19 de setembro de 2024

Apesar das dificuldades, comércio terminou 2022 com alta de 2,2% nas vendas

O comércio varejista do Amazonas fechou o ano no azul, ao obter alta de 2,2% nas vendas. Foi um resultado duas vezes maior do que o obtido pela média nacional (+1%), embora tenha sido também o mais baixo índice de crescimento alcançado pelo setor no Estado, desde 2002 (+0,9%). Depois de patinar no mês da Black Friday e da Copa, o varejo amazonense estagnou em dezembro, nas variações mensal (+0,1%) e anual (-0,1%), a despeito do Natal. Os respectivos números brasileiros (-2,6% e +0,4%) também foram pífios. É o que revelam os dados da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgados pelo IBGE, nesta quinta (11). 

O órgão de pesquisa não informa o recorte regional por segmentos do comércio. Sabe-se apenas que produtos mais dependentes de crédito, e que formam o chamado varejo ampliado (como veículos e autopeças), aqueceram o setor. Mas, em sintonia com o encarecimento e maiores dificuldades no crédito, registraram baixas ainda mais acentuadas ante 2021. Em todo o país, o subsetor de livros, jornais, revistas e papelaria estagnou em novembro (+0,1%), enquanto os demais encolheram. No acumulado do ano, cinco das oito atividades cresceram, com destaque positivo para combustíveis e lubrificantes (+16,6%), e negativo para material de construção (-8,7%).

O comércio teve vendas negativas em 19 das 27 unidades federativas brasileiras, na comparação com novembro de 2022. Empatado com Goiás (+0,1%), o Estado escalou da 17ª para a sétima posição do ranking. O melhor números veio de Rondônia (+3,3%) e o pior, do Distrito Federal (-8%). Com o decréscimo ante dezembro de 2021, o varejo local subiu do 22º para o 16º lugar, empatando com o Pará (-0,1%), em uma lista liderada pela Paraíba (+22,6%) e encerrada pelo Rio de Janeiro (-6,2%). O Amazonas conseguiu se manter na 12ª posição no ranking do acumulado do ano, com Paraíba (+13,9%) e Pernambuco (-4,1%) protagonizando os extremos.

Receita e crédito

Em sintonia com o fim do bônus dos incentivos federais ao consumo, o comércio amazonense manteve descolamento das vendas em relação a sua receita nominal – que não leva em conta a inflação do período. Ainda assim, os resultados também foram pífios nessa medida. A variação mensal (+1,4%) seguiu sentido contrário ao resultado de novembro de 2022 (-1,8%). Os comparativos anuais de dezembro de 2021 (+5,6%) e do aglutinado dos 12 meses (+8,3%) foram mais generosos. O Estado perdeu para a média nacional (-0,3%, +10,2%, +14,1%, na ordem) em quase todas as comparações.

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas os segmentos de veículos e material de construção apresentaram saldo positivo nas vendas do mês, ao levar o varejo ampliado para uma alta mensal de 0,7% – e maior do que a de novembro (+0,1%). Em sintonia com um ambiente de taxas de juros e endividamento mais altos, entretanto, a comparação com dezembro de 2021 queda de 2,7%, enquanto o acumulado se manteve rigorosamente estável (0%).

O IBGE informa que a queda mensal de dezembro (-2,6%) foi a maior desde agosto de 2021, tendo sem disseminado em sete dos oito dos subsetores pesquisados, especialmente em tecidos, vestuário e calçados (-6,1%), mas também em artigos de uso pessoal e doméstico (-2,9%), combustíveis e lubrificantes (-1,6%), móveis e eletrodomésticos (-1,6%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,8%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-0,6%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,4%). 

O único desempenho positivo do varejo brasileiro, na comparação com novembro de 2022, veio do segmento de livros, jornais, revistas e papelaria, que mostrou estagnação (+0,1%), graças a uma base de comparação fraca. Em 12 meses, cinco das dez atividades – incluindo as do varejo ampliado – conseguiram crescer, com destaques positivos principalmente para as divisões de combustíveis e lubrificantes (+16,6%) e de livros, jornais, revistas e papelaria (+14,8%). Em contrapartida, as vendas de material de construção despencaram 8,7%, sendo acompanhadas por artigos de uso pessoal e doméstico (-8,4%), entre outros.

“Mesmas dificuldades”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, enfatizou à reportagem do Jornal do Commercio que os resultados da PMC de dezembro mostraram estabilidade nas vendas do comércio varejista amazonense e um encerramento de ano significativamente melhor do que o de 2021 (-1,2%), além de corresponder a mais do que o dobro da taxa da média brasileira do setor. “O comércio ampliado teve pequeno crescimento, mas ficou estável no desempenho anual. Mostrando que materiais de construção, veículos e peças não tiveram boas vendas em 2022”, acrescentou.

O pesquisador observa ainda que outros dados da sondagem sinalizam uma possível melhora de desempenho para o setor nos próximos meses, apesar da resiliência de grande parte dos entraves do ano passado neste começo de 2023. “No todo, a performance do varejo local foi boa em 2022, principalmente quando comparada com outras praças do país. O comércio começa o ano com uma média móvel de vendas positiva. No entanto, a atividade deverá enfrentar as mesmas dificuldades do ano passados: inflação, taxa de desocupação alta, juros elevados e queda do poder de compra do consumidor”, ponderou.

“Ano difícil”

O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, lembra que 2022 foi um “ano difícil”, marcado por “duas crises externas” e pela necessidade de conter a escalada da inflação, com juros mais altos e seus efeitos negativos no endividamento e negativação da maioria dos consumidores. O dirigente observa ainda que as dificuldades que impuseram limites à demanda foram acrescidas a outras que limitaram as condições da oferta.

“Tivemos um Natal com o consumidor sem acesso a crédito e sofrendo com o aumento dos juros bancários, que triplicou todas as dívidas. E nossa cabotagem está vivendo um momento difícil, com menos de 60% de sua capacidade de carga e fretes mais caros. Levando em consideração esses aspectos, crescer 2,2% já é considerável, ainda mais quando comparado ao de outros Estados. Temos motivos para festejar nosso fôlego, nossa renovação e nossa capacidade de continuar atendendo a população do Estado”, avaliou.

Já o presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Amazonas), Ezra Azury, disse que os números do IBGE não surpreendem o setor. “Acreditávamos em um desempenho pequeno para dezembro, porque o poder aquisitivo do consumidor não está conseguindo acompanhar a inflação. O clima político ruim também atrapalhou. Quanto às perspectivas, a manutenção do Auxílio Brasil ajuda no consumo, mas o aumento da alíquota modal do ICMS vai ser incorporado aos preços e vai tirar poder de compra. Esperamos que o governador se sensibilize”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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