Um esporte genuinamente amazonense está ganhando corpo em municípios do outro lado da ponte Rio Negro, o velocasq, competição praticada com as casquetas, pequenas embarcações que voam sobre as águas podendo atingir mais de 100 km/h. O mais interessante é que os competidores, os velocasquistas, não são atletas formados em academias ou escolas, mas os ribeirinhos moradores de comunidades na beira dos rios de municípios como Manacapuru, Iranduba, Autazes, Careiro, Careiro da Várzea, Caapiranga e Manaquiri.
Falando em Manaquiri, a cidade partiu na frente no quesito organização de competições. Torneios existem já há alguns anos, nas comunidades dos municípios listados, reunindo apenas os moradores locais, mas em Manaquiri, desde o ano passado, o secretário de Indústria e Comércio, Serviços e Turismo, Eduardo Santos, resolveu organizar um grande torneio, o Velocasq Manaquiri Anazildo Roque, e convidou os velocasquistas de toda a região. De olho na boa premiação em dinheiro, os competidores vieram em peso, alguns, como a equipe de Manacapuru, já pilotando suas casquetas numa viagem de cerca de uma hora. Após a competição, que dura um dia inteiro, com várias baterias, eles fazem a viagem de volta na escuridão da noite. A equipe de Autazes chega por terra, num micro-ônibus e outros veículos trazendo torcida organizada e uniformizada. Tem se mostrado os mais animados nas duas edições da Velocasq Manaquiri, soltando foguetes a cada conquista de seus competidores. Este ano levaram um primeiro lugar e quatro segundos, um destes no motor Mega 15 HP, a categoria mais veloz.
“A realização dos dois eventos teve aspectos positivos como o entretenimento para a população e para os amantes das competições, e o fomento da economia e do turismo com pessoas de outros municípios que vêm conhecer Manaquiri. Este ano tivemos dois patrocinadores, então a tendência da Velocasq Manaquiri é crescer a cada nova edição”, falou Eduardo.
Nesta segunda edição do Velocasq Manaquiri o grande campeão foi Davi de Almeida Feitosa. O rapaz embolsou R$ 1.800, após vencer quatro baterias na categoria motor Mega 15 HP.
Esporte perigoso
“Nasci em Manaus, mas me criei na comunidade do Cinturão Verde, lago do Janauacá Grande, município do Careiro. Desde os 17 anos comecei a me interessar em ‘mexer’ nos motores das casquetas e quem me ensinou a ‘envenenar’ o motor e melhorar a palheta foi o meu amigo Mazinho, morador da comunidade”, revelou.
Apesar da curiosidade de adolescente, somente no ano passado, então com 21 anos, foi quando Davi pilotou uma casqueta pela primeira vez. É comum garotos de 12, 13 anos pilotarem casquetas, mas só podem participar das competições a partir dos 15, e com autorização dos responsáveis.
“É um esporte perigoso porque a casqueta alcança grande velocidade. Se não souber controlá-la diante de uma ventania ou de um banzeiro, ela pode virar”, alertou.
Davi contou que uma das categorias do Velocasq Manaquiri é a Força Livre, quando o competidor pode ‘envenenar’ o motor, mas na categoria ganha por ele é obrigatório manter o padrão de fábrica.
“Um dos segredos para vencer é ter um bom motor, porém o principal é saber melhorar a palheta. É um segredo que ninguém compartilha e você precisa aprender sozinho ou ter um grande amigo que lhe ensine. Depois é testar o tempo todo, igual um carro de corrida, até aprimorar a velocidade. Para o Velocasq Manaquiri fizemos testes uma semana antes”, disse.
As casquetas, com no máximo três metros de comprimento, podem ser de madeira, ou de alumínio, mandadas fabricar pelos próprios competidores.
“Eu prefiro as de alumínio, porque elas pulam sobre o banzeiro, diferente das de madeira, que não conseguem pular, então, se não souber controlar após bater no banzeiro, ela vira. Até o lugar onde sentamos influencia na velocidade da casqueta”, ensinou.
Paciência de mexer
Os velocasquistas levam tão a sério as competições, que se preparam, também, fisicamente. Davi estava pesando 84 quilos e fez regime reduzindo para 80 quilos na Velocasq Manaquiri. Esta é apenas a quarta competição que ele participa.
“Ano passado ganhei um torneio no Araçá. Este ano, em 27 de maio, fui terceiro, em outro torneio, no Araçá e, em 18 de junho, novamente terceiro, no Janauacá. Para o Velocasq Manaquiri, durante as baterias, observei o desempenho dos outros competidores e preparei minha estratégia. Deu certo. Ganhei”, informou.
Além do preparo, vale também a confiança.
“A casqueta que corri é de um amigo. Ele me emprestou, mas disse que ela não tinha desempenho. Só de olhar eu vi que era boa. Tenho paciência de mexer. Trabalhei o casco, passei cera. A casqueta ficou no jeito”, detalhou.
Na sexta-feira (30/6), Davi completou 22 anos. Ele trabalha plantando roça, fazendo goma e farinha, ou realizando qualquer serviço que apareça nas fazendas da região. Quando os torneios se aproximam, vira um competidor.
“No dia 27 de agosto vai ter mais um torneio, no Janauacá, e eu estarei lá. Espero que estes torneios cresçam cada vez mais e a velocasq comece a receber apoio e patrocínio de prefeituras e empresas para nos ajudar a bancar os custos”, finalizou.
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