Amor pela Amazônia

Em: 18 de junho de 2025
Descendente de libaneses históricos, o fotógrafo Jacques Menassa declara seu amor pela Amazônia através de suas fotos.
"Menassa, na Amazônia, senti uma conexão quase espiritual com o mundo natural”
"Menassa, na Amazônia, senti uma conexão quase espiritual com o mundo natural”

Acontece na noite de hoje, 18, do outro lado do oceano, do outro lado do mar, em Beirute, no Líbano, às 19h, a vernissage da exposição do libanês mais apaixonado pela Amazônia e pelo Brasil, o fotógrafo Jacques Menassa. 32 fotografias compõem a exposição ‘Meu Brasil brasileiro’. A título de curiosidade, 19h em Beirute é meio-dia em Manaus.

“Das 32 fotografias expostas, 12 são da Amazônia. Elas retratam a diversidade natural, cultural e humana da região. As demais imagens foram feitas em várias regiões do Brasil, como Rio de Janeiro, São João Del-Rei, Tiradentes, entre outras”, falou.

O amor de Menassa pelo Brasil, e em especial pela Amazônia, começou quando ele descobriu que seus avós Jacob e Wadiha foram, no final do século 19, os primeiros libaneses a virem para o Brasil e depois retornarem ao Líbano, mas deixando descendentes em Manaus.

Jacob migrou para Manaus, com seus três irmãos, Vicente, Pedro e Paolo, por volta de 1885. Trabalharam no comércio vendo a cidade rapidamente ficar rica devido o comércio da borracha. Em 1900 Jacob retornou ao Líbano, casado com Wadiha Sessine, uma descendente de libaneses nascida em Belém. Sua intenção era estabelecer negócios entre o Líbano e o Brasil, e assim o fez, durante anos, se tornando um homem rico. Abrahim, filho de Jacob, migrou para Manaus, em 1926, onde se casou e constituiu família. Foi atrás desses parentes que Menassa, em 1984, veio a Manaus.

“Quando conheci o Amazonas e a Amazônia, há mais de 40 anos, fui imediatamente tocado pela grandiosidade da natureza e sua presença viva em cada detalhe, a imensidão do rio, a força silenciosa da floresta. Tudo isso me causou um impacto profundo. O que mais me chamou a atenção foi essa sensação de infinito verde, de tempo que não se mede pelo relógio, mas pelo ritmo da água, dos ventos, dos cantos dos pássaros. É algo que não existe no Líbano, um país menor, de paisagens muito diferentes. Na Amazônia, senti uma conexão quase espiritual com o mundo natural”, revelou.

 

Guimarães Rosa

‘Meu Brasil Brasileiro’ acontece no Instituto Guimarães Rosa, instituição oficial ligada à Embaixada do Brasil. É responsável por promover a cultura brasileira no Líbano. O Instituto organiza eventos culturais, exposições, apresentações musicais, oficinas e outras atividades que divulgam a riqueza artística e linguística do Brasil, além disso também atua no ensino da língua portuguesa, criando pontes entre o Brasil e o povo libanês por meio da arte, da cultura e do diálogo intercultural.

“Inicialmente o Instituto se chamava Centro Cultural Brasil-Líbano, funcionando como um espaço dedicado à promoção da língua portuguesa e da cultura brasileira. Com a reestruturação da política cultural externa do Brasil, o Centro passou a integrar a rede mundial dos Institutos Guimarães Rosa, adotando esse novo nome em homenagem ao grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa. Desde então continua sua missão de fortalecer os laços culturais entre o Brasil e o Líbano”, explicou.

A exposição ‘Meu Brasil Brasileiro’ é o resultado de inúmeras viagens de Menassa pelo Brasil. A mostra destaca as vibrantes expressões culturais do país, sua beleza arquitetônica e a rica diversidade étnica, das florestas tropicais às exuberantes praias douradas; do sertão seco aos vastos pampas do Sul, as imagens oferecem uma narrativa visual de um país repleto de ritmo, cor e história.

 

Povo maravilhoso

“Escolhi esse tema porque ele evoca um Brasil pessoal, íntimo, vívido. É uma maneira de dizer: ‘este é o meu Brasil, aquele que eu vejo, que eu sinto, que quero compartilhar’. É uma resposta à diversidade e à complexidade do país, afastando-me dos clichês para mostrar aquilo que, na minha visão, o torna autenticamente brasileiro. A maior dificuldade foi escolher o que mostrar. O Brasil é tão vasto, tão rico, que cada imagem representa uma escolha e, portanto, uma exclusão. Encontrar o equilíbrio entre estética, verdade e diversidade não é uma tarefa simples”, informou.

Jacques Menassa nasceu em Ghosta, Líbano, em 1956. Graduado em Ciências Políticas e Administrativas, sua paixão pela fotografia começou na infância e o levou a estudos formais na Université Saint-Esprit de Kaslik. Ao longo das décadas, desenvolveu uma carreira internacional distinta, especialmente no Brasil, onde viveu, em grande parte, na Amazônia, lecionou e expôs amplamente.

A lente de Menassa é profundamente humana e culturalmente sensível. Seu trabalho inclui exposições premiadas, oficinas educativas e mais de três décadas de documentação fotográfica da região amazônica e além. Através de sua arte, ele busca construir pontes entre o Líbano e o Brasil, celebrando a beleza, a identidade e o patrimônio compartilhado entre ambas as nações.

“O que mais me tocou foi o povo maravilhoso da Amazónia e da nossa querida Manaus, que deixou em mim uma marca inesquecível. A generosidade, a força e a alegria das pessoas me mostraram um Brasil profundo, verdadeiro e humano. Vivo entre dois amores: o Brasil e o Líbano, e meu coração é dividido entre esses dois amores”, finalizou.

 

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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