21 de dezembro de 2024

Analistas de desempenho individuais caem no gosto dos jogadores de futebol

O zagueiro Nino, do Fluminense, tinha um hábito. Quando seu time sofria um ataque rápido e ele estava correndo em direção à própria área, girava o corpo em quase 360º se o adversário mudasse a bola de lado. Tentava não perder o contato visual com ela. Mas acabava se atrasando em relação ao atacante que marcava. Depois que foi alertado sobre isso, mudou a postura. Passou a fazer o giro mais curto, de costas para a bola. Ganhou tempo e eficiência.

Quem o alertou foi seu analista de desempenho particular. Desde abril de 2022, Nino é cliente da Performa Sports, especializada neste tipo de consultoria. Assim como André, também do Fluminense; Luan, do Palmeiras; e Bruno Guimarães, do Newscastle-ING. Ao todo, ela atende 45 atletas.

— O departamento de análise do Fluminense faz um trabalho muito bom, mas mais voltado para os comportamentos coletivos da equipe. Eles mandam vídeos e observações individuais, mas não com a agilidade e o volume que eu recebo do pessoal da consultoria — explica Nino, que relata outras evoluções, além da mudança no giro do corpo.

— Esse movimento me ajudou em inúmeros lances de jogo. Mas existem vários outros que foram aprimorados, que me ajudaram. Existem inúmeros pequenos detalhes de postura, de posicionamento, de velocidade de reação… São mínimos detalhes que fazem toda diferença e que muitas vezes são ignorados pelo público.

A criação deste serviço atingiu uma demanda que parecia reprimida. O mercado nacional conta com pelo menos cinco empresas, além de quem trabalha de forma independente. Ao todo, estima-se que mais de 150 jogadores de futebol, entre profissionais e juvenis, homens e mulheres, já tenham um analista individual.

De uma maneira geral, as consultorias surgiram entre 2020 e 2021. Em meio à popularização das reuniões on-line, os analistas começaram a prospectar clientes com a ideia de um serviço personalizado e que poderia ser feito à distância. No começo, abordavam empresários e entravam em contato com os atletas pelas redes sociais. Hoje, já se beneficiam da propaganda boca a boca e são procurados por interessados.

— Tem muito empresário que procura o serviço achando que a gente vai resolver o problema do atleta dele — conta Wagner Willian, um dos fundadores da Taticalizando, que conta com 13 profissionais e atende 26 clientes (como Vitor Roque, do Athletico), e que define seu trabalho como ajudar os jogadores a evoluírem cognitivamente:

— É fazer um acompanhamento individual com o atleta. Independentemente se ele está bem ou mal, nosso trabalho sempre vai ser o mesmo: coletar os pontos positivos, os pontos a melhorar e abordar esse atleta de forma que a gente tenha uma aula livre, no sentido de debater. E conseguir, junto a ele, encontrar caminhos diferentes para as ações que precisa melhorar e potencializar aquilo que já faz de bom.

Os valores variam de cerca de R$ 600 a em torno de R$ 4,5 mil mensais. Algumas empresas cobram de acordo com clube, divisão e categoria do atleta. Mas há quem precifique segundo o nível do serviço escolhido.

As sessões, uma ou duas vezes na semana, duram cerca de 50 minutos. Nelas, são exibidos vídeos editados com lances do cliente em jogos passados. Também são abordados os pontos fortes e fracos do próximo adversário, principalmente dos jogadores com quem ele mais terá combates.

Como se trata de uma via de mão dupla — e não uma aula onde só um fala —, o atleta leva suas questões e inseguranças relacionadas ao trabalho. Assim, a sessão pode ganhar um caráter de divã futebolístico.

— A gente ouve muito o que os atletas falam. É um canal aberto para eles contarem tudo de treinamento, de relação… É um espaço muito seguro. Então a gente consegue fazer o trabalho mais contextualizado possível — diz Eduardo Barthem, um dos sócios da Performa, que conta com 14 integrantes.

Justamente por ser individualizado, este serviço não se choca com o trabalho das comissões técnicas, mais voltado para o coletivo. Como muitos atletas já contam com um estafe particular (como preparador físico, fisioterapeuta e nutricionista), os clubes estão mais acostumados.

— A gente estuda o modelo de jogo do treinador para que (as orientações aos jogadores) não se choquem nunca com ele — explica Rafael Marques, também sócio da Performa.

Com exceção dos goleiros, há jogadores de todas as posições. Mas é possível identificar predominâncias que ajudam a traçar um perfil da clientela. Em geral, há mais homens que mulheres e pessoas de 30 anos para baixo. Outra curiosidade é a prevalência de volantes, laterais e zagueiros.

Já os analistas são homens jovens apaixonados por futebol (que não necessariamente tentaram ser jogadores). A formação em Educação Física não é uma regra. Mas todos precisam passar pelos cursos voltados a quem quer trabalhar com análise.

O traço que mais os une, na verdade, é a falta de interesse em atuar dentro dos clubes (embora até prestem serviço terceirizado para eles). Veem o ambiente contaminado pela pressão por resultados, questionam as privações da rotina de trabalho e entendem que os profissionais são mal remunerados. A criação do próprio negócio é uma busca por valorização. AS informações são de O Globo.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

Veja também

Pesquisar