internamente seja muito maior que o indicado na pesquisa de cesta básica”. 

Ele explicou que essa variação nos itens da cesta demonstram que os custos de inflação para produzir estão muito altos. Reforçou ainda que acompanhado ao fator guerra que vem aumentando o preço das commodities, principalmente na questão do combustível, além do câmbio que apesar de vir numa sequência de queda desde janeiro, ainda continua com uma cotação alta. 

A diretora de novos negócios da HORUS, Luiza Zacharias, enfatizou que Rússia é um dos principais exportadores de fertilizantes do mundo, e que o Brasil depende fortemente daquele país para o fornecimento de matérias-primas para fertilizantes utilizados em lavouras do país, o que tende a aumentar os custos de produção e, consequentemente, a pressionar os preços de legumes, frutas e verduras para cima. 

Ao analisar o aumento, a pesquisa detalhou os reajustes nos referidos itens. O preço dos ovos, por exemplo,  é consequência, principalmente, de dois fatores. Um deles é a alta procura do produto, como uma alternativa de proteína mais econômica, em função do aumento de preço das carnes. Outro fator é o aumento dos custos de produção, em especial do milho, usado na ração para alimentar as galinhas, que tem apresentado alta de preços como reflexo de fatores climáticos, como as geadas e estiagem, que ainda prejudicam algumas regiões.

Já o óleo de soja, por sua vez, ainda sofre impactos pela quebra de safra devido à estiagem no Sul do Brasil. Além disso, houve quebra de safra do óleo de palma na Ásia, reduzindo no Brasil a oferta de óleo de dendê, mais consumido por ser mais barato. Por fim, a guerra resultou em menor oferta de óleo de girassol, dado que a Ucrânia e a Rússia respondem por 77% da exportação desse produto. Com a redução de oferta dos óleos de palma e de girassol, houve aumento significativo da demanda mundial por óleo de soja, levando seu preço às alturas. Junta-se a isto o crescente interesse por biodiesel, que tem o óleo de soja como a principal matéria-prima, devido à alta no preço internacional do petróleo.

Os problemas climáticos também têm sido o principal motivo de aumento de preço do feijão, devido à quebra de safras e consequente redução da oferta no mercado. Já o aumento do preço do arroz deve-se, principalmente, ao aumento dos custos de produção, devido à alta de preços dos insumos utilizados na lavoura;

Outros alimentos também apresentaram alta de preços, na maior parte das capitais: frutas, verduras, leite UHT, pão, farinha de trigo.

Preços de pão e farinha de trigo já começam a sentir os impactos do aumento internacional do preço do trigo, decorrente da guerra entre Ucrânia e Rússia, que são grandes exportadores do produto. O aumento do preço de leite também é consequência da guerra, cujo preço no mercado internacional alcançou o maior patamar dos últimos anos, com oferta global limitada. Além disso, o aumento do preço de insumos tem elevado o custo de produção do leite, especialmente do milho e da soja, que registraram forte valorização devido à quebra da safra brasileira. Junta-se a isso a elevada demanda mundial, por conta da guerra, o que tem mantido o preço dessas commodities em alta.

Cesta de consumo ampliada 

Quando se considera a cesta de consumo ampliada, que inclui bebidas e produtos de higiene e limpeza, além de alimentos, houve um aumento no valor médio em sete das oito capitais analisadas, em relação ao mês anterior. As capitais que apresentaram valores mais altos da cesta ampliada foram Rio de Janeiro (R$ 1716,97) e São Paulo (R$ 1674,28). As maiores altas no valor da cesta ampliada foram registradas em Curitiba (4,1%), Manaus (3,1%) e Belo Horizonte (1,6%).

Na cesta ampliada, destaca-se a elevação de preços de produtos de higiene e limpeza em algumas das capitais pesquisadas, tais como água sanitária, amaciante para roupa, detergente líquido e sabonete.

Números

A cesta mais cara foi a do Rio de Janeiro (R$ 842,42), seguida pelas de São Paulo (R$ 804,58) e Fortaleza (R$ 722,41). Por outro lado, as capitais Belo Horizonte (R$ 561,88, Manaus (R$ 617,61) e Brasília (R$ 658,96).

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar